Banco Central com ipê roxo na frente (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
João Pedro Caleiro
Publicado em 26 de julho de 2017 às 18h01.
Última atualização em 26 de julho de 2017 às 18h20.
São Paulo - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou hoje uma redução de um ponto percentual na Selic, que foi de 10,25% para 9,25%.
A decisão foi por unanimidade e sem viés. Foi o sétimo corte seguido na taxa básica de juros da economia e o terceiro no patamar de um ponto.
"A manutenção das condições econômicas, até este momento, a despeito do aumento de incerteza quanto ao ritmo de implementação de reformas e ajustes na economia, permitiu a manutenção do ritmo de flexibilização nesta reunião", diz o comunicado.
A Selic não ficava em um dígito desde 2013. A decisão faz o Brasil cair do segundo para o terceiro lugar entre juros reais no ranking com 40 economias feito pela Infinity Asset Management.
Expectativas
O corte veio de acordo com o esperado pelo mercado: de 41 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, 39 apostavam em um ponto.
A manutenção do patamar de cortes não era a aposta na época da última reunião, quando o Copom apontou que seria adequada "uma redução moderada do ritmo de flexibilização monetária".
O motivo era o estouro da crise política e a menor probabilidade de aprovação de reformas estruturais que controlariam o gasto público no longo prazo, como a Previdenciária.
Mas desde então a reforma trabalhista foi aprovada, o país continuou recebendo recursos e o dólar, que poderia causar pressão inflacionária, está hoje apenas levemente acima do seu nível anterior à denúncia contra o presidente.
Enquanto isso, os números de atividade econômica seguem fracos e a inflação continua em queda livre. Junho teve deflação e o acumulado em 12 meses ficou em 3%, já bem abaixo da meta de 4,5%.
Histórico
Desde que o regime de metas de inflação foi adotado em 1999, a Selic só ficou em um dígito em dois momentos.
O primeiro foi entre meados de 2009 e meados de 2010, no segundo mandato de Lula, quando chegou a 8,75%.
O segundo foi entre março de 2012 e o final de 2013, no primeiro mandato de Dilma, quando chegou à mínima histórica de 7,25%. Em ambos os casos, a alta da inflação exigiu a volta do ciclo de altas.
A ata do Copom será divulgada na próxima terça-feira, dia 1º de agosto, e a próxima reunião está marcada para os dias 05 e 06 de setembro.
Veja o comunicado completo:
"O Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic em um ponto percentual, para 9,25% a.a., sem viés.
A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
O conjunto dos indicadores de atividade econômica divulgados desde a última reunião do Copom permanece compatível com estabilização da economia brasileira no curto prazo e recuperação gradual. O recente aumento de incerteza quanto ao ritmo de implementação de reformas e ajustes na economia impactou negativamente índices de confiança dos agentes econômicos. No entanto, a informação disponível sugere que o impacto dessa queda de confiança na atividade tem sido, até o momento, limitado;
O cenário externo tem se mostrado favorável, na medida em que a atividade econômica global tem se recuperado gradualmente, sem pressionar as condições financeiras nas economias avançadas. Isso contribui para manter o apetite ao risco em relação a economias emergentes. Além disso, houve arrefecimento de possíveis mudanças de política econômica em alguns países centrais;
O comportamento da inflação permanece favorável com desinflação difundida, inclusive nos componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária. Até o momento, os efeitos de curto prazo do aumento de incerteza quanto ao ritmo de implementação de reformas e ajustes na economia não se mostram inflacionários nem desinflacionários;
As expectativas de inflação apuradas pela pesquisa Focus recuaram para em torno de 3,3% para 2017 e para 4,2% para 2018 e encontram-se em torno de 4,25% para 2019 e 4,0% para 2020; e
No cenário com trajetórias para as taxas de juros e câmbio extraídas da pesquisa Focus, as projeções do Copom recuaram para em torno de 3,6% para 2017 e 4,3% para 2018. Esse cenário supõe trajetória de juros que alcança 8,0% ao final de 2017 e mantém-se nesse patamar até o final de 2018.
Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa básica de juros em um ponto percentual, para 9,25% a.a., sem viés. O Comitê entende que a convergência da inflação para a meta de 4,5% no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui o ano-calendário de 2018, é compatível com o processo de flexibilização monetária.
O Copom ressalta que a extensão do ciclo de flexibilização monetária dependerá de fatores conjunturais e das estimativas da taxa de juros estrutural da economia brasileira. O Comitê entende que a evolução do processo de reformas e ajustes necessários na economia (principalmente das fiscais e creditícias) é importante para a queda das estimativas da taxa de juros estrutural. Essas estimativas continuarão a ser reavaliadas pelo Comitê ao longo do tempo.
O Copom ressalta que a manutenção das condições econômicas, até este momento, a despeito do aumento de incerteza quanto ao ritmo de implementação de reformas e ajustes na economia, permitiu a manutenção do ritmo de flexibilização nesta reunião. Para a próxima reunião, a manutenção deste ritmo dependerá da permanência das condições descritas no cenário básico do Copom e de estimativas da extensão do ciclo. O ritmo de flexibilização continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, de possíveis reavaliações da estimativa da extensão do ciclo e das projeções e expectativas de inflação.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Ilan Goldfajn (Presidente), Anthero de Moraes Meirelles, Carlos Viana de Carvalho, Isaac Sidney Menezes Ferreira, Luiz Edson Feltrim, Otávio Ribeiro Damaso, Reinaldo Le Grazie, Sidnei Corrêa Marques e Tiago Couto Berriel."