Com reputação intacta, Chile quer atrair investidor estrangeiro
País planeja emitir US$ 8,7 bilhões em títulos de dívida no próximo ano, dos quais US$ 5,3 bilhões serão vendidos no exterior, acima dos US$ 3 bi deste ano
Ligia Tuon
Publicado em 30 de dezembro de 2019 às 11h44.
A reputação do Chile entre investidores estrangeiros por sua sólida gestão fiscal sobreviveu à recente onda de protestos, segundo indicadores de mercado. O governo diz que agora pretende lucrar com essa credibilidade.
O Chile planeja emitir US$ 8,7 bilhões em títulos de dívida no próximo ano, dos quais US$ 5,3 bilhões serão vendidos no exterior, acima dos US$ 3 bilhões deste ano. Dessas vendas de títulos no mercado externo, US$ 3,3 bilhões serão em dólares e em euros, e o restante será denominado em pesos chilenos, mas com alvo em investidores institucionais estrangeiros por meio do processo de precificação, o chamado bookbuilding.
A agitação social toma conta do Chile desde 18 de outubro, o que forçou o fechamento de centenas de lojas e atrasou projetos de investimento. Ainda assim, o governo se beneficia de anos de prudência fiscal, que injetaram mais de US$ 15 bilhões em fundos soberanos. Agora, o país recorre aos fundos para aumentar as pensões, melhorar a assistência médica e criar uma renda mínima, além de emitir mais títulos no exterior.
“Qualquer outro país que tivesse passado por um choque como este já teria sido rebaixado em um ou dois graus”, disse Andrés Pérez, coordenador internacional de finanças do Ministério da Fazenda do Chile. “Os rendimentos e spreads atuais mostram um nível de risco mais alto, mas não o suficiente para um rebaixamento.”
Os spreads dos títulos do Chile aumentaram, em média, cinco pontos-base desde 18 de outubro, apenas marginalmente pior do que a média de três pontos-base para a dívida soberana de mercados emergentes.
Investidores institucionais
Quando Pérez visitou investidores institucionais na Ásia e nos EUA em dezembro para explicar a crise social e lembrá-los dos pontos fortes do Chile, ficou impressionado com as altas expectativas criadas pelo país.
Há um consenso de que a resposta fiscal e monetária do Chile tem sido “eficaz, rápida e decisiva em termos de seu tamanho”, disse Pérez em entrevista em Santiago. “Eles dizem que é isso o que esperam do Chile.”
O governo vai aumentar os gastos em 9,8% em termos reais em 2020 na tentativa de atender às demandas sociais. É provável que o aumento das despesas continue, elevando a dívida pública para 38% do PIB em 2024 em relação a menos de 28% agora, segundo o governo.
Pérez disse que os investidores perguntaram sobre o aumento do endividamento bem como sobre a redação de uma nova constituição, e o que isso significa para o investimento. Os chilenos votam em 26 de abril se devem redigir uma nova constituição.
De volta ao normal
O aumento nas vendas de títulos em moeda estrangeira será apenas temporário. Nos anos seguintes, o governo retornará ao seu padrão anterior de vender cerca de 80% dos títulos em moeda local, disse Pérez.
Embora a economia tenha sido atingida pelos protestos - a atividade econômica mostrou retração de 5,4% em outubro -, a confiança do mercado vem se recuperando. O peso se valorizou 11% desde 28 de novembro, quando o banco central chileno anunciou uma intervenção, o melhor desempenho entre moedas de mercados emergentes.
Mesmo com o maior endividamento e mais gastos fiscais, Pérez está confiante de que as empresas de classificação de risco poderão adotar uma visão de longo prazo.
“Assim que os spreads começaram a subir, novos investidores institucionais estrangeiros entraram no mercado pensando que o Chile estava barato”, disse Pérez. “Isso ajudou a manter os spreads baixos.”