Economia

Daniel Kahneman, psicólogo que criou a teoria da economia comportamental, morre aos 90 anos

Kahneman isolou os vieses que distorcem a tomada de decisões. Entre eles estão a aversão à perda e a forma como a pergunta é formulada pode afetar a resposta

Kahneman isolou os vieses que distorcem a tomada de decisões. Entre eles estão a aversão à perda e a forma como a pergunta é formulada pode afetar a resposta (	Lior Mizrahi /Getty Images)

Kahneman isolou os vieses que distorcem a tomada de decisões. Entre eles estão a aversão à perda e a forma como a pergunta é formulada pode afetar a resposta ( Lior Mizrahi /Getty Images)

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Publicado em 27 de março de 2024 às 16h29.

Última atualização em 27 de março de 2024 às 16h41.

Daniel Kahneman, considerado o pai da economia comportamental, morreu na quarta-feira aos 90 anos. A informação foi divulgada pelo jornal Washington Post, citando a enteada Deborah Treisman, editora de ficção da New Yorker. A causa da morte não foi divulgada.

Kahneman derrubou as suposições sobre racionalidade que dominaram a economia durante décadas, o que lhe valeu o Nobel de Ciências Econômicas em 2002. Ele conseguiu mostrar a lógica por trás de vários comportamentos intrigantes — por que as pessoas se recusam a vender ações que perderam valor, ou por que dirigem até uma loja distante para economizar dinheiro em um item pequeno, mas não para fazer a mesma economia em um item caro.

Kahneman foi "o psicólogo vivo mais influente do mundo", disse Steven Pinker, professor da Universidade Harvard, ao The Guardian em 2014. "Seu trabalho é realmente monumental na história do pensamento."

Trabalhando com o psicólogo Amos Tversky, Kahneman isolou os vieses que distorcem a tomada de decisões. Entre eles estão a aversão à perda e a forma como a pergunta é formulada pode afetar a resposta. Por exemplo, se um programa de saúde salvará 200 vidas e resultará em 400 mortes, sua aceitação pode depender do fato de seus proponentes destacarem as vidas salvas ou as vidas perdidas.

Kahneman disse que o cérebro reage rapidamente e com base em informações incompletas, muitas vezes com resultados infelizes. "As pessoas são projetadas para contar a melhor história possível", disse ele em uma entrevista de 2012 à American Psychological Association. "Não passamos muito tempo dizendo: 'Bem, há muita coisa que não sabemos'. Nós nos contentamos com o que sabemos."

Sob a rubrica "teoria da perspectiva", Kahneman e Tversky provocaram uma revolução na psicologia e depois na economia, que raramente era considerada uma ciência experimental. O campo da economia comportamental surgiu no final do século 20, quando um grupo de jovens economistas usou suas percepções para desafiar as noções clássicas do homo economicus, o ator racional.

'Campo minado cognitivo'

Em 2011, Kahneman publicou o best-seller Thinking, Fast and Slow, encontrando um grande público para suas ideias. O estudo apresentou uma visão abrangente da mente como contendo dois sistemas, um rápido e intuitivo e outro lento e mais racional. Ele oferecia conselhos para a tomada de melhores decisões, começando com: "Reconheça os sinais de que você está em um campo minado cognitivo".

Daniel Kahneman nasceu em 5 de março de 1934, em Tel Aviv, onde sua mãe estava visitando parentes. A família morava na França, tendo emigrado da Lituânia para lá. Seu pai, um químico judeu, foi preso por causa de sua religião durante a Segunda Guerra Mundial e depois libertado. Após a guerra, a família se mudou para a Palestina.

Kahneman se formou em psicologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém em 1954. Mais tarde, naquele ano, ingressou nas Forças de Defesa de Israel, onde foi designado para o setor de psicologia e encarregado de avaliar os recrutas. O sistema que ele desenvolveu foi usado durante décadas, conforme escreveu em sua autobiografia para o Prêmio Nobel.

Ele recebeu um Ph.D. da Universidade da Califórnia em Berkeley em 1961 e retornou à Universidade Hebraica para lecionar no departamento de psicologia. Em 1969, conheceu Tversky, que se tornou seu colaborador por mais de uma década em seu trabalho ganhador do Prêmio Nobel.

"Amos e eu compartilhamos a maravilha de possuirmos juntos uma gansa que poderia botar ovos de ouro — uma mente conjunta que era melhor do que nossas mentes separadas", escreveu Kahneman. "Provavelmente compartilhei mais da metade das risadas da minha vida com Amos."

Jogo do Ultimato

A colaboração entre eles gerou artigos, livros e experimentos inovadores, como o jogo do ultimato, no qual uma pessoa recebe dinheiro com a condição de dividi-lo com uma segunda pessoa. Normalmente, a segunda pessoa não aceita menos do que 20% ou 30% de sua parte, mesmo que seja racional aceitar qualquer quantia.

A estreita parceria entre Kahneman e Tversky tornou-se mais conhecida com a publicação, em 2016, do livro The Undoing Project, de Michael Lewis.

Kahneman trabalhou na University of British Columbia, em Vancouver, e em Berkeley. Em 1993, mudou-se para a Universidade de Princeton, em Nova Jersey, onde foi professor de psicologia e também lecionou na Woodrow Wilson School of Public and International Affairs.

Nos últimos anos, ele estudou a felicidade — mais tecnicamente, hedônica: coisas que tornam as experiências agradáveis ou desagradáveis, e como medir isso. Uma descoberta notável foi que as pessoas ricas raramente eram mais felizes do que aquelas com renda mais baixa, desafiando a ideia de que o dinheiro compra felicidade.

Kahneman dividiu o Prêmio Nobel de 2002 com Vernon Smith, outro economista experimental. Ele deixa dois filhos, Michael e Lenore.

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