Congresso da Argentina aprova polêmica reforma da Previdência
O projeto, que já havia passado pelo Senado, foi aprovado pela Câmara após árduas negociações políticas do governo para conseguir apoio
EFE
Publicado em 19 de dezembro de 2017 às 09h06.
Última atualização em 19 de dezembro de 2017 às 10h44.
Buenos Aires - A Câmara dos Deputados da Argentina aprovou nesta terça-feira, em meio a uma greve geral e após 17 horas de debate, uma polêmica reforma do sistema de previdência impulsionada pelo governo de Mauricio Macri e que provocou incidentes violentos nas ruas devido à forte rejeição social que suscitou.
O projeto, que já havia recebido sinal verde do Senado no final de novembro, contou com o apoio de 128 votos - principalmente da coligação governista Cambiemos -, enquanto 116 deputados votaram contra e dois se abstiveram.
A reforma modifica a fórmula de atualização das aposentadorias, algo que o governo acredita que permitirá aos aposentados ganhar mais em 2018 e a oposição e sindicatos insistem que causará um forte rebaixamento.
O projeto levou os sindicatos a convocar ontem uma greve geral que terminará hoje e foi aprovado após uma longa sessão na qual predominaram os discursos críticos contra a reforma, com fortes distúrbios na rua que deixaram mais de 100 feridos, incluindo policiais, e cerca de 60 detidos.
"Estamos tristes, porque fizemos todo o possível para que esta lei não fosse aprovada", afirmou à imprensa o deputado opositor Agustín Rossi (do kirchnerista Frente para a Victoria), que opinou que é uma lei "ruim para o conjunto do povo" e "muitos constitucionalistas dizem que é inconstitucional".
Por sua vez, seu companheiro de partido, Axel Kicillof, considerou que se cometeu "uma fraude contra os aposentados" e outros grupos da população afetados pela mudança de fórmula na atualização das pensões.
Pelo lado do oficialismo, o líder da banca do Cambiemos, Mario Negri, reconheceu que foi "uma jornada muito difícil" e de " muita tensão", principalmente nas ruas, com uma violência "inusitada e desproporcional".
"Não nos faz bem condenar a violência de um só lado. Há 80 polícias feridos", acrescentou Negri, em referência às acusações da oposição em relação à repressão policial.
A respeito da lei, reconheceu que, com o passar dos dias, o governo "terá que explicar bem e falar aos argentinos".
"Como é um assunto muito sensível, acho que talvez o governo deveria ter explicado mais", reconheceu Negri, convencido de que o "sistema previdenciário está em terapia intensiva há muitos anos" e tirá-lo dali "requer serenidade, racionalidade e que a oposição não pense que isto é um instrumento político".
A situação de caos nos arredores do Congresso começou a se formar pouco antes do começo da sessão, na tarde de segunda-feira, quando manifestantes, convocados pelas organizações sociais e sindicais, passaram a enfrentar a polícia lançando pedras e garrafas.
Os incidentes, que se estenderam por outras ruas do centro, se agravaram depois que os manifestantes começaram a queimar objetos e se aproximar da cerca que rodeia todo o Palácio Legislativo, momento no qual a polícia começou a disparar balas de borracha e usar gás pimenta, bem como jatos de águas para dispersar a multidão.
Embora inicialmente a operação de dispersão tenha sido efetuada somente pela polícia de Buenos Aires, a cargo do governo local, finalmente se decidiu pela chegada de agentes da Polícia Federal e da Gendarmaria, força de natureza militar que depende do Executivo nacional.
Contra a lei também foram convocados panelaços pacíficos de grupos de moradores em vários bairros portenhos.
Estes incidentes aconteceram depois que na quinta-feira passada, quando o projeto seria debatido em outra sessão, um enfrentamento entre policiais e manifestantes também deixou feridos e detidos.