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Cobre 'a preço de ouro' no mercado internacional

Nunca o metal valeu tanto. No Brasil, máfias estão se especializando no roubo de carga

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h05.

Desde que o preço do cobre começou a ser cotado, em 1870 pela London Metal Exchange (LME), nunca seu valor foi alto no mercado internacional. Somente nestes três primeiros meses do ano, a valorização foi de 30%. Nos últimos três anos, o preço subiu 230%. Em valores absolutos, a tonelada do cobre chegou a 5.700 dólares nesta semana.

Atualmente, não existe uma diferença muito grande entre oferta e demanda. Estima-se que a produção de cobre no mundo esteja em torno de 16 milhões de toneladas, contra um consumo anual um pouco maior, de 17 milhões de toneladas. O que está puxando a cotação do metal para cima não é tanto a produção presente, e sim o que acontecerá no futuro.

"Como em qualquer commodity, as expectativas futuras sobre oferta e demanda têm forte influência no preço presente", diz o professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), Evaldo Alves. "O mercado está tentando prever qual será o nível de demanda daqui a alguns anos. E a China tem um papel preponderante na formação dessas expectativas", diz o professor. O mesmo fenômeno é observado com outros metais não-ferrosos, como zinco e níquel, que têm reservas mais limitadas do que outras commodities. O minério de ferro, mais abundante, custa 63 dólares a tonelada.

O cobre é utilizado principalmente na fabricação de condutores elétricos para a construção civil e também para a indústria. Daí a demanda pelo produto estar associada ao crescimento de países emergentes. Segundo o professor da FGV, o elevado preço do cobre tem fundamento. "A parcela referente à simples especulação é muito pequena. O fato é que existem economias, como a China, a Índia e o México, que vão consumir muito cobre nos próximos anos. E os investidores estão apostando nessa demanda", explica Alves.

No Brasil, caso de polícia

Conhecido mundialmente por sua presença marcante no mercado de commodities, no caso do cobre o Brasil está longe de ser um fornecedor de peso. As maiores reservas estão concentradas no Chile (25%) e nos Estados Unidos (14%). Mais de 90% do metal utilizado no Brasil é importado e os poucos produtores nacionais têm de enfrentar não apenas a concorrência internacional, mas também um problema local: os roubos de carga e das próprias fábricas.

A alta do cobre está chamando a atenção de quadrilhas especializadas. Somente no ano passado, foram roubadas 900 toneladas, o equivalente a 12 milhões de reais. O volume é três vezes maior do que o registrado em 2004, quando as empresas perderam 300 toneladas. Segundo Sérgio Aredes, presidente do Sindicato da Indústria de Condutores Elétricos e de Metais Não-Ferrosos, o preço do cobre está estimulando uma indústria paralela. Em outras palavras, a pirataria.

"Basta ir a uma loja e verificar a diferença de preço entre produtos similares. Um foi feito com cobre oficial, o outro com cobre roubado", diz Aredes. Segundo ele, a diferença no produto final chega a 60%.

Na visão do presidente do Sindicato, há um exagero no preço atual do cobre, e o motivo está na especulação financeira. "O material está artificialmente valorizado", diz Aredes, que define um preço justo em torno de 2 000 dólares a tonelada.

Auto-suficiência

Se tudo correr como planejado, o Brasil deixará de importar cobre até o final da década. A auto-suficiência foi prometida pela Vale do Rio Doce, que em 2003 adquiriu a usina do Sossego, sul do Pará, que tem uma reserva estimada em 250 milhões de toneladas de cobre. Com investimentos de 330 milhões de dólares, a Vale pretende, até 2007, ter uma capacidade produtiva de 650 000 toneladas por ano.

 

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