Jerome Powell, presidente do Fed: pressões inflacionárias ameaçam economia dos EUA (./Bloomberg)
Da redação, com agências
Publicado em 3 de maio de 2022 às 16h16.
Última atualização em 4 de maio de 2022 às 10h35.
O mercado se prepara para um novo aumento das taxas de juro do Federal Reserve (Fed, banco central americano) na quarta-feira, 4. Será a segunda alta de juros nos Estados Unidos em menos de dois meses para conter a inflação, e a maior desde 2000.
Com os EUA como maior economia do mundo, a política monetária no país será sentida para muito além das fronteiras.
A medida deve impactar desde o fluxo de capital global até as contas de países emergentes, como o Brasil.
O mercado espera um aumento das taxas de meio ponto percentual. Seria a primeira alta de meio ponto desde maio de 2000.
Se confirmada, a decisão do Fed elevaria os juros entre 0,75% e 1%.
O organismo estuda a possibilidade de outros seis aumentos dos juros — um por reunião — até o fim do ano.
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Em março, o Fed já havia aumentado a taxa de juro pela primeira vez desde 2018. Na ocasião, o comitê de política monetária optou por uma alta de 0,25 ponto, levando os juros para a taxa atual entre 0,25% e 0,5%.
O presidente do Fed, Jerome Powell, sustenta que é "absolutamente essencial" restabelecer a estabilidade de preços e subir "rapidamente" as taxas.
Pressionada pela retomada pós-auge da covid-19 e pela guerra na Ucrânia, a inflação nos EUA chegou a patamares recorde neste ano, as piores altas em 40 anos, desde a época da "Grande Inflação".
O principal índice inflacionário do país, o IPC, chegou em março a 8,5%.
Por ora, a taxa de desemprego segue baixa: caiu para 3,6% em março, já próxima ao nível pré-pandemia, em 3,5%. O aumento de salários para atrair funcionários diante da escassez de mão de obra e a atividade econômica aquecida também impactam na inflação.
A tendência é que aumentos sucessivos nos juros aumentem o desemprego e desaqueçam a atividade econômica.
O Fed precisa moderar as pressões sobre os preços sem levar a economia para uma recessão. Além disso, com a guerra e choques de oferta, segue havendo risco de que os EUA e o mundo cheguem a um cenário de "estagflação", com crescimento baixo ou nulo e inflação alta.
Taxas altas podem ter impacto negativo no mercado acionário.
Com um financiamento mais caro, as empresas poderiam investir menos. Se os custos aumentarem, uma redução da renda e dos lucros poderia afetar o valor de suas ações.
Além de subir as taxas de juro, o Fed deveria dar indícios de uma redução de suas tendências em títulos, outra etapa importante da normalização monetária.
Para as economias emergentes e em desenvolvimento, que pegam empréstimos em dólares, o risco está no aumento do custo do crédito.
O FMI e o Banco Mundial alertam para possíveis dificuldades para estes países se as taxas do Fed subirem muito rapidamente.
Muito endividados antes da pandemia, estes países acumularam mais dívida durante a crise sanitária para bancar programas sociais.
Quando as taxas de juro aumentam nos Estados Unidos ou em outras economias desenvolvidas, os investidores retiram fundos de mercados emergentes, onde os rendimentos costumam ser mais interessantes.
Se o Fed confirmar a mudança de rumo em reuniões posteriores neste ano, isto colocaria pressão sobre as economias emergentes que precisam de fundos e poderia fragilizar algumas moedas.
Os bancos centrais destes países podem reagir elevando suas próprias taxas de juro, algo que, por sua vez, poderia frear a atividade econômica.
No Brasil, por exemplo, o Comitê de Política Monetária (Copom) também se reúne nesta quarta-feira.
A expectativa do mercado é de que a taxa básica de juro, a Selic, suba em 1 ponto percentual. A Selic iria, assim, dos atuais 11,75% para 12,75%.
Além do Fed com política monetária em contração, o Brasil lida também com inflação em alta. O acumulado de 12 meses no IPCA, principal índice inflacionário, ficou em 11,3% em março, uma das piores altas desde a consolidação do Plano Real.
Nos EUA, enquanto isso, as taxas de créditos hipotecários e ao consumidor também serão afetadas.
Em março de 2020, quando o Fed reduziu seus juros, estimulou o mercado imobiliário.
Agora, mesmo antes de o Fed elevar as taxas em 0,25 ponto percentual em março, os pedidos de créditos hipotecários diminuíram, assim como as vendas de imóveis, em um mercado que tem mais demanda do que oferta.
(Com informações da AFP)