Economia

Clima e economia: inundações reforçam série de tragédias no RS e podem levar a recessão em 2024

Estiagens e tempestades já afetaram o crescimento do estado, que acumula expansão de apenas 0,6% entre o quarto trimestre de 2019 e o quarto trimestre de 2023

Vista aérea de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, tirada em 5 de maio de 2024 (Ricardo Stuckert/Brazilian Presidency/AFP)

Vista aérea de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, tirada em 5 de maio de 2024 (Ricardo Stuckert/Brazilian Presidency/AFP)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 6 de maio de 2024 às 12h39.

Última atualização em 7 de maio de 2024 às 17h04.

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A maior tragédia da história do Rio Grande do Sul pode levar o estado a registrar uma recessão em 2024, avaliam economistas ouvidos pela EXAME. Essa retração, entretanto, pode ser minimizada com a série de medidas para impulsionar a retomada da atividade econômica.

Entre as ações apontadas pelos especialistas estão:

  • A reconstrução da infraestrutura rodoviária;
  • A limpeza das cidades;
  • A reconstrução de lojas;
  • A agilidade para a liberação de recursos federais;
  • O diferimento no pagamento de impostos;
  • Linhas de crédito para famílias e empresas.

O economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL Porto Alegre), Oscar Frank, afirmou que os problemas climáticos nos últimos anos têm afetado significativamente a economia do estado.

Os períodos de estiagem e de chuvas em excesso contribuíram para que o produto interno bruto (PIB) do Rio Grande do Sul crescesse apenas 0,6% entre o quarto trimestre de 2019 e o quarto trimestre de 2023. No mesmo período, segundo Frank, o Brasil registrou alta de 7% do PIB.  

“Nós ainda estamos contabilizando os estragos. Mas precisaremos de um plano ambicioso para, no curto prazo, reestabelecer serviços de energia elétrica, abastecimento de água, reconstrução de estradas, escolas, hospitais e infraestrutura pública. Além disso, vamos precisar de apoio do governo estadual e federal, com diferimento de impostos e carências para o varejo se reorganizar”, disse.

Queda na demanda e necessidade de crédito

Frank também afirmou que com as cidades inundadas há uma queda abrupta de demanda já que as pessoas não podem consumir e os estabelecimentos comerciais e produtivos estão fechados. Além disso, as famílias tendem a reduzir o consumo, diante da necessidade de formação de poupança para bancar a reconstrução das casas.

“A oferta de crédito será essencial tanto para as famílias quando para as empresas. Para o varejista será necessário entrar em contato com prestadores de serviços, com bancos para repactuar seus contratos”, disse.

Impacto limitado no agronegócio

O economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul, Antônio da Luz, afirmou que as perdas no agronegócio serão limitadas já que parte considerável da safra de grãos já foi colhida. Segundo ele, ainda era necessário colher 24% da safra de soja, 15% da de milho e 30% da de arroz.

O problema, disse Luz, será logístico. Com diversos bloqueios nas estradas, o escoamento da produção agrícola pode ser afetado e comprometer uma parte da safra.

“As perdas foram grandes, mas o risco de recessão pode diminuir dependendo da ação do governo federal. Se tivermos acesso a crédito para reconstruir as unidades produtivas urbanas e rurais, as perdas serão limitadas. Mas se tivermos a mesma desatenção que tivemos nos períodos de estiagem e nas enchentes de primavera vamos nos preparar para um PIB de guerra, que significa recessão”, afirmou.

Enquanto ainda não é possível entender como será articulação dos governos estaduais, federais e como se dará oferta de crédito para as famílias e empresas, Luz afirmou que as decisões precisam ser tomadas de maneira célere.

“Não é momento de falar de perdas financeiras enquanto tem gente com fome, sem água e esperando resgate em cima dos telhados. Nós vamos precisar de apoio do governo federal, que não tivemos no passado recente”, disse.

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