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Com dólar estável, BC deve reduzir intervenção cambial

Banco Central espera que a recente trégua nos mercados globais o ajude na tarefa sem causar muita instabilidade na taxa de câmbio

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 16 de junho de 2014 às 17h41.

Rio de Janeiro - O Banco Central deve anunciar nas próximas semanas uma nova redução de seu programa de intervenção cambial, na esperança de que a recente trégua nos mercados globais o ajude na tarefa sem causar muita instabilidade na taxa de câmbio.

O governo tem lançado mão de uma série de medidas nos últimos anos para estabilizar a cotação do dólar, que em 2011 atingiu níveis que ameaçavam a indústria brasileira mas depois se enfraqueceu muito rapidamente, alimentando a inflação.

Em uma de suas iniciativas de maior sucesso, o BC lançou em agosto do ano passado um programa de leilões diários de swaps cambiais.

A oferta destes derivativos tem impedido que o real se desvalorize sem que o BC precise vender um único dólar de suas reservas internacionais, que se mantêm em quase 380 bilhões de dólares.

A estratégia também reduziu significativamente a volatilidade cambial, mantendo o dólar entre 2,20 e 2,25 reais durante a maior parte dos últimos dois meses.

Mas para que o programa de intervenções tenha o efeito desejado, os detentores de swap precisam ser capazes, pelo menos em teoria, de trocar estes contratos por dólares em momentos de crise.

Isso significa que o valor dos swaps em circulação não pode exceder o tamanho das reservas internacionais.

Alguns analistas alertam que, por prudência, este limite deve ser ainda mais baixo e recomendam que o Banco Central reduza o ritmo de intervenção.

O BC já cortou o volume de venda de swaps em dezembro, mas o estoque destes contratos subiu para quase 90 bilhões de dólares desde então.

"O Banco Central não pode vender swaps para sempre. Ele tem que usar este instrumento em situações específicas", disse o professor visitante da Stanford University Márcio Garcia, que estuda o programa brasileiro de intervenção cambial.

"A situação hoje é muito tranquila, não é uma situação em o BC deve estar gastando as reservas ou os derivativos que estão lastreados nas reservas", acrescentou Garcia, que também é professor de economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Desde o começo do ano, o dólar se desvalorizou mais de 5 por cento ante o real.

A queda deve-se em parte ao resultado da oferta constante de swaps, mas também devido à expectativa de que as taxas de juros dos Estados Unidos não subam até o segundo semestre de 2015.

Até agora, no entanto, as tentativas de cortar as intervenções têm se mostrado difíceis.

No início deste mês, quando o Banco Central tentou reduzir o ritmo de rolagem de contratos de swap que estão para vencer, o dólar subiu 1,5 por cento contra o real em um único dia, forçando a autoridade monetária a recuar.

Além de retomar o ritmo anterior de rolagem, o BC prometeu que continuaria a vender swaps após 30 de junho, de forma a eliminar a especulação de que o programa de intervenção estaria com os dias contados.

Detalhes sobre duração e o tamanho que o programa terá nos próximos meses ainda não foram anunciados. Consultado, o Banco Central preferiu não fazer comentários sobre o futuro das intervenções.

Atualmente, o banco oferece por dia até 4 mil contratos de swap no valor de 200 milhões de dólares, além de 10 mil contratos para rolar swaps que estão para vencer.

Para o chefe de estratégia para mercados emergentes do Brown Brothers Harrima, Win Thin, o BC poderá reduzir o ritmo de intervenção se o câmbio estiver mais próximo do nível de 2,20 reais por dólar.

Se o BC mantiver o programa na sua forma atual, com a rolagem integral dos swaps que vencerem, o estoque destes contratos atingirá mais de 115 bilhões de dólares até o fim do ano, segundo cálculos do Credit Suisse.

A chefe de renda fixa do U.S. Bank Wealth Management, Jennifer Vail, estima que o BC ainda pode elevar o montante de swaps em circulação em 30 por cento sem levantar grandes preocupações entre os investidores.

"Há sempre riscos de eles continuarem a elevar a exposição (aos swaps), mas eu não acho que o programa tenha atingido níveis que preocupam as autoridades," disse ela.

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