Brigas comerciais e tensões geográficas ofuscam reunião do Brics
A perspectiva de o grupo se transformar em uma potência unida de economias emergentes parece tão distante quanto quando o termo foi cunhado em 2001
Da Redação
Publicado em 28 de julho de 2017 às 16h01.
Pequim - Os ministros de Comércio Exterior dos países do Brics -- Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul -- se reunirão em Xangai na semana que vem sob a sombra das crescentes disputas comerciais e tensões geográficas entre os membros asiáticos do grupo.
A reunião precede a cúpula anual de líderes de setembro e marcará a discussão da liberalização do comércio, o compromisso com um sistema multilateral e outras questões, segundo comunicado do Ministério do Comércio chinês, nesta semana. Mas a perspectiva de o grupo se transformar em uma potência unida de economias emergentes parece tão distante quanto quando o economista Jim O’Neill cunhou o termo, em 2001.
A divisão entre as economias emergentes pode criar tensões entre vencedores e retardatários, segundo Louis Kuijs, chefe de economia da Oxford Economics para a Ásia em Hong Kong. “Esta tensão provavelmente vai piorar em vez de melhorar na próxima década e diminuirá a capacidade do Brics de falar como uma só voz.”
O Brics encontrou pouco terreno comum nos últimos anos porque suas trajetórias de crescimento divergiram e as ambições geopolíticas geraram tensões. A China manteve um ritmo de crescimento rápido, embora menor, e a Índia tem disputado com os chineses o direito de se declarar a grande economia de mais rápido crescimento do mundo.
Mas a vida tem sido mais difícil para as economias dependentes de commodities da Rússia, da África do Sul e do Brasil, este atormentado também por uma crise política.
Há apenas três anos o presidente da China, Xi Jinping, apresentou seu “modelo” para os países Brics, pedindo laços mais próximos dentro do bloco e um “mercado mais integrado”. Seu colega russo, Vladimir Putin, também esperava que o grupo desse nova forma à ordem econômica global e classificou a cooperação Brics como prioridade nacional. O Novo Banco de Desenvolvimento, de US$ 50 bilhões, com contribuições de capital iguais das cinco economias, foi lançado em Xangai em 2015 para oferecer uma fonte de financiamento alternativa ao Banco Mundial.
Mas em vez de aumentar a integração, o clube continua frouxo e dividido. As relações comerciais entre a China e alguns dos outros quatro países pioraram e as crescentes exportações de produtos manufaturados da potência estão gerando pedidos protecionistas.
A Índia abriu recentemente uma investigação antidumping sobre as fabricantes chinesas de equipamentos solares, a última de uma série de apurações desse tipo. O país do sul da Ásia lançou 12 processos comerciais contra Pequim nos seis primeiros meses de 2017, maior número do mundo, segundo o Ministério do Comércio da China.
Brasil e China também têm se enfrentado. A maior economia da América Latina ampliou uma investigação sobre o aço chinês e a China impôs tarifas adicionais às importações de açúcar, gerando reclamações do Brasil.
A geopolítica também está entrando no caminho.“Os países Brics, individualmente, estão mais focados na expansão de seu espaço econômico e de sua influência geopolítica em suas vizinhanças geográficas imediatas”, disse Chua Hak Bin, economista sênior da Maybank Kim Eng Research em Cingapura.
O comércio dentro do bloco pode continuar crescendo com o fortalecimento de suas economias, mas os relacionamentos mais importantes da China continuarão sendo com EUA, Europa e o restante da Ásia, disse Shen Jianguang, economista-chefe para a Ásia na Mizuho Securities Asia em Hong Kong.
Tudo isso parece limitar as perspectivas de um progresso significativo na semana que vem.
“Para ser sincero, o Brics sempre foi uma construção um pouco artificial”, disse Kuijs.