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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h27.
O setor de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos deve registrar um aumento de 17% no faturamento em 2003, mas o volume das vendas permaneceu estagnado. "Vamos fechar praticamente no zero a zero", diz João Carlos Basilio da Silva, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). "É o pior desempenho de volume dos últimos dez anos". Segundo ele, não houve remarcação de preços e o que explica o faturamento maior foi o maior consumo de produtos de maior valor agregado. "Não houve muito espaço para reajustes em 2003", afirma ele.
O ano poderia ter sido pior se não fosse pelas exportações. Elas somaram 224,3 milhões de dólares em 2003, um crescimento de 18,1% em relação a 2002. Com essa cifra, a balança comercial do setor fechará o ano com um superávit de 80 milhões de reais, um crescimento de mais de 100% sobre 2002, quando o saldo positivo foi de 38,4 milhões de dólares.
O desempenho das exportações, explica Basilio, não está relacionado a nenhuma fórmula milagrosa, mas a muitas visitas e conversas com países compradores. Há três anos, a Abihpec começou a organizar viagens e participações em feiras internacionais, em parceria com a Agência de Promoção de Exportações (Apex). No início, apenas oito empresas participavam das ações, hoje o grupo é de mais de 120.
Para Basílio, ainda há mais oportunidades. Só em junho do ano passado, empresas brasileiras estiveram pela primeira vez na Market Place Conference, uma das maiores feiras do setor nos Estados Unidos. Para abril deste ano, já está programada a participação do Brasil na Middle East Gulf Beauty, um dos eventos mais importantes do setor no Oriente Médio, realizada em Dubai. "O que já é um resultado da missão comercial que fizemos recentemente ao país, acompanhados do presidente Lula", diz ele.
Entre as empresas que participaram da Market Place, nos Estados Unidos, estavam a carioca Kanitz e a paulista Mahogany, fabricantes de produtos de higiene pessoal como loções, sabonetes líquidos e óleos de banho. Ambas as empresas já vinham se preparando para fazer uma entrada conjunta no mercado americano para dividir custos, e encontraram na feira chances para acertar os últimos detalhes. "Já tínhamos feito mudanças nas embalagens dos produtos, entre outras adaptações necessárias", diz Isabella Salton, gerente de marketing da Mahogany. "Mas foi na feira que fizemos um ajuste fino na nossa estratégia, além de ter conseguido avaliar o potencial absurdo do mercado do país por meio de encontros com compradores em potencial".
Entender a surpresa da executiva da Mahogany com o tamanho do mercado consumidor dos Estados Unidos é fácil. A Market Place é organizada por uma associação que reúne 245 redes de farmácias de todo o país, entre nomes como Wal-Mart, K-Mart e CVC. Juntas, elas possuem setenta e três mil pontos de venda. "É surpreendente saber que uma rede tem setecentas lojas e só atua na costa leste do país", diz Isabela.
Hoje, Mahogany e Kanitz possuem um escritório em Miami e contratos fechados com alguns representantes. Em novembro de 2003, os primeiros embarques de produtos, para abastecer um pequeno centro de distribuição, começaram a ser feitos. "Tudo está preparado para que não haja falhas na nossa operação, o que num mercado competitivo como o americano pode ser fatal", afirma Isabela. Com faturamento de 19 milhões de reais em 2003 e uma projeção de 25 milhões de reais para este ano, a Mahogany planeja exportar 100 mil dólares em 2004.
Outras barreiras
O trabalho da Abihpec abrange outras ações que não só ajudar as empresas brasileiras a se familiarizar com terrenos desconhecidos. Há três anos, por exemplo, a associação começou a trabalhar para convencer a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e órgãos similares dos outros países do Mercosul, além de suas empresas privadas, a harmonizar a legislação do setor. Se não houver qualquer contratempo, isso deverá acontecer em abril deste ano.
Mas o que essa harmonização significa na prática? Que os produtos brasileiros, assim como os de outros países, serão comercializados com mais facilidade na região. Hoje, por exemplo, segundo Basilio, o registro de um único cosmético brasileiro no Uruguai custa 500 dólares. "Imagine o investimento que uma empresa precisa fazer se quiser registrar todo o catálogo", diz. Isso deverá acabar e, ao mesmo tempo, os produtos dos países vizinhos (com exceção de alguns itens que podem oferecer riscos no ato do consumo, como tinturas para cabelo) também deixarão de ter que passar pelo rígido crivo da Anvisa para disputar um espaço nas gôndolas brasileiras.
"Havia um certo receio do governo em facilitar o acesso ao nosso mercado", diz Basílio. "Mas conseguimos convencê-los de que a nossa indústria é muito competitiva e só tem a ganhar com a medida. Um acordo semelhante, diz Basilio, começa a ser negociado também com os países andinos.
Produtos de higiene pessoal como escovas, pastas de dente e antisépticos bucais são carro chefe das exportações brasileiras. A Abihpec estima, no entanto, que nos próximos anos eles percam espaço para outros itens como produtos para cuidados com os cabelos e perfumes, que cresceram, respectivamente, 28% e 30% na pauta das exportações do setor em 2003.