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Carlos da Costa: "Tinder do emprego" será o mais avançado do mundo

O secretário Especial do Ministério da Economia fala a EXAME sobre o potencial do novo SINE e os desafios para melhorar o ambiente de negócios do país

Carlos da Costa Sec Especial de Produtividade, Emprego e Competitividades Ministério da Indústria (Ministério da Economia/Divulgação)
AJ

André Jankavski

Publicado em 13 de abril de 2019 às 08h00.

Última atualização em 13 de abril de 2019 às 08h00.

São Paulo — O economista Carlos da Costa, responsável pela Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, acredita que a equipe do ministro Paulo Guedes está ficando alheia aos ruídos causados pela ala ideológica do governo. E que também está conseguindo trazer resultados.

Um exemplo é o novo Sistema Nacional de Emprego (SINE), que vem sendo chamado de "Tinder do emprego" por seguir um modelo similar do conhecido aplicativo de relacionamento, e já está dando os seus primeiros passos. O governo criou um sistema, que utiliza inteligência artificial, para ligar desempregados a empresas com vagas abertas.

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A combinação ocorre quando as qualificações do trabalhador batem com a descrição da vaga. Costa acredita que em dois anos o serviço estará disponível em sua integralidade e que será um dos mais avançados do mundo.

Outra questão que não aflige o secretário são os conflitos entre o governo e o Congresso. Segundo ele, a agenda da sua secretaria está sendo vista como positiva por diversos partidos.

"Temos conversado com muitos parlamentares nessas últimas semanas e há muito boa vontade deles", diz.

O secretário será um dos participantes do Fórum Veja e EXAME - 100 dias de governo, no próximo dia 15. Confira, a seguir, a sua entrevista:

Como o senhor enxerga o trabalho da secretaria até aqui?

O maior desafio desse início, que começou na transição, foi criar uma grande integração de quatro ministérios. Não é algo simples. Só na minha área são 800 pessoas e 13 secretarias com culturas e direcionamentos totalmente diferentes. A minha secretaria especial, para completar, foi a única que pegou áreas dos quatro ministérios.

É muito difícil, no meu caso, consolidar e integrar sem nenhum ruído. Mesmo assim, a nossa equipe está de parabéns porque isso foi feito sem reclamações.

Houve cortes na sua secretaria?

Tivemos um enxugamento de cargos muito grande. Cortamos 60% das secretarias, de 13 foram para 5. E os cortes foram mais em cargos mais altos do que os da base. Baixamos de 230 para 170 cargos. Inclusive, no nosso ambiente não existe nem salas, nem para os secretários. E fizemos isso em dois meses.

A equipe econômica, o que inclui a sua secretaria, conseguiu ficar alheia às divergências políticas?

Os servidores são técnicos. Muitos deles, inclusive, ficaram felizes que o novo governo não impôs uma ideologia. Temos uma linha técnica econômica que é compatível ao trabalho e que foi chancelada nas urnas. O técnico que tem o espírito público e compromisso com o Estado entende que se a direção do governo muda democraticamente, ele também precisa ser flexível.

E eu encontrei uma estrutura de gestão muito bem organizada no antigo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Os dois ministros anteriores fizeram um ótimo trabalho.

Como está o andamento do SINE, que é visto como um "Tinder" do trabalho?

Ele já está pronto e as empresas de Recursos Humanos estão se conectando ao sistema. Isso não será visível para o trabalhador em um primeiro momento. Essa ferramenta será a mais avançada de "job matching" do mundo. Mas ela possui várias fases, que vão durar dois anos. Vamos conectar trabalhadores desempregados com empresas, de acordo com as competências das pessoas e as necessidades das companhias.

Para as próximas etapas, a Microsoft está trazendo alguns dos melhores cientistas de inteligência artificial para melhorar a base de dados e perguntas. Depois, vamos transformar toda a questão de usabilidade. Será uma plataforma mais inteligente e uma das mais avançadas do mundo.

Desta maneira, o governo quer tomar o espaço das empresas de RH?

Pelo contrário. Os serviços se complementam. Um dos nossos princípios é não fazer o que as empresas privadas podem fazer. O nosso trabalho será abrir os dados e deixar elas se conectarem.

Quais são as medidas de curto prazo que a secretaria enxerga como principais para destravar a economia?

Vamos tirar o Estado do cangote de quem produz. Passamos por um processo com cada vez mais normas e regulações. Começamos um movimento para simplificar isso. Por exemplo, lançaremos o programa "Empresa Nasce Legal". Hoje, a empresa consegue se registrar, mas não consegue abrir porque os estados precisam dizer se ela é de alto ou baixo risco. O problema é que demora 60 dias para essa aprovação ocorrer.

Vamos inverter essa lógica. A empresa já vai nascer legal, a não ser que o Estado diga quais são os setores de alto risco. Hoje, uma banca de jornal e uma mineradora passam pelo mesmo processo. Vamos lançar isso em até o fim do mês se for como Medida Provisória. Se for Projeto de Lei dependerá da tramitação.

E como está o diálogo com o Congresso para aprovar essas medidas?

Temos conversado com muitos parlamentares nessas últimas semanas e há muito boa vontade deles. Não tive uma reunião com nenhum parlamentar, seja de situação ou oposição, que não estivesse inclinados a ajudar nesse processo. Temos exemplos como o Cadastro Positivo e o Protocolo de Madri que foram aprovados depois de muitos anos. A nossa agenda positiva não terá problema no Congresso. Foi fruto de muito diálogo desde a transição.

Estamos vendo alguns entreveros entre o governo e o Legislativo. Há ruídos na área política. Isso pode impactar a agenda da secretaria?

Os entreveros são naturais em qualquer democracia. No Parlamento Inglês ocorre isso também e todos discutem fortemente. Essa é a sociedade aberta, de diálogo e de convergência. As vezes terão discussões duras, mas com objetivos comuns e com tolerância a quem pensa diferente. O debate é muito saudável para a sociedade e não vamos fugir dele.

Como está o andamento da questão do corte de subsídios? Houve conflito com os empresários? Foi falado que o senhor discutiu com empresas automotivas, como Ford e GM.

Zero conflito, mas houve alguns ruídos. No caso da GM disseram que eu falei uma frase na reunião, o que não é verdade. Com a Ford nem houve pedido, mas uma conversa. Como a empresa tinha recebido subsídio no passado, não teria como simplesmente fechar a fábrica sem conversar com o governo sobre medidas que reduzam o impacto.

Eu tenho um método. Depois de dar as boas vindas e agradecer a presença nas reuniões, eu sempre falo que quero fazer tudo para melhorar o ambiente de negócios, menos dar mais subsídio, mais gasto público ou proteção comercial. Isso nós não discutimos. Todo mundo entendeu e trazem sugestões para destravar a economia.

O senhor coloca a produtividade como a grande meta da sua secretaria. Aonde o sr. quer chegar?

A produtividade, para crescer, tem que ser prioridade dentro do governo. E apesar do tema ter sido trabalhado por uma área ou outra nos antigos governos, não existe uma priorização como há hoje. O objetivo de longo prazo é ter um país muito produtivo.

Queremos ficar entre os 50 primeiros do ranking Doing Business (estudo sobre ambiente de negócios feito pelo Banco Mundial). E não só a ele, como vários outros. Estamos orientados para subir em todos os levantamentos.

O desemprego, hoje, é um dos maiores problemas do Brasil. O quanto que melhorar nesses rankings pode fazer com que parte desse problema seja resolvido?

A busca pelo pleno emprego é a maior urgência do país. Mas se o Brasil for produtivo, esse problema é naturalmente resolvido. Com mais produtividade terá mais emprego e, o principal, de qualidade. O que é melhor ainda.

Na Idade Média, por exemplo, não existia problema de emprego. Todos eram servos e trabalhavam nas propriedades. Mas as condições era subumanas. Ou seja, tem que ser emprego de qualidade. O Brasil precisa aumentar a sua produtividade.

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