Brasília
A vez do setor privado
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h24.
Quem desembarca no Distrito Federal logo percebe no caminho do aeroporto para o centro que luxuosos hotéis já disputam a atenção do visitante com os monumentos e os prédios governamentais, como o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e a Catedral de Brasília. Não é para menos. Neste ano, mais de 257 milhões de reais foram investidos na construção de hotéis na capital federal. Entre 1999 e 2000, tais investimentos não chegaram a 21 milhões de reais. Quando todos os hotéis que estão em construção forem concluídos, a capacidade de oferta de acomodação na cidade vai dobrar.
"Agora só falta atrair consumidores", diz Eraldo Alves da Cruz, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis. Para Cruz, as áreas de turismo e entretenimento oferecem as maiores oportunidades de negócio dessa cidade de mais de 2 milhões de habitantes. Sua percepção é reforçada também pelo potencial de consumo local, de 3 892 dólares por habitante - 38% acima da média das 234 cidades pesquisadas pela Simonsen Associados. Segundo o estudo, Brasília é a sétima melhor cidade do país para fazer negócios.
Para explorar as oportunidades na área do lazer já existem empreendimentos como o Pier 21, um centro de entretenimento e gastronomia inaugurado em junho do ano passado, que está faturando em média 350 mil reais por mês, localizado no Lago Sul, bairro às margens do lago Paranoá. A mais nova atração do centro é o restaurante da rede americana Friday's, na qual foram investidos 1 milhão de reais. "A expectativa é de que a unidade de Brasília se torne nossa segunda maior loja em faturamento no país", diz Luciano Nieri, presidente do Friday's. Ao norte, na outra extremidade do Paranoá, foi aberto o Bay Park, um parque aquático de 106 mil metros quadrados, no qual a Construtora e Administradora Correia investiu 60 milhões de reais. "Queremos atrair 100 mil visitantes por mês", diz Sebastião Correia, presidente da empresa. Empresários como Correia apostam na mudança da imagem de Brasília, de uma cidade administrativa que é abandonada durante os fins de semana. "Já existe uma população flutuante, inclusive durante os meses de férias", diz Adalberto Fiori, superintendente do Pier 21.
O turismo de negócios é outra área que despertou o interesse de empresários e do governo. Depois de ter perdido 40 eventos de negócios em 2000 para a vizinha Goiânia e deixar de gerar uma receita de 40 milhões de reais, Brasília percebeu que precisava posicionar-se nesse mercado. Atualmente, o principal projeto da Agência de Desenvolvimento do Turismo do Distrito Federal (Adetur) é a reforma do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, no qual serão investidos 40 milhões de reais para ampliar sua capacidade de acomodação de 1,8 mil para 7 mil lugares. Uma prova de que há uma forte demanda para o turismo de negócios é a ocupação do mais novo hotel da cidade, o Blue Tree, um investimento de 130 milhões de reais da Paulo Octávio Investimentos Imobiliários. Desde sua inauguração, em abril deste ano, 60% do faturamento do hotel vem do aluguel de suas salas de convenções. "É uma composição atípica, pois geralmente é a hospedagem que responde pela maior fonte de receita", diz Helder Carneiro, superintendente das Organizações Paulo Octávio.
Mas não é só do lado dos serviços que a cidade pretende crescer. "Queremos construir uma cidade com vida econômica própria", diz Lazaro Marques Neto, secretário de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal. Tal esforço está refletido no Programa de Desenvolvimento Sustentável do Distrito Federal, que até outubro aprovou a criação de 3,5 mil empresas, totalizando investimentos privados diretos da ordem de 1 bilhão de reais. O governo, em contrapartida, destinou mais de 1,6 bilhão de reais ao programa na forma de incentivos fiscais. Em 2002, outros 2,2 mil projetos serão analisados, representando mais 627 milhões de reais em investimentos. Quando todas essas empresas abrirem suas portas para o mercado serão gerados mais de 130 mil empregos.
"A cidade está pronta para receber investimentos de qualquer tipo, mas grandes oportunidades estão nas fábricas sem chaminés", diz Valdivino José de Oliveira, secretário de Fazenda e Planejamento do Distrito Federal. Oliveira se refere às fábricas de atividades não poluidoras, que poderão reduzir a dependência da importação de produtos de outros centros do país. Entre elas, as mais promissoras são as de confecção, móveis e informática, que já acumulam histórias de sucesso. Recentemente, por exemplo, a empresária Walquíria Pereira Alves, pedagoga brasiliense, reuniu 15 empresas para montar o consórcio Flor Brasil com a ajuda de um convênio de 750 mil reais firmado com a Agência de Promoção à Exportação do governo federal. No primeiro ano de operação, o consórcio faturou 45 mil dólares com a venda de biquínis, maiôs e sungas para a Itália. As vendas da próxima coleção, que embarca em abril de 2002, já alcançaram 320 mil dólares. "Brasília oferece a vantagem de ser um centro de informações", diz Walquíria. "Temos contato direto com embaixadas e agências de fomento."
A vocação de cidade administrativa marcou Brasília. Para muitos empresários, sobretudo de fora, fazer negócios na capital era um processo burocrático e lento. Mas isso está começando a mudar." A chegada da iniciativa privada trouxe também um mercado mais exigente e formal", diz Renato Grillo Ely, presidente da TC/BR, empresa de consultoria brasiliense que foi incorporada pelo grupo francês Altran. A TC/BR construiu o metrô de Brasília, que começou a funcionar em julho deste ano. Dos 41 quilômetros planejados da obra, orçada em 1,2 bilhão de dólares, 32 quilômetros já estão operando. A conclusão do metrô possibilitou o crescimento de cidades-satélites como Águas Claras, onde atualmente existem 80 prédios residenciais em andamento. Para o setor imobiliário, Brasília ainda é uma cidade em construção. "Cerca de 85% do território urbano do Distrito Federal ainda está disponível", diz Eri Rodrigues Varela, presidente da Terracap, Companhia Imobiliária de Brasília.