Donald Trump e Liu He, vice-premiê da China, durante cerimônia em Washington, em 15 de janeiro. (Zach Gibson/Bloomberg)
Ligia Tuon
Publicado em 16 de maio de 2020 às 08h47.
Última atualização em 16 de maio de 2020 às 22h13.
Em 15 de janeiro, parecia que Estados Unidos e China haviam evitado uma rápida queda rumo a uma nova Guerra Fria.
Em Washington, o presidente dos EUA, Donald Trump, declarou: “nosso relacionamento com a China é o melhor que já existiu” ao assinar o acordo comercial preliminar que “unifica os países”. O pacto entre Trump e o presidente da China, Xi Jinping, aumentou a esperança de que a superpotência global pudesse resolver pacificamente as diferenças com o país asiático em ascensão.
Naquele mesmo dia, autoridades de saúde da cidade de Wuhan, na região central da China, reconheceram que não podiam descartar a transmissão entre humanos de uma nova pneumonia misteriosa que já havia adoecido 41 pessoas. Um homem que havia visitado Wuhan também chegou em casa no estado de Washington carregando o patógeno: o primeiro caso confirmado nos EUA da doença que ficaria conhecida como Covid-19.
Quatro meses depois, o vírus havia provocado a pior crise global de saúde em pelo menos um século, matando mais de 300 mil pessoas e mergulhando a economia global em profunda recessão. A pandemia também fez ressurgir todos os piores cenários sobre os laços EUA-China, deixando-os mais próximos de um confronto do que em qualquer outro momento desde que os dois lados estabeleceram relações há quatro décadas.
Cadeias de suprimentos, vistos, ciberespaço e Taiwan: as duas maiores economias do mundo escalam disputas em várias frentes que na verdade nunca foram esquecidas. Trump até mostra frustração com o pacto comercial, um dos poucos compromissos que impedem que as batalhas retóricas se concretizem no mundo real. Na quinta-feira, Trump disse que não quer conversar com Xi e que os EUA “economizariam US$ 500 bilhões” se cortassem laços com a China.
Em resposta, o Ministério de Relações Exteriores da China instou os EUA a abandonarem a “mentalidade da Guerra Fria” e a cooperarem na luta contra o vírus. “O desenvolvimento estável das relações entre China e Estados Unidos é de interesse fundamental dos povos dos dois países e também é propício à paz e à estabilidade mundial ”, disse o porta-voz do ministério, Zhao Lijian, em conferência de imprensa em Pequim.
A briga deve fazer mais barulho antes das eleições nos EUA em novembro: Trump culpa cada vez mais a China pela turbulência causada pelo vírus, uma vez que mina suas chances de vitória, enquanto o presidenciável Joe Biden, do Partido Democrata, o Congresso e vários estados fazem eco. Enquanto isso, o governo de Xi incentiva forças nacionalistas contra os EUA em meio à queda das exportações e crescente desemprego, que empurram o país para a pior crise em gerações.
“Os ataques do Covid-19 contra a China e os EUA parecem ter levado à deterioração das relações bilaterais ao ponto de ruptura”, disse Gao Zhikai, intérprete do falecido líder supremo Deng Xiaoping. “Desde a normalização das relações em 1979, o relacionamento China-EUA nunca foi tão perigoso e tão conflituoso quanto hoje.”
(Com a colaboração de Simon Flint e Jon Herskovitz).