Dívida tira nova classe média de aviões
O ritmo lento da atividade econômica brasileira é apontado por analistas como o principal fator para a queda no número de passageiros nos aeroportos no primeiro semestre
Da Redação
Publicado em 5 de agosto de 2013 às 08h21.
Brasília - É sintomático: se a economia não decola, as pessoas também não. O ritmo lento da atividade econômica brasileira é apontado por analistas ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, incluindo fontes do governo que acompanham o setor, como o principal fator para a queda no número de passageiros nos aeroportos no primeiro semestre.
O desempenho cambaleante da economia levou as pessoas a voar menos, tanto a turismo como a negócios. O nível recorde de endividamento das famílias também comprometeu a renda destinada a produtos e serviços que não são considerados essenciais.
"As pessoas pensam: ou vejo meus parentes de avião ou troco a geladeira. Não há mais renda disponível para as duas coisas", diz uma fonte do governo que prefere o anonimato. Segundo ela, a classe média teve o "gostinho" de voar pela primeira vez, mas sentiu o baque do aumento dos reajustes dos preços das passagens feitos pelas companhias para compensar os altos custos do setor com o encarecimento do dólar.
Adalberto Febeliano, da Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear), explica que a expansão do setor aéreo deriva de outras atividades econômicas. Em média, o faturamento das companhias aéreas cresce o dobro do Produto Interno Bruto (PIB).
Há exceções, como no ano passado, quando a economia expandiu quase 1% e as companhias aéreas tiveram crescimento de 6%. "Com o desempenho atual da economia, é de se esperar que o transporte aéreo não cresça quase nada", afirma.
Grandes eventos
O consultor técnico da associação ainda disse que eventos como a Copa das Confederações, em junho, acabam tendo um impacto negativo, pois o efeito líquido total é de queda de passageiros como consequência do recuo do turismo de negócios.
Ele acredita que o desempenho das companhias no restante deste ano depende do nível da economia como um todo no segundo semestre. As empresas, diz Febeliano, estão trabalhando para "enxugar" ao máximo os custos e equalizar os choques.
Para o economista Felipe Souza, que analisa o setor pela consultoria Lafis, a margem de lucro das empresas ficou estreita depois da redução agressiva das passagens para atrair a classe média.
"Como as empresas não conseguem subir o preço das passagens da forma como gostariam, para não perder mais clientes, tentam, de toda a forma, reduzir os custos operacionais", avalia. Segundo ele, há uma adaptação, exigida pelo momento econômico atual, que ainda não impactou planos de longo prazo, como compra de novas aeronaves.
Novos tempos
Entre as medidas de reestruturação das empresas, a TAM anunciou na semana passada que dará licença a mais de 800 pilotos e comissários de bordo. Outra mudança se deu na prestação de serviços durante os voos.
Os brasileiros começaram a perceber que quando compram uma passagem estão fazendo um contrato com a empresa apenas para ir de um lugar a outro. Todos os outros tipos de serviços, antes em uma espécie de combo, agora são cobrados à parte, incluindo alimentação, escolha de assentos e excesso de bagagem.
A CVC, maior agência de viagem do País, diz se preparar para qualquer tipo de elevação de preços, pois o encarecimento das passagens costuma atrapalhar os planos dos turistas. A operadora, que conta com mais de 8 mil agências espalhadas pelo Brasil, começará a fazer roteiros rodoviários partindo do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte. Hoje, os roteiros terrestres se restringem ao eixo São Paulo-Capital para o interior.
Para o Rock in Rio, em setembro, a operadora prepara uma operação de viagens "bate-volta", partindo de 14 cidades de São Paulo, Bahia e Paraná para o Rio. Em todos os casos, o cliente vai poder escolher se quer ir de ônibus ou de avião.
Economia
A assistente social Roseane de Moraes viajou de Curitiba a Brasília de avião, mas esperava o ônibus para Seabra (BA) para, em seguida, partir para Lençóis (BA). Em vez de uma hora de voo, demoraria 14 horas na estrada.
O esforço é compensado pela economia de R$ 863, diferença entre as passagens de ônibus e avião. Para voltar, Roseane vai de ônibus de Lençóis para Salvador, de onde voa até São Paulo, para depois finalizar o percurso de ônibus até Curitiba.
O dinheiro economizado servirá para custear a hospedagem, a alimentação e os passeios dos dez dias em que vai ficar de férias na Chapada Diamantina.
Brasília - É sintomático: se a economia não decola, as pessoas também não. O ritmo lento da atividade econômica brasileira é apontado por analistas ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, incluindo fontes do governo que acompanham o setor, como o principal fator para a queda no número de passageiros nos aeroportos no primeiro semestre.
O desempenho cambaleante da economia levou as pessoas a voar menos, tanto a turismo como a negócios. O nível recorde de endividamento das famílias também comprometeu a renda destinada a produtos e serviços que não são considerados essenciais.
"As pessoas pensam: ou vejo meus parentes de avião ou troco a geladeira. Não há mais renda disponível para as duas coisas", diz uma fonte do governo que prefere o anonimato. Segundo ela, a classe média teve o "gostinho" de voar pela primeira vez, mas sentiu o baque do aumento dos reajustes dos preços das passagens feitos pelas companhias para compensar os altos custos do setor com o encarecimento do dólar.
Adalberto Febeliano, da Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear), explica que a expansão do setor aéreo deriva de outras atividades econômicas. Em média, o faturamento das companhias aéreas cresce o dobro do Produto Interno Bruto (PIB).
Há exceções, como no ano passado, quando a economia expandiu quase 1% e as companhias aéreas tiveram crescimento de 6%. "Com o desempenho atual da economia, é de se esperar que o transporte aéreo não cresça quase nada", afirma.
Grandes eventos
O consultor técnico da associação ainda disse que eventos como a Copa das Confederações, em junho, acabam tendo um impacto negativo, pois o efeito líquido total é de queda de passageiros como consequência do recuo do turismo de negócios.
Ele acredita que o desempenho das companhias no restante deste ano depende do nível da economia como um todo no segundo semestre. As empresas, diz Febeliano, estão trabalhando para "enxugar" ao máximo os custos e equalizar os choques.
Para o economista Felipe Souza, que analisa o setor pela consultoria Lafis, a margem de lucro das empresas ficou estreita depois da redução agressiva das passagens para atrair a classe média.
"Como as empresas não conseguem subir o preço das passagens da forma como gostariam, para não perder mais clientes, tentam, de toda a forma, reduzir os custos operacionais", avalia. Segundo ele, há uma adaptação, exigida pelo momento econômico atual, que ainda não impactou planos de longo prazo, como compra de novas aeronaves.
Novos tempos
Entre as medidas de reestruturação das empresas, a TAM anunciou na semana passada que dará licença a mais de 800 pilotos e comissários de bordo. Outra mudança se deu na prestação de serviços durante os voos.
Os brasileiros começaram a perceber que quando compram uma passagem estão fazendo um contrato com a empresa apenas para ir de um lugar a outro. Todos os outros tipos de serviços, antes em uma espécie de combo, agora são cobrados à parte, incluindo alimentação, escolha de assentos e excesso de bagagem.
A CVC, maior agência de viagem do País, diz se preparar para qualquer tipo de elevação de preços, pois o encarecimento das passagens costuma atrapalhar os planos dos turistas. A operadora, que conta com mais de 8 mil agências espalhadas pelo Brasil, começará a fazer roteiros rodoviários partindo do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte. Hoje, os roteiros terrestres se restringem ao eixo São Paulo-Capital para o interior.
Para o Rock in Rio, em setembro, a operadora prepara uma operação de viagens "bate-volta", partindo de 14 cidades de São Paulo, Bahia e Paraná para o Rio. Em todos os casos, o cliente vai poder escolher se quer ir de ônibus ou de avião.
Economia
A assistente social Roseane de Moraes viajou de Curitiba a Brasília de avião, mas esperava o ônibus para Seabra (BA) para, em seguida, partir para Lençóis (BA). Em vez de uma hora de voo, demoraria 14 horas na estrada.
O esforço é compensado pela economia de R$ 863, diferença entre as passagens de ônibus e avião. Para voltar, Roseane vai de ônibus de Lençóis para Salvador, de onde voa até São Paulo, para depois finalizar o percurso de ônibus até Curitiba.
O dinheiro economizado servirá para custear a hospedagem, a alimentação e os passeios dos dez dias em que vai ficar de férias na Chapada Diamantina.