Economia

CURITIBA - 1º Lugar

A Qualidade que faz diferença

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h13.

Quando transferiu sua sede de São Paulo para Curitiba, em fevereiro de 2000, a subsidiária brasileira da Kraft Foods, uma das maiores empresas de alimentos do mundo, convidou um grupo de funcionários a se mudar para lá. Para aumentar a chance de adesão, propôs a eles que previamente visitassem Curitiba com a família. Dos 132 funcionários convidados, 128 -- 97% -- se mudaram para o Paraná. A Kraft não precisou oferecer um pacote fabuloso de benefícios -- morar em Curitiba, uma referência nacional em planejamento urbano e em qualidade de vida, foi o principal chamariz. "Atrair talentos para uma cidade como Curitiba ficou fácil", diz o argentino Gustavo Abelenda, presidente da Kraft do Brasil. Em 2003, a empresa deve concluir a transferência de sua produção de chocolates e de bebidas em pó. Até lá, terá investido 125 milhões de dólares e gerado 3 500 empregos na capital paranaense.

Os atributos que cativaram os funcionários da Kraft -- o eficiente sistema de transporte público, os mais de 50 metros quadrados de área verde por habitante e a farta oferta de serviços de qualidade -- ajudam a explicar por que Curitiba conquistou, pelo terceiro ano consecutivo, o título de melhor cidade para fazer negócios no Brasil, segundo pesquisa da Simonsen Associados.

Curitiba está entre as cidades com os melhores indicadores sociais do país. A taxa de analfabetismo aproxima-se de zero -- menos de 1% da população. O índice de mortalidade infantil é metade da média brasileira. Com 1,6 milhão de habitantes, a capital paranaense se destaca também por seu potencial de consumo -- sozinha, representa 2% do total do país, ou 3 852 dólares per capita por ano. Cerca de 42% dos domicílios são das classes A e B, ante a média brasileira de 22,2%.

Apesar desses números, e como qualquer outra cidade no mundo, Curitiba tem seus problemas. Ainda há vários bolsões de pobreza -- 8% da população vive em 262 áreas de ocupação irregular. O aumento da criminalidade preocupa (entre 1999 e 2001, o número de mortes violentas cresceu 26,9%). Mas o alto padrão de vida e a nova leva de executivos de empresas de primeira linha vêm alimentando os negócios. Nos últimos três meses, o grupo Pão de Açúcar abriu três supermercados em bairros nobres, com um investimento médio de 6 milhões de reais por loja. As novas unidades privilegiam itens sofisticados, como comida pronta e semipronta. "O curitibano é cosmopolita e está acostumado a um elevado nível de serviços", diz José Roberto Tambasco, diretor do Pão de Açúcar. Concorrentes não faltam: a catarinense Angeloni e a paranaense Muffato inauguraram neste ano seus primeiros hipermercados na capital do Paraná. Os negócios estão em ebulição também no segmento de shopping centers. Curitiba tem 19 shoppings e vai ganhar mais dois até 2004, com investimentos que somam 240 milhões de reais.

Atenta à demanda gerada pela instalação de novas empresas, a AlphaVille Urbanismo investiu 60 milhões de reais para implantar um condomínio residencial de 2,5 milhões de metros quadrados em Pinhais, município na região metropolitana. Batizado de AlphaVille Graciosa, o empreendimento conta com um campo de golfe de 18 buracos, considerado o melhor do Brasil. Cerca de 85% dos 1 218 lotes foram vendidos em dois anos. Construir uma casa de 300 metros quadrados no local custa, no mínimo, 250 000 reais.

Além de entrar na mira de grandes empresas, Curitiba está atraindo cada vez mais turistas. Nos últimos cinco anos, ultrapassou Foz do Iguaçu e consolidou-se como a cidade mais visitada do Paraná, com 1,5 milhão de turistas em 2002. Hoje, o turismo representa 5% do PIB curitibano, estimado em 16,3 bilhões de reais em 2000. A meta é atingir 8% em dois anos. Só em 2002 a região metropolitana de Curitiba ganhou nove hotéis. Mais 20 estão previstos para os próximos dois anos. Em dezembro de 2003, a cidade receberá seu maior espaço de eventos, o Estação Convention Center, uma área de 23 000 metros quadrados dentro do Shopping Estação. O empreendimento, do grupo K&G, que controla a rede de cosméticos O Boticário, consumirá investimentos de 42 milhões de reais. A cidade também acaba de ganhar uma de suas maiores atrações: o NovoMuseu, complexo dedicado a artes plásticas, arquitetura e urbanismo projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. O que mais chama a atenção é o prédio anexo em forma de olho. Desafetos do governador Jaime Lerner criticam o custo da obra (14 milhões de dólares), executada a toque de caixa pelo estado e concluída em cinco meses. A controvérsia ajudou o museu a atrair 13 000 pessoas no primeiro fim de semana de funcionamento.

O turismo é uma das atividades que devem reforçar a economia de uma cidade ao redor da qual se concentram hoje grandes indústrias, como as montadoras Renault/Nissan e Volkswagen/Audi. Outra é a tecnologia. "Nossa vocação é a alta tecnologia", afirma o prefeito Cassio Taniguchi. Empresas com esse perfil já representam 23% da economia curitibana. A produção é puxada por grandes corporações, como a alemã Siemens, que fabrica em Curitiba equipamentos de telecomunicações -- um negócio que gerou um terço do faturamento da empresa no país no ano passado, de 3,5 bilhões de reais. "A massa crítica em tecnologia constitui importante vantagem competitiva para Curitiba", diz Francisco Höpker, diretor regional da Siemens. Um exemplo: em 1986 havia só um doutor em tecnologia da informação na região. Hoje são cerca de 200 doutores e mais de 400 mestres. "Investimos em pessoas para não perder o bonde da história", diz Ramiro Wahrhaftig, secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.

Da legião de profissionais formados em instituições como a Universidade Federal do Paraná está surgindo uma nova geração de empreendedores. É o caso do engenheiro eletrônico Marcel Malczewski, de 37 anos, presidente da Bematech, especializada em automação bancária e comercial. Criada há 12 anos, a Bematech fornece 70% das miniimpressoras que equipam os caixas nos pontos de varejo em todo o país. Tem 300 funcionários e deve faturar 70 milhões de reais neste ano. Abriu uma subsidiária em Atlanta, nos Estados Unidos, e está montando outra em Taiwan. "Viramos uma multinacional curitibana", diz Malczewski.

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