Fábrica da Alstom: o argumento central das empresas era que os fatos apurados no inquérito são os mesmos expostos em uma ação civil pública (VEJA SP)
Da Redação
Publicado em 29 de janeiro de 2014 às 09h27.
São Paulo - As multinacionais Alstom e Bombardier, sob suspeita de integrarem um cartel que atuou no setor metroferroviário paulista nos governos do PSDB de 1998 a 2008, sofreram nesta terça-feira, 28, um revés no Conselho Superior do Ministério Público Estadual.
O órgão rejeitou recursos das multinacionais para trancamento de inquérito civil aberto para investigar suposto pagamento de propinas a agentes públicos.
O argumento central das empresas era que os fatos apurados no inquérito são os mesmos expostos em uma ação civil pública proposta em 2009 e aberta em 2013, na qual ambas são rés com o atual presidente da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), Mário Bandeira, e o diretor de operações da estatal, José Luiz Lavorente. A espanhola CAF também é acusada.
Os dirigentes da CPTM e as três empresas que integravam o consórcio Cofesbra são acusados de improbidade por terem assinado, em 2005, um aditivo em um contrato de 1995, para fornecimento de 12 trens para a CPTM, no valor de R$ 223,5 milhões.
O contrato tinha vigência até 2000. Para o Tribunal de Contas do Estado (TCE), a CPTM deveria ter aberto nova licitação para efetuar a compra.
O aditivo foi julgado irregular pelo TCE e Bandeira e Lavorente condenados a pagar R$ 44,6 mil de multa cada um. A CPTM argumentou que o aditivo faria a compra ser mais econômica, mas técnicos do TCE sustentaram que o valor, na verdade, subiu 17,35% - ou R$ 38,7 milhões, em valores nominais.
O Conselho Superior do MP tem 11 procuradores com atribuição para arquivar ou reabrir inquéritos civis de competência da Promotoria de Defesa do Patrimônio Público - braço da instituição que apura improbidade.
O inquérito civil questionado pelas multinacionais apura suposto pagamento de "vantagens ilícitas" pelo Cofesbra aos agentes públicos pelo aditamento.
Na abertura do inquérito, o promotor do caso afirmou que o consórcio teria contratado "empresas de consultoria de fachada" e que seus controladores teriam sido responsáveis por intermediar o pagamento de propina a agentes públicos.
Segundo a promotoria, as quantias seriam remetidas ao exterior por meio de doleiros e, depois, "depositadas nas contas bancárias dos agentes públicos para que esses, no exercício de suas funções, providenciassem a contratação do Consórcio para a venda dos 12 trens".
A Bombardier e a Alstom recorreram administrativamente, alegando "que a questão é objeto de ação civil perante o Judiciário". O promotor não recuou. As empresas bateram à porta do Conselho.
"São investigações diversas, não obstante envolvam o mesmo aditamento contratual", disse o procurador Mário Sarrubbo, relator do processo no Conselho. Ele destacou que "a essa altura não é possível afirmarmos a existência ou não das aludidas propinas ou mesmo suas repercussões no aditamento". O voto do relator foi seguido por unanimidade pelo colegiado.
Defesa
A Bombardier disse que "respeita a decisão do Conselho" e "rechaça qualquer tipo de conduta ilegal". A Alstom "lamentou não ter tido tempo suficiente para que se posicionasse adequadamente para a matéria em questão".
A CPTM disse que "a Companhia e a sua diretoria veem a instauração do inquérito como uma oportunidade de esclarecer os fatos, inclusive já se manifestou nos autos da investigação nesse sentido". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.