Colchão robusto garante pagamento de auxílio, diz Tesouro
Uma despesa menor com auxílio, o uso de recursos dos fundos públicos e a elevação da Selic deixam o Tesouro numa posição mais confortável neste ano do que em 2020
Fabiane Stefano
Publicado em 16 de março de 2021 às 18h44.
Última atualização em 16 de março de 2021 às 18h57.
O Tesouro Nacional já tem caixa suficiente para o pagamento da nova rodada de auxílio emergencial sem precisar correr para emitir dívida como fez no ano passado. O governo começou o ano com um colchão de liquidez “robusto” que permite financiar o programa social, disse o secretário do Tesouro, Bruno Funchal, em entrevista.
O pagamento de novas parcelas de ajuda para trabalhadores que ficaram sem renda durante a pandemia custará 44 bilhões de reais em 2021, uma fração dos 322 bilhões gastos no ano passado com o mesmo benefício. As quatro parcelas devem começar a ser pagas em abril, depois que o Congresso aprovou a PEC Emergencial, que autorizou a despesa a ser realizada fora da meta fiscal de 2021 e do teto de gastos, visto como crucial para a estabilidade fiscal do país.
A PEC também ajudará o Tesouro na gestão da dívida pública, pois autorizou que mais de 200 bilhões de reais de fundos públicos sejam utilizados para abater o estoque nos próximos três anos. “Estamos indo na direção correta”, disse Funchal ao comentar os efeitos da PEC Emergencial.
Alta da Selic
A esperada elevação da taxa Selic pelo Banco Central também pode acabar tendo um reflexo positivo na dívida, ao reduzir a inclinação da curva de juros, afirmou o subsecretário da Dívida Pública do Tesouro, José Franco de Morais. “Quanto menos inclinada a curva, melhor para a dívida pública”, disse Franco.
Uma despesa menor com auxílio, o uso de recursos dos fundos públicos e a elevação da Selic deixam o Tesouro numa posição mais confortável neste ano do que em 2020.
No ano passado, a secretaria teve de se apressar na emissão de títulos para financiar os gastos com a pandemia, o que acabou levando a um encurtamento do estoque. Investidores passaram a rejeitar papéis com prazos mais longos em meio a um aumento do risco fiscal. O mau humor se espalhou para o real, que terminou o ano com o pior desempenho entre as moedas dos mercados emergentes.
Enquanto a nova rodada do auxílio está limitada a 44 bilhões de reais, como aprovado pelo Congresso, o agravamento da pandemia pode levar o governo a fazer uma prorrogação do benefício.
O Brasil viu um agravamento da pandemia nas últimas semanas, atingindo números recordes de mortes e novos casos. Essa deterioração levou estados e municípios a anunciar novas medidas de circulação de pessoas, incluindo São Paulo, onde as regras impostas foram as mais duras desde a chegada do vírus no início de 2020.
Na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, sinalizou que, se o vírus continuar a se espalhar e a vacinação não for acelerada, o auxílio emergencial poderia ser prorrogado. Se esse cenário se confirmar, Funchal explicou, o governo pode encaminhar ao Congresso uma nova PEC para assegurar um novo pagamento residual.
“A melhor política fiscal é acelerar a vacinação”, disse Funchal.