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Com juro maior, crescimento do PIB per capita deve fechar o ano perto de zero

Analistas, associações produtivas e bancos se preocupam com 2003 recessivo

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h36.

O aumento da taxa de juros para 21% ao ano vai influenciar negativamente o crescimento do país este ano. Para completar, o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) reviu sua projeção de expansão do PIB (Produto Interno Bruto) de 2,2% para 1,8% em 2003. Para este ano, a estimativa caiu de 1,5% para 1,3%. É a quarta revisão de crescimento para baixo que o Ipea divulga desde abril.

Para o BBV Banco, "a projeção do PIB na ótica da demanda sinaliza um crescimento econômico de 1,3% em 2002 e de 2,0% em 2003". "Se lembrarmos que o crescimento populacional é de cerca de 1,4% ao ano, teremos o PIB per capita em reais no final do ano próximo da estagnação pela segunda vez consecutiva", afirma o banco em seu relatório especial, assinado pelos economistas Luis Afonso Lima e Fernando Honorato Barbosa (leia texto completo).

"É claro que o crescimento do país dependerá de outros fatores (além dos juros), como a transição política e a pressão da economia externa. Se as incertezas persistirem, é difícil imaginar a retomada do crescimento do país com juros a 21% ao ano", afirma Odair Abate, economista-chefe do Lloyds TSB.

O impacto dos juros no consumo e na indústria será no custo do financiamento. Com a retração das compras pode ser que a inflação ceda, mas o Produto Interno Bruto (PIB) sai prejudicado, já que a indústria representa cerca de 33% de sua composição. "Considerando o atual cenário de instabilidade, é pouco provável que a indústria e o consumidor façam a sua parte e o PIB não deve crescer mais do que 1,2%", diz Abate. No ano passado, o crescimento foi de 1,5%.

"A decisão do BC foi drástica e irá penalizar a atividade produtiva com o aumento do custo de financiamento às empresas e retração da demanda", afirma Armando Monteiro Neto, presidente da CNI. "Esperamos que a alta seja temporária, por prazo muito curto, como recurso para conter os movimentos especulativos."

Para o BBV, a política monetária deve induzir as empresas a buscarem o caminho mais longo e difícil, dos ganhos de produtividade e substituição de importações, sem deixar de atentar para as compressões demasiadas das margens de lucro. Em contrapartida, o BC manteria uma política monetária cautelosa também em 2003. "Isso significa que as condições internas ainda sinalizam reduzida probabilidade de altas taxas de crescimento econômico até o fim de 2003", afirma o banco.

A justificativa do BC para o aumento da taxa de juros foi a alta da inflação. Os resultados de setembro (alta de 0,72% no IPCA e de 2,64% no IGP-DI) mostraram que dificilmente a meta estabelecida com o Fundo Monetário Internacional (FMI) seria cumprida em 2003. Em vez de renegociar a meta, como fez nos dois últimos anos, o BC preferiu apertar a economia interna. Entretanto, caso o real não apresente uma valorização expressiva nos próximos meses, nem mesmo mais uma performance favorável do setor agrícola deve ser suficiente para impedir que o IPCA se aproxime dos dois dígitos no ano que vem -- a menos que se admita que a recessão econômica no país será mais forte em 2003.

De uma forma ou de outra, a alta dos juros prejudica a atividade industrial. "A medida do BC contribuirá para reduzir a probabilidade de moderada recuperação do nível de atividade ao final do ano", afirmou a Firjan em nota oficial. Já a Fiesp ressaltou, também em nota oficial, que a retomada do crescimento irá depender de quão suave será a transição política para o próximo governo.

Se o presidente eleito, seja quem for, conseguir conter a desconfiança do mercado logo no início do mandato, as estimativas pessimistas podem ser revertidas. "Com credibilidade, o novo governo atrairia dólares, a inflação cederia e com ela a taxa de juros", diz Abate.

Lula ganha com decisões do BC

Não há, portanto, como ignorar os efeitos das recentes decisões do BC na campanha presidencial. A alta da taxa básica de juros em pleno segundo turno de eleições prejudica a campanha de José Serra e dá mais credibilidade aos ataques de Luiz Inácio Lula da Silva, candidato que faz oposição à política econômica de Fernando Henrique Cardoso. Esta é a opinião do cientista político Christopher Garman, da Tendências Consultoria.

"Mudar a taxa de juros a duas semanas das eleições é uma medida impopular e tende a desgastar o candidato do governo", diz ele. "A decisão do BC mostra que a política econômica atual é muito custosa".

Custo que, segundo o analista, favorece o candidato que propõe a mudança do modelo. "O PT vai explorar o episódio como indicação da falência da atual política econômica", diz Garman.

Para ele, a direção da campanha de José Serra precisa, para reverter a notícia negativa, mostrar que o candidato representa um governo responsável que tomou uma decisão impopular mesmo em época eleitoral. "Será necessário dizer para o eleitor que só o governo atual e a continuidade com Serra teria condições de tomar uma decisão dessa natureza".

Cenário externo

A construção de cenários macroeconômicos para 2003 tornou-se complicada também pelas incertezas no cenário internacional: se deve ou não haver o recrudescimento dos conflitos no Iraque, com reflexos ainda maiores nos preços de petróleo e o temor de um cenário deflacionista, em especial nos Estados Unidos, que pode gerar uma recessão global.

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