Embora cortes ainda estejam na agenda, autoridades também estudam medidas direcionadas que podem ser mais adequadas para ajudar pequenas e médias empresas (John M Lund Photography Inc/Getty Images)
Ligia Tuon
Publicado em 8 de março de 2020 às 08h00.
Última atualização em 8 de março de 2020 às 08h00.
Bancos centrais estão prontos para vasculhar as caixas de ferramentas para lidar com o impacto econômico do coronavírus.
Embora cortes das taxas de juros - a ferramenta monetária tradicional e mais poderosa - ainda estejam na agenda, autoridades também estudam medidas direcionadas que podem ser mais adequadas para ajudar pequenas e médias empresas. Banco Central Europeu, Banco da Inglaterra e Banco do Japão sinalizaram que têm planos desse tipo em andamento.
Parte da lógica é que a maioria dos bancos centrais não tem muito espaço para reduzir ainda mais aos juros. As taxas do BCE e do BOJ já estão abaixo de zero, e a do BOE está em 0,75%. Realizar uma redução equivalente ao corte de emergência nesta semana do Federal Reserve, de meio ponto percentual, os levaria quase ao limite.
Mas os bancos centrais também estão cientes de que a ação do Fed não foi suficiente para diminuir o nervosismo do mercado em relação ao vírus, que atinge partes da economia que dependem mais de empréstimos bancários do que mercados de financiamento. Essas empresas enfrentam impactos potencialmente graves para os quais precisam de cobertura.
“As empresas precisam de ajuda para superar problemas de fluxo de caixa de curto prazo”, disse Paul Donovan, economista-chefe global do UBS.
O combate ao vírus pode exigir uma coordenação mais explícita com os governos do que bancos centrais independentes estão acostumados. O novo presidente do BOE, Andrew Bailey, disse a parlamentares na quarta-feira que seus funcionários trabalharão em conjunto com o Tesouro para combater as consequências econômicas do coronavírus.
“Devemos agir de forma coordenada”, afirmou. “Não podemos deixar nossas noções de independência atrapalharem.”
Bailey sugeriu a necessidade de “algum tipo de financiamento da cadeia de suprimentos” para mitigar o choque, sem fornecer mais detalhes. Ele também enfatizou que o BOE tem muitas ferramentas à disposição além dos cortes dos juros.
O governo britânico deve divulgar o orçamento em 11 de março, e analistas especulam cada vez mais que o BOE adotará uma série de medidas como complemento. As medidas poderiam ser anunciadas na reunião de política monetária de 26 de março ou antes.
As ideias vão desde a introdução de um novo esquema de financiamento a prazo, que concede aos bancos fundos a juros baixos para empréstimos a empresas até a liberação de recursos ao reduzir o nível de reservas obrigatório que as instituições precisam manter em épocas de crise.
--Com a colaboração de Nicholas Comfort.