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Desaparecimento da classe média russa atrapalha banco central

A autoridade monetária alertou que sua capacidade de influenciar a inflação está ameaçada pelo aumento das desigualdades

Desigualdade: “A queda da classe média é ruim para o controle da inflação porque os riscos oriundos da política fiscal são maiores” (Andrey Rudakov/Bloomberg)

Luísa Granato

Publicado em 19 de outubro de 2016 às 18h32.

Moscou - O banco central da Rússia descobriu outra desvantagem do encolhimento da classe média do país.

A autoridade monetária alertou que sua capacidade de influenciar a inflação está ameaçada pelo aumento das desigualdades e pelo desaparecimento de famílias de classe média, que são as mais sensíveis a variações nos preços e taxas de juros.

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Os lucros das empresas e a demanda doméstica estão piorando em ritmo nunca visto sob o comando do presidente Vladimir Putin.

O consumo vem sendo espremido porque os salários não acompanham o aumento do custo de vida.

Ao todo, 14 milhões de russos deixaram a classe média desde o início do desaquecimento econômico há dois anos, de acordo com a última pesquisa com consumidores feita pelo Sberbank CIB.

A derrocada de uma classe que dobrou de tamanho durante o governo Putin e alcançou prosperidade durante a fase de alta de preços do petróleo representa um revés histórico.

Muitas dessas pessoas agora dependem de programas governamentais e se tornaram mais vulneráveis a mudanças na política fiscal.

“A queda da classe média é ruim para o controle da inflação porque os riscos oriundos da política fiscal são maiores”, disse Oleg Kouzmin, que já atuou como assessor do banco central e agora é economista-chefe para a Rússia da Renaissance Capital, em Moscou.

“A demanda ficará mais sensível a decisões orçamentárias”, dado que qualquer assistência terá efeito imediato ao afetar os gastos das famílias mais pobres, ele explicou.

O alargamento da distância entre ricos e pobres prejudica o consumo e o Fundo Monetário Internacional entende que evitar o desaparecimento da classe média beneficia o crescimento econômico.

Porém, o impacto da polarização da renda sobre a política monetária é menos óbvio.

O aprofundamento das desigualdades sociais abala a elasticidade-preço da demanda e complica a tarefa de controlar a inflação, segundo o banco central.

Famílias mais pobres, geralmente sem economias e com pouco acesso a empréstimos, gastam quase todo o dinheiro para suprir necessidades básicas e raramente reagem a variações nas taxas de juros.

Já as famílias mais abastadas não respondem porque itens básicos consomem uma parcela ínfima da renda delas.

“Famílias de classe média são as mais sensíveis a variações nos juros e preços ao consumidor, o que, por sua vez, incentiva produtores a se ajustarem a variações na demanda”, afirmou o banco central no esboço das diretrizes para 2017-2019.

“Uma política econômica que promova distribuição mais igual da renda na sociedade não só criará condições para o desenvolvimento equilibrado e a estabilidade social, mas também aumentará a eficácia dos sinais da política monetária.”

Perspectiva de inflação

Já são muitos os riscos enfrentados pelo banco central. Sua credibilidade é questionada porque o aumento de preços superou as previsões pelo quarto ano seguido em 2015.

Temendo não cumprir a meta de inflação de 4 por cento no fim de 2017, as autoridades prometeram manter os juros inalterados pelo resto do ano, após dois cortes em 2016 que levaram a taxa básica a 10 por cento.

O mercado de derivativos continua refletindo apostas em corte dos juros nos próximos três meses.

Putin trouxe uma era de bonança antes do colapso dos preços do petróleo e da erupção do conflito com a Ucrânia em 2014, deflagrando a pior crise cambial do país desde a moratória em 1998.

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