Escada no Rio de Janeiro: mobilidade social melhorou nas últimas décadas (Sérgio Moraes/Reuters)
Talita Abrantes
Publicado em 27 de fevereiro de 2019 às 17h59.
Última atualização em 27 de fevereiro de 2019 às 18h20.
São Paulo - A possibilidade dos filhos de famílias pobres terem uma renda melhor que a dos pais avançou no Brasil nas últimas duas décadas, segundo pesquisa feita no Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/IBRE).
De acordo com o estudo, a associação entre a renda dos pais e a de seus filhos caiu 20 pontos percentuais entre 1996 e 2014, passando de 0,75 para 0,55 em uma escala que vai de zero a um.
A diferença de renda entre gerações é um indicador importante para medir as condições de igualdade de oportunidades de uma dada sociedade. Quanto menor for o peso da renda dos pais sobre a dos filhos, maior é a mobilidade social naquele grupo — o que indica que as chances de ter sucesso na vida estão melhor distribuídas.
No Brasil, essa mudança ficou mais evidente entre os mais pobres. Nesse estrato da população, a associação entre a renda das duas gerações caiu 40%. Entre as mulheres negras, a oscilação foi ainda maior: de 44 pontos.
Com base em simulações matemáticas, Duque concluiu que a educação teve papel preponderante para tornar a oferta de oportunidades mais justa.
“Até o final da década de 1980, havia uma grande desigualdade de acesso à escola. Os filhos das famílias mais pobres frequentavam no máximo os primeiros anos do ensino fundamental enquanto os filhos das famílias mais ricos chegavam até a faculdade”, afirma o economista Daniel Duque, autor da pesquisa.
Dados da PNAD mostram que na década de 1980, cerca de 25% das crianças entre 7 e 14 anos e quase metade dos adolescentes com idade entre 15 e 17 anos estavam fora da escola. Em 2001, esses números já tinham caído para 2% e 15%, respectivamente.
Mas o Brasil ainda tem um longo caminho a trilhar para garantir igualdade de oportunidades a todos. "Nos países desenvolvidos, a associação entre a renda dos pais e a dos filhos é bem menor que 0,50", diz Duque.
Pesquisa do IBGE de 2017 mostra que apenas metade dos filhos conseguem melhorar de lugar na pirâmide social com relação aos seus pais e que só 1 em cada 5 daqueles que saem da base conseguem, de fato, chegar ao topo.
Ao mesmo tempo, metade dos brasileiros com mais de 25 anos tinham concluído apenas o ensino fundamental até 2016, segundo dados do IBGE — um indício de que, para se ter uma sociedade mais justa, o Brasil precisa resolver seu problema educacional.