Desempenho do crédito está acima do que seria saudável para conter a demanda (Valter Campanato/ABr)
Da Redação
Publicado em 30 de maio de 2011 às 14h09.
Brasília - O crédito total do sistema financeiro no Brasil cresceu 1,3 por cento em abril, após alta de 1 por cento no mês anterior, quando os dados haviam sofrido influência sazonal de desaceleração, mostraram números do Banco Central nesta segunda-feira.
Apesar do repique, o BC afirmou que o crédito segue em moderação, com ritmo em linha com sua projeção de alta de 13 por cento para o ano. Analistas, no entanto, destacaram que o desempenho está acima do que seria saudável para conter a demanda em meio a um cenário inflacionário negativo.
Incluindo recursos livres e direcionados, o estoque de crédito chegou a 46,6 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), ou 1,776 trilhão de reais. Em 12 meses, a alta acumulada foi de 21 por cento, com crescimento de 4,1 por cento no primeiro quadrimestre de 2011.
Para o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, o arrefecimento dos financiamentos está associado aos impactos das medidas macroprudencias adotadas pelo governo desde dezembro e também ao ciclo de alta de juros.
"Estamos em um ritmo de crescimento moderado", afirmou a jornalistas. "Você pode até esperar um segundo semestre em um ritmo um pouco maior, mas não como foi no ano passado, porque a atividade está menor", afirmou.
No mês passado, a taxa média de juros aumentou 0,8 ponto, para 39,8 por cento ao ano, enquanto o spread, que mede a diferença entre a taxa de captação dos bancos e os juros finais, cresceu 0,9 ponto, para 27,7 pontos percentuais em média.
"O estoque total de crédito continua a se expandir em ritmo mais elevado do que os formuladores de políticas julgam saudável, ainda que as taxas e os spreads tenham subido, e os prazos dos financiamentos tenham tido leve crescimento", afirmou em nota o economista Marcelo Carvalho, do BNP Paribas.
Os empréstimos com recursos livres alcançaram saldo de 1,16 trilhão de reais, com expansão de 1,4 por cento no mês. Segundo o BC, a alta foi impulsionada pelo aumento de 1,7 por cento nas carteiras das pessoas jurídicas resultante do incremento de 3,5 por cento nos financiamentos lastreados em recursos externos.
Já as operações de crédito com recursos direcionados, cujas taxas estão fixadas em programas governamentais, aumentaram 1 por cento no mês.
"O desempenho desse segmento segue refletindo a moderação dos financiamentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)", apontou o BC em nota.
Para a Rosenberg Consultores Associados, fatores sazonais dificultarão uma maior desaceleração do crédito no país no segundo semestre.
"Alcançar um patamar de expansão de 10 a 15 por cento de expansão, como o almejado pelo BC, não nos parece factível ainda neste ano", afirmou a consultoria em relatório.
Inadimplência
Os dados do BC mostraram ainda que a inadimplência aumentou de 4,7 por cento em março para 4,9 por cento em abril --maior patamar desde julho do ano passado.
Para Maciel, a alta era esperada já que, em meio à alta da inflação e dos juros, empresas e famílias têm sido obrigadas a comprometer uma maior parcela de suas rendas com o pagamento de juros. Para a frente, ele diz esperar um "comportamento estável, ou discreto aumento na margem" da inadimplência.
O BC já elevou a taxa Selic em 1,25 ponto este ano, para 12 por cento, em um esforço para conter a inflação, que em 12 meses já supera o teto da meta de 6,5 por cento.
Desde dezembro, a autoridade monetária também adotou medidas regulatórias que aumentaram o custo, para os bancos, de conceder empréstimos de longo prazo às pessoas físicas e de obter empréstimos no exterior.