Economia

Como a França pretende reduzir a dependência da soja do Brasil e dos EUA

Medida atinge os cinco maiores exportadores mundiais de soja: Brasil, Estados Unidos, Argentina, Paraguai e Canadá

Macron e Bolsonaro (Frederico Mellado/ARG/Flickr)

Macron e Bolsonaro (Frederico Mellado/ARG/Flickr)

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AFP

Publicado em 1 de dezembro de 2020 às 20h10.

O governo francês anunciou nesta terça-feira (1) que quer aumentar rapidamente a produção de plantas ricas em proteínas, como soja, fava ou alfafa, para reduzir a dependência dos pecuaristas de importações de países como o Brasil

A medida atinge os cinco maiores exportadores mundiais de soja: Brasil, Estados Unidos, Argentina, Paraguai e Canadá.

Setores de grandes cultivos franceses se comprometeram, através de uma carta, a aumentar em 40% em três anos a superfície dedicada a estas plantações, informou o ministro da Agricultura, Julien Denormandie, durante coletiva de imprensa.

Trata-se de um "objetivo intermediário", destacou. Anteriormente, já tinha sido fixada uma meta de "duplicar a superfície cultivada" em dez anos.

    "Hoje, há um milhão de hectares" dedicados ao cultivo de sementes oleoginosas (colza, girassol, linho) e de leguminosas (soja, ervilha, fava, lentilha...), detalhou o ministro.

    Daqui a três anos, a superfície destinada às proteínas vegetais deve aumentar em 400.000 hectares, antes de alcançar os dois milhões de hectares em 2030.

    Paralelamente, o Estado francês lembra que "põe sobre a mesa" mais de 100 milhões de euros (cerca de 120 milhões de dólares) de créditos, principalmente provenientes do plano de reativação.

    Este plano era muito aguardado pelos agricultores, quase dois anos depois de o presidente Emmanuel Macron anunciar que queria "levar um plano ambicioso de proteínas na escala do continente" europeu e, assim, sair do antigo equilíbrio induzido por um acordo comercial negociado nos anos 1960, que atribuía a produção de proteínas vegetais (soja, colza) às Américas e a do amido (trigo, cereais) à Europa.

    Atualmente, a França só cobre um terço de seu consumo de proteínas vegetais para a alimentação humana e a metade de suas necessidades para a pecuária. A soja é importada dos Estados Unidos ou do Brasil, onde seu cultivo é acusado de fomentar o desmatamento.

    Segundo o ministério, a farinha de soja, "muito competitiva economicamente e muito concentrada em proteínas de qualidade", representa, em média, 36% da ração do gado leiteiro e 29% das aves de granja para a produção de carne.

    Consumir menos proteínas animais?

    O plano de proteínas vegetais poderia contribuir principalmente para financiar "ferramentas de produção, armazenamento e distribuição" de leguminosas, a compra de sementes pelos pecuaristas para aumentar a densidade de proteínas das rações ou para a pesquisa de variedades. 

    "Diz-se 'reintroduzir as leguminosas' [...], também é preciso assegurar e aumentar os rendimentos e sua regularidade", em especial desenvolvendo soluções de proteção, destacou Cécile Détang-Dessendre, diretora científica no instituto Inrae.

    Segundo o ministro Denormandie, este plano é pensado como "uma pedra importante" para recuperar a soberania agroalimentar. Também deve garantir uma saída adicional para os agricultores, em um momento em que cresce o mercado de proteínas vegetais e o setor da beterraba açucareira enfrenta dificuldades.

    "Fazer funcionar a parte vegetal na França é uma verdadeira oportunidade para a parte animal [pecuária]", comemorou o presidente do sindicato de indústrias da nutrição animal, François Cholat, durante coletiva de imprensa em separado.

    Para a Confédération paysanne (confederação de camponeses), ao contrário, "não se ganha autonomia com um reforço dos equipamentos, mas com uma mudança de práticas".

    "O ideal é poder levar os animais para o pasto e não dotar-se de mais equipamentos para transportar mais rápido, em maior quantidade, capim ou ração até eles", avaliou o sindicato agrícola em um comunicado.

    Cyrielle Denhartigh, da Rede de Ação pelo Clima, lamentou, por sua vez, que o plano não faça alusão à diminuição da produção e do consumo de proteínas animais.

    A Rede lamentou "a escandalosa ausência de articulação das políticas com a diminuição do gado, em particular uma redução das criações de gado muito dependentes das importações".

    "Só com essa diminuição, se for realizada em paralelo com uma melhora da sustentabilidade na pecuária, se conseguirá a autonomia e os criadores de gado se beneficiarão", avaliou.

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