Economia

Custo das reservas cambiais será de US$ 20 bi este ano

Manutenção das reservas em 2011 custou US$ 25,7 bilhões; o montante total das reservas cambiais saiu de US$ 37 bilhões em janeiro de 2003 para os atuais US$ 377 bilhões

Homem contando dólares (Getty Images)

Homem contando dólares (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 25 de novembro de 2012 às 08h54.

São Paulo - A queda da taxa básica de juros (Selic) para os níveis mais baixos da história reduziu o custo de manutenção das reservas cambiais brasileiras. Ainda assim, a despesa do governo com esse colchão - considerado por muitos um seguro anticrise - pagaria dois programas Bolsa-Família (R$ 20 bilhões neste ano) e equivale a mais da metade do superávit primário previsto para 2012 (R$ 71 bilhões).

Um relatório do Departamento Econômico do Bradesco, que será divulgado a clientes nesta semana, estima que a manutenção das reservas de quase US$ 380 bilhões custará ao Brasil cerca de US$ 20 bilhões este ano, ante US$ 25,7 bilhões em 2011. No cálculo que considera o custo em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), também há uma redução: de 1,04% para 0,87%. "A principal razão é a queda da taxa Selic", afirmou a economista responsável pelo levantamento, Andréa Damico.

Antes de seguir, é importante explicar por que o acúmulo e a manutenção de reservas cambiais custam tão caro. O Brasil não tem superávit fiscal nem em conta corrente. As despesas do governo superam as receitas, no que se traduz em um déficit fiscal. No lado externo da economia, as saídas de dólares superam as entradas, o que implica um déficit em conta corrente.

No primeiro caso, o governo cobre o buraco emitindo dívida. No segundo, a entrada de dinheiro externo na chamada conta de capitais cobre (e supera) o rombo formado pelo déficit comercial e na área de serviços (que inclui o pagamento de royalties e os lucros remetidos por empresas para matrizes estrangeiras).

Se a conta de capitais é superavitária, significa dizer que sobram dólares no mercado interno. O governo, nos últimos anos, vem comprando toda essa sobra. O primeiro objetivo, declarado, era justamente recompor as reservas, consideradas importantes para estabilizar a economia em momentos de crise.

O segundo objetivo, não admitido, é evitar a valorização do real em relação ao dólar. Na sexta-feira, por exemplo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o dólar não vai mais voltar para níveis inferiores a R$ 2,00.

O problema é que, sempre que compra dólares, o governo dá reais em troca. Se esses reais ficassem soltos no mercado, a superoferta de moeda levaria ao aumento da inflação. Por isso, o governo faz o que se chama de esterilização - a emissão de títulos públicos, que são 'dados' em troca dos reais. Mas, como o governo não tem superávit fiscal, as reservas acabam sendo um novo foco de endividamento.


Por essa dívida, o governo paga juros, atrelados, em grande parte, à Selic. Pelas reservas que acumula, o governo também é remunerado. Só que a maior parte do dinheiro está aplicada em títulos públicos dos EUA. Como a 'Selic americana' está entre 0 e 0,5% e a brasileira, em 7,25%, o custo de acumulação das reservas é dado fundamentalmente pela diferença entre as duas taxas.

Em outros países, não é assim. Na China, por exemplo, o governo ostenta superávit fiscal e em conta corrente. Os dólares que sobram são fruto, principalmente, do excesso de exportações sobre importações. E os yuans usados para comprá-los decorrem da sobra de receitas do governo sobre as despesas.

Polêmica. É em grande medida por causa dessa explicação que o acúmulo de reservas nos últimos anos tem provocado tanta polêmica. O montante total saiu de US$ 37 bilhões em janeiro de 2003 para os atuais US$ 377 bilhões. "As reservas ao redor de US$ 200 bilhões foram suficientes para que o Brasil aguentasse bem a pior crise mundial desde a Grande Depressão. De 2008 para cá, acumulamos mais US$ 170 bilhões. Para quê tudo isso?", indaga Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central.

Para ele, a resposta está ligada à intenção não oficialmente declarada do governo de enfraquecer o real para favorecer a competitividade da indústria. O dólar mais barato estimula as importações, que "comem" parte do mercado doméstico, e dificulta as exportações. "É importante mostrar para a sociedade que não há almoço grátis. A acumulação de reservas, que faz muita gente no governo se sentir o rei da cocada preta, custa."

Márcio Garcia, professor do Departamento de Economia da PUC-RJ, segue a mesma linha. "Essa discussão deve ser travada pela sociedade brasileira", disse. Para ele, o governo deveria dar mais transparência ao tamanho do custo de acumulação e manutenção das reservas - embora o Banco Central, em seus balancetes trimestrais, publique esses dados (ver ao lado). "Estamos falando de quase R$ 50 bilhões por ano. É um gasto importante."

Para Antonio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP, outra forma de medir o tamanho "ideal" das reservas é compará-la com o PIB. Nessa relação, o Brasil ocupa o sétimo lugar num levantamento com 13 nações. Com reservas de 15% do PIB, o Brasil está atrás de China (44%), Rússia (28%), Coreia do Sul (28%), Japão (22%) e Índia (17%), e empata com o Chile (15%).

Apesar disso, diz Lacerda, "a reserva ideal é a que protege minimamente o país durante uma crise que vem do exterior". "Por esse parâmetro, nos saímos muito bem em 2008." O problema central por traz dessa discussão, observa, é que "só sabemos se uma reserva é suficiente ou não quando aparece uma crise". As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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