Defensores de Davos tentam mostrar que 2014 não é 1914
A crise financeira de 2008 levantou questionamentos sobre se a globalização era uma ameaça ou um benefício, enquanto o Fórum tenta dissolver essas dúvidas
Da Redação
Publicado em 16 de janeiro de 2014 às 12h34.
Nova York e Londres - Davos , o lar espiritual da globalização, está tendo que defender sua visão.
Enquanto o resort suíço de esqui se prepara para receber a próxima reunião dos tomadores de decisões entre 22 e 25 de janeiro, a crença inabalável do Fórum Econômico Mundial, de que “melhorar o estado do mundo” é compatível com uma maior integração, tomou uma surra.
A crise financeira que surgiu em 2008 levantou questionamentos sobre se a globalização era mais uma ameaça que um benefício, reporta a Bloomberg Businessweek em sua edição de 20 de janeiro.
Mesmo após o recuo da recessão, seus estragos são visíveis e os países estão mais inclinados a proteger o comércio e seus mercados financeiros do que a se tornarem vulneráveis novamente.
Charles Collyns, ex-assistente da Secretaria do Tesouro dos EUA para finanças internacionais, diz, sem rodeios, que “a globalização estagnou”.
“Estamos caminhando em direção a um sistema que no papel é aberto, mas que sob a superfície está cada vez mais distorcido por todos os tipos de subsídios e disposições para compras locais”, disse Simon Evenett, professor de comércio internacional da Universidade de St. Gallen, na Suíça.
Antes da crise, o comércio global crescia duas vezes mais rapidamente que a produção econômica, disse Bhanu Baweja, que dirige a estratégia de ativos cruzados em países emergentes da UBS AG em Londres.
Comércio em queda
O comércio caiu durante a crise e somente agora está recuperando a força. Os fluxos de capital entre países representam 60 por cento do que eram, segundo o McKinsey Global Institute. Esse não é o tipo de estatística que os organizadores do fórum divulgarão.
“Em Davos, as pessoas olham para frente, não para trás”, disse Robert Greenhill, ex-executivo e consultor do Canadá que é, agora, diretor de negócios do fórum.
Contudo, as tensões de um mundo mais amplo deverão encontrar seu caminho nas salas de reunião do fórum, com “A reformulação da globalização” entre os painéis do dia de abertura.
Joachim Fels, economista-chefe internacional do Morgan Stanley, alertou que 2014 pode ser uma repetição de 1914, que trouxe um fim abrupto à primeira era dourada da globalização.
“Eu me preocupo com uma tendência encoberta em direção a uma desglobalização da atividade econômica e dos fluxos de capital”, escreveu Fels em um relatório, no ano passado, a clientes.
Atrito global
A conversa sobre guerra cambial está no ar, enquanto China e Japão se provocam mutuamente no Mar da China Oriental. Nos EUA, o comércio está assumindo parte da culpa pelo assunto mais quente do ano: desigualdade.
Países emergentes como Brasil e Turquia desfaleceram devido aos planos do Federal Reserve de reduzir as aquisições de bônus. Os bancos dizem que as reguladoras estão fragmentando as finanças ao exigir que cada afiliado local que possuir capital o mantenha por conta própria.
A visão de Davos, contudo, é que nem tudo está perdido. As negociações de comércio são a tendência contrária mais importante.
Com pouca atenção dos manifestantes, os negociadores estão fazendo progresso com a Parceria Transpacífico de um lado do mundo e a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento no outro, além de um nascente tratado de investimento EUA-China.
“Eu acredito que 2013 foi o ano mais positivo para a política de comércio dos EUA em pelo menos 20 anos e talvez até mesmo em todo o período pós-guerra”, disse Fred Bergsten, fundador e membro sênior do Peterson Institute for International Economics.
De um modo geral, a globalização valeu muito apenas para o mundo em desenvolvimento, ajudando a tirar centenas de milhões de chineses, indianos e outros da pobreza.
Se a prosperidade aumentar a receptividade dos países para um maior comércio de bens e serviços, isso é positivo, disse o ex-presidente mexicano Ernesto Zedillo, frequentador de Davos e diretor do Centro para o Estudo da Globalização de Yale.
É ruim, disse ele, se isso levar a uma “complacência” a respeito da necessidade de regular orçamentos e atacar as causas primárias da crise financeira. Os grandes pensadores que forem à Suíça estarão tentando, uma vez mais, ficar com o bom da globalização, não com a parte ruim.
Nova York e Londres - Davos , o lar espiritual da globalização, está tendo que defender sua visão.
Enquanto o resort suíço de esqui se prepara para receber a próxima reunião dos tomadores de decisões entre 22 e 25 de janeiro, a crença inabalável do Fórum Econômico Mundial, de que “melhorar o estado do mundo” é compatível com uma maior integração, tomou uma surra.
A crise financeira que surgiu em 2008 levantou questionamentos sobre se a globalização era mais uma ameaça que um benefício, reporta a Bloomberg Businessweek em sua edição de 20 de janeiro.
Mesmo após o recuo da recessão, seus estragos são visíveis e os países estão mais inclinados a proteger o comércio e seus mercados financeiros do que a se tornarem vulneráveis novamente.
Charles Collyns, ex-assistente da Secretaria do Tesouro dos EUA para finanças internacionais, diz, sem rodeios, que “a globalização estagnou”.
“Estamos caminhando em direção a um sistema que no papel é aberto, mas que sob a superfície está cada vez mais distorcido por todos os tipos de subsídios e disposições para compras locais”, disse Simon Evenett, professor de comércio internacional da Universidade de St. Gallen, na Suíça.
Antes da crise, o comércio global crescia duas vezes mais rapidamente que a produção econômica, disse Bhanu Baweja, que dirige a estratégia de ativos cruzados em países emergentes da UBS AG em Londres.
Comércio em queda
O comércio caiu durante a crise e somente agora está recuperando a força. Os fluxos de capital entre países representam 60 por cento do que eram, segundo o McKinsey Global Institute. Esse não é o tipo de estatística que os organizadores do fórum divulgarão.
“Em Davos, as pessoas olham para frente, não para trás”, disse Robert Greenhill, ex-executivo e consultor do Canadá que é, agora, diretor de negócios do fórum.
Contudo, as tensões de um mundo mais amplo deverão encontrar seu caminho nas salas de reunião do fórum, com “A reformulação da globalização” entre os painéis do dia de abertura.
Joachim Fels, economista-chefe internacional do Morgan Stanley, alertou que 2014 pode ser uma repetição de 1914, que trouxe um fim abrupto à primeira era dourada da globalização.
“Eu me preocupo com uma tendência encoberta em direção a uma desglobalização da atividade econômica e dos fluxos de capital”, escreveu Fels em um relatório, no ano passado, a clientes.
Atrito global
A conversa sobre guerra cambial está no ar, enquanto China e Japão se provocam mutuamente no Mar da China Oriental. Nos EUA, o comércio está assumindo parte da culpa pelo assunto mais quente do ano: desigualdade.
Países emergentes como Brasil e Turquia desfaleceram devido aos planos do Federal Reserve de reduzir as aquisições de bônus. Os bancos dizem que as reguladoras estão fragmentando as finanças ao exigir que cada afiliado local que possuir capital o mantenha por conta própria.
A visão de Davos, contudo, é que nem tudo está perdido. As negociações de comércio são a tendência contrária mais importante.
Com pouca atenção dos manifestantes, os negociadores estão fazendo progresso com a Parceria Transpacífico de um lado do mundo e a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento no outro, além de um nascente tratado de investimento EUA-China.
“Eu acredito que 2013 foi o ano mais positivo para a política de comércio dos EUA em pelo menos 20 anos e talvez até mesmo em todo o período pós-guerra”, disse Fred Bergsten, fundador e membro sênior do Peterson Institute for International Economics.
De um modo geral, a globalização valeu muito apenas para o mundo em desenvolvimento, ajudando a tirar centenas de milhões de chineses, indianos e outros da pobreza.
Se a prosperidade aumentar a receptividade dos países para um maior comércio de bens e serviços, isso é positivo, disse o ex-presidente mexicano Ernesto Zedillo, frequentador de Davos e diretor do Centro para o Estudo da Globalização de Yale.
É ruim, disse ele, se isso levar a uma “complacência” a respeito da necessidade de regular orçamentos e atacar as causas primárias da crise financeira. Os grandes pensadores que forem à Suíça estarão tentando, uma vez mais, ficar com o bom da globalização, não com a parte ruim.