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Com queda dos juros, BC adota a tática do “tudo ou nada”

No curto prazo, o resultado prático disso tudo é a perda de credibilidade da autoridade monetária

Banco Central: além da inflação, está em jogo a credibilidade da autoridade monetária (Divulgação/Banco Central)
DR

Da Redação

Publicado em 1 de setembro de 2011 às 10h41.

São Paulo – Em tese, quase ninguém é contra juros baixos – o quase é uma precaução porque há investidores que lucram bastante com títulos públicos. Quanto menor a taxa, maior o estímulo para o investimento e o consumo, o que gera emprego e renda. Forma-se um círculo virtuoso que seria perfeito se não existe a ameaça inflacionária.

A inflação oficial no Brasil ficou longe do centro da meta em 2010, repetirá a dose neste ano e as projeções dos analistas indicam que 2012 não será um ano fácil neste quesito.

É exatamente em meio a esse cenário que o Banco Central (BC) fez uma aposta ousada ao reduzir a taxa básica de juros em meio ponto percentual. No futebol, essa tática seria chamada de “tudo ou nada”, ou seja, quando o time não tem mais nada a perder, o treinador coloca atacantes e desguarnece a defesa na busca enlouquecida pelo gol. Só que a autoridade monetária – e, por tabela, o país – tem muito a perder.

O Banco Central, por definição, é conservador, age com cautela, um passo por vez e sempre com muitas sinalizações. Não foi o que aconteceu nesta quarta-feira.

Os diretores do Comitê de Política Monetária (Copom) estão errados? Não é possível afirmar. A única certeza é que o quadro traçado por eles para justificar a decisão é baseado muito mais em perspectivas do que em fatos concretos.


A crise internacional vai piorar muito mais? Não é possível afirmar. Será o suficiente para desaquecer a economia brasileira e aliviar a inflação? Novamente não dá para prever.

Os preços das commodities vão despencar como em 2008? Não há como garantir isso. A batalha contra a inflação está ganha e a prioridade do momento é estimular a economia? Não há bola de cristal que traga a resposta.

O Banco Central está apostando que a piora do cenário internacional vai resolver os problemas de inflação no Brasil. Se acertar na mosca, será endeusado. Se errar, será o culpado pela desordem inflacionária. O ponto principal é: o BC precisava correr esse risco ou deveria ter esperado mais um pouco? Vale lembrar que, na última reunião, o Copom tinha elevado os juros.

Só o tempo dirá quem tinha razão: o mercado ou o Banco Central. Porém, no curto prazo, além da provável piora das expectativas inflacionárias, o resultado prático disso tudo é a perda de credibilidade da autoridade monetária. Dadas as recentes declarações do ministro da Fazenda, Guido da Mantega, e da presidente Dilma Rousseff, fica difícil provar que não houve interferência política.

Curiosamente, o Copom, que normalmente emite uma nota lacônica após suas decisões, explicou demais nesta quarta-feira. Na linha do “não basta ser honesto (no caso, independente), é preciso parecer ser”, o Banco Central explicou, explicou, explicou na tentativa de provar que a redução dos juros é a decisão certa na hora certa. A conferir.

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São Paulo – Em tese, quase ninguém é contra juros baixos – o quase é uma precaução porque há investidores que lucram bastante com títulos públicos. Quanto menor a taxa, maior o estímulo para o investimento e o consumo, o que gera emprego e renda. Forma-se um círculo virtuoso que seria perfeito se não existe a ameaça inflacionária.

A inflação oficial no Brasil ficou longe do centro da meta em 2010, repetirá a dose neste ano e as projeções dos analistas indicam que 2012 não será um ano fácil neste quesito.

É exatamente em meio a esse cenário que o Banco Central (BC) fez uma aposta ousada ao reduzir a taxa básica de juros em meio ponto percentual. No futebol, essa tática seria chamada de “tudo ou nada”, ou seja, quando o time não tem mais nada a perder, o treinador coloca atacantes e desguarnece a defesa na busca enlouquecida pelo gol. Só que a autoridade monetária – e, por tabela, o país – tem muito a perder.

O Banco Central, por definição, é conservador, age com cautela, um passo por vez e sempre com muitas sinalizações. Não foi o que aconteceu nesta quarta-feira.

Os diretores do Comitê de Política Monetária (Copom) estão errados? Não é possível afirmar. A única certeza é que o quadro traçado por eles para justificar a decisão é baseado muito mais em perspectivas do que em fatos concretos.


A crise internacional vai piorar muito mais? Não é possível afirmar. Será o suficiente para desaquecer a economia brasileira e aliviar a inflação? Novamente não dá para prever.

Os preços das commodities vão despencar como em 2008? Não há como garantir isso. A batalha contra a inflação está ganha e a prioridade do momento é estimular a economia? Não há bola de cristal que traga a resposta.

O Banco Central está apostando que a piora do cenário internacional vai resolver os problemas de inflação no Brasil. Se acertar na mosca, será endeusado. Se errar, será o culpado pela desordem inflacionária. O ponto principal é: o BC precisava correr esse risco ou deveria ter esperado mais um pouco? Vale lembrar que, na última reunião, o Copom tinha elevado os juros.

Só o tempo dirá quem tinha razão: o mercado ou o Banco Central. Porém, no curto prazo, além da provável piora das expectativas inflacionárias, o resultado prático disso tudo é a perda de credibilidade da autoridade monetária. Dadas as recentes declarações do ministro da Fazenda, Guido da Mantega, e da presidente Dilma Rousseff, fica difícil provar que não houve interferência política.

Curiosamente, o Copom, que normalmente emite uma nota lacônica após suas decisões, explicou demais nesta quarta-feira. Na linha do “não basta ser honesto (no caso, independente), é preciso parecer ser”, o Banco Central explicou, explicou, explicou na tentativa de provar que a redução dos juros é a decisão certa na hora certa. A conferir.

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