Economia

Com prazo no fim, governo entrega Orçamento de 2021 nesta segunda

Com ajuste fiscal e Renda Brasil no radar, Projeto de Lei Orçamentária Anual para o ano que vem é especialmente desafiador para a equipe econômica

Paulo Guedes, ministro da Economia, em cerimônia no Palácio do Planalto, em 19 de agosto de 2020.  (André Borges/Getty Images)

Paulo Guedes, ministro da Economia, em cerimônia no Palácio do Planalto, em 19 de agosto de 2020. (André Borges/Getty Images)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 31 de agosto de 2020 às 06h00.

Última atualização em 31 de agosto de 2020 às 09h41.

O governo tem até esta segunda-feira, 31, para entregar ao Congresso sua previsão de despesas e receitas para 2021. De acordo com o Ministério da Economia, o envio ocorrerá na parte da tarde. É mais provável, porém, que o quadro completo do orçamento não seja conhecido agora.

A tarefa é especialmente desafiadora neste ano, pois exige que a equipe técnica encontre brechas orçamentárias para atender a demandas sociais e econômicas que se tornaram mais urgentes na pandemia, mas sem perder o tom do ajuste fiscal, caro ao ministro da Economia, Paulo Guedes.

Um projeto em especial tem gerado mais incertezas sobre o que esperar desse processo, o Renda Brasil, plano permanente de renda básica cotado para ser substituto mais amplo do Bolsa Família, e uma das principais apostas econômicas e políticas do presidente Jair Bolsonaro para o período pós-pandemia.

Do jeito que está hoje, o projeto não caberia no teto de gastos (lei de 2017 para impedir o aumento dos gastos obrigatórios acima da inflação) do ano que vem. Ao menos que as despesas obrigatórias, com as quais o Orçamento está quase 95% comprometido, sejam reduzidas.

O plano do governo é ir por esse caminho, que tem grandes chances de encontrar ares promissores no Congresso agora. Mas, antes, precisa haver um consenso sobre o desenho do programa de renda e as contrapartidas orçamentárias para viabilizá-lo.

Diante da falta de concordância nesse sentido, sua inclusão no plano para o ano que vem deve ser feita com o auxílio dos parlamentares, ao longo das discussões dos próximos meses na Comissão Mista Orçamentária (CMO).

Briga pelo Orçamento

De olho no legado que pode deixar com o programa de renda, Bolsonaro quer pagamentos mais próximos de 300 reais por pessoa, enquanto a sugestão de Guedes ficava mais perto dos 250 reais.

Atualmente, o Bolsa Família paga um valor médio de 190 reais a cerca de 14 milhões de famílias. A intenção é que o número de beneficiados do novo programa chegue a 20 milhões. 

O problema é que a ampliação pode chegar a um custo anual de R$ 72 bilhões aos cofres públicos, R$ 40 bilhões acima do Bolsa Família atual, o que ameaçaria o teto de gastos.

Guedes tentou abrir espaço para o programa com a extinção de programas sociais considerados ineficientes por técnicos, como o abono salarial, pago anualmente a trabalhadores formais que ganham até dois salários-mínimos.

Bolsonaro vetou, dizendo que não tiraria "dos pobres para dar a paupérrimos". O benefício era considerado fundamental para viabilizar essa ampliação, já que custa 20 bilhões de reais ao ano. Mas o plano agora terá de ser diferente.

Desde abril, vem se intensificando uma luta interna no governo pelo que resta no Orçamento do ano que vem.

De um lado, a equipe chefiada por Guedes bate na tecla da necessidade de voltar a segurar os gastos já neste ano. De outro, ala liderada pelo ministro do Desenvolvimento Regional (MDR), Rogério Marinho, defende que o país só terá uma retomada sólida com mais investimentos em infraestrutura.

Medidas nesse sentido eram o centro do primeiro desenho do Pró-Brasil, divulgado pelo governo em abril sem a presença do ministro da economia. Nos bastidores, Guedes chegou a comparar o projeto ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), criado pela gestão petista com o mesmo intuito de destravar investimentos em obras para incentivar o crescimento.

A aparente falta de unidade causou rumores sobre a saída do ministro da Economia, intensificados após o que ele mesmo chamou de uma "debandada" da pasta, e, mais recentemente, pela falta de consenso ao redor do Renda Brasil.

 

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusCrise econômicaExame HojeGoverno BolsonaroOrçamento federalRenda Brasil

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor