Brasil vê perspectivas de explorar fosfato na Tunísia
''Há muitas empresas brasileiras na região, na Líbia em particular, desenvolvendo projetos ambiciosos de infraestrutura'', diz Antonio Patriota
Da Redação
Publicado em 25 de abril de 2012 às 21h08.
Túnis - O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, reuniu-se nesta quarta-feira com o chanceler da Tunísia , Rafik Abdessalem, em uma visita oficial ao país árabe para reforçar os laços bilaterais e apoiar o governo liderado pelo presidente Moncef Marzouki.
Entre os objetivos da visita, a primeira de um chanceler brasileiro à Tunísia após a revolução de 14 de janeiro de 2011, estavam previstas consultas políticas com as principais autoridades do governo local sobre as mudanças em curso no mundo árabe e sobre a cooperação bilateral nos setores de agricultura - tecnologia de produção e segurança alimentar - e assuntos sociais - luta contra a fome e a pobreza.
Confira a seguir uma entrevista exclusiva concedida pelo ministro Patriota à Agência Efe, na sede do Ministério de Negócios Estrangeiros da Tunísia, em Túnis:.
Quais as principais áreas de interesse econômico do Brasil na Tunísia?
Patriota: A agricultura é uma delas, mas também há todo um esforço aqui para combater a pobreza extrema, desenvolver o progresso social. Eles (os tunisianos) querem conversar com o Brasil e ver em que medida nossa experiência pode ser útil. Eles são uma potência em matéria de turismo, teríamos interesse em aprender e cooperar com eles.
Também no plano do desenvolvimento institucional e da opinião pública, o país está passando por um momento de grande efervescência e, nesse sentido, há um grande interesse em estabelecer um diálogo. Hoje está aqui o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que vai manter contatos com sua contraparte do Banco Africano de Desenvolvimento (Donald Kaberuka).
Com isso, podemos analisar alguns projetos específicos. Também comentei que há muitas empresas brasileiras aqui na região, na Líbia em particular, desenvolvendo projetos ambiciosos de infraestrutura, e não há por que não imaginar uma presença mais forte de empresas brasileiras na Tunísia no futuro''.
Em 2009, o então chanceler Celso Amorim veio à Tunísia e demonstrou o interesse do Brasil na exploração de fosfato na região tunisiana de Gafsa. Ainda há esse interesse?
Patriota: É ainda interessante, porque o Brasil precisa de fato de fosfato. A gente importa daqui, do Marrocos, também estamos desenvolvendo no próprio Brasil uma indústria. No passado, algumas empresas brasileiras tentaram alguma aproximação. Agora as condições mudaram, é um novo contexto, vejo como muito promissoras as perspectivas inclusive nessa área.
Com as recentes mudanças políticas decorrentes da Primavera Árabe, o que o senhor acha que falta para a Tunísia e outros países da região avançarem em matéria de direitos humanos?
Patriota: A Tunísia está em condições de se transformar em líder nessa área. Eles realizam aqui o que nós consideramos um modelo de transição, pois é uma transição que se realiza com base na estabilidade, sem violência, sem polarização que provoque grandes tensões na sociedade. Nós temos a confiança de que culminará com a adoção de uma nova Constituição, de um calendário eleitoral.
Eu tive hoje a oportunidade de me reunir não só com o presidente Moncef Marzouki, ele próprio um líder na área de direitos humanos, mas também com o presidente da Assembleia Constituinte, Mustapha Ben Jaâfar. Dessas conversas, saio convencido de que a Tunísia dispõe de lideranças de muita sabedoria, muita capacidade de encontrar um caminho próprio.
Daí, para se transformar numa liderança em direitos humanos, será uma etapa curta. Conversamos sobre isso não só porque o Brasil é candidato ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, mas também estamos apoiando a Tunísia, que será candidata no ano que vem.
Como o senhor definiria a atual política do governo Dilma Rousseff em relação ao mundo árabe e, especificamente, em relação à crise síria?
Patriota: Muita ênfase na integração regional e uma grande abertura em relação ao mundo com participação em novas parcerias com os povos, que vão constituindo uma ordem multipolar contemporânea, tanto com as potências estabelecidas como com as novas potências, os Brics por exemplo. E também um olhar muito atento sobre o mundo em desenvolvimento.
A África, que é nossa vizinha no Atlântico Sul, o mundo árabe, a Ásia... No caso da Síria, nós vemos hoje com certa expectativa positiva a implementação do programa de seis pontos do ex-secretário-geral Kofi Annan e a interposição de observadores militares. Essa é a prioridade no momento.
Não é um fim em si mesmo, mas um caminho para o fim das hostilidades, da violência, e para o estabelecimento de um mapa do caminho político de transição. E então caberá aos próprios sírios determinar qual deve ser o caminho.
Túnis - O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, reuniu-se nesta quarta-feira com o chanceler da Tunísia , Rafik Abdessalem, em uma visita oficial ao país árabe para reforçar os laços bilaterais e apoiar o governo liderado pelo presidente Moncef Marzouki.
Entre os objetivos da visita, a primeira de um chanceler brasileiro à Tunísia após a revolução de 14 de janeiro de 2011, estavam previstas consultas políticas com as principais autoridades do governo local sobre as mudanças em curso no mundo árabe e sobre a cooperação bilateral nos setores de agricultura - tecnologia de produção e segurança alimentar - e assuntos sociais - luta contra a fome e a pobreza.
Confira a seguir uma entrevista exclusiva concedida pelo ministro Patriota à Agência Efe, na sede do Ministério de Negócios Estrangeiros da Tunísia, em Túnis:.
Quais as principais áreas de interesse econômico do Brasil na Tunísia?
Patriota: A agricultura é uma delas, mas também há todo um esforço aqui para combater a pobreza extrema, desenvolver o progresso social. Eles (os tunisianos) querem conversar com o Brasil e ver em que medida nossa experiência pode ser útil. Eles são uma potência em matéria de turismo, teríamos interesse em aprender e cooperar com eles.
Também no plano do desenvolvimento institucional e da opinião pública, o país está passando por um momento de grande efervescência e, nesse sentido, há um grande interesse em estabelecer um diálogo. Hoje está aqui o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que vai manter contatos com sua contraparte do Banco Africano de Desenvolvimento (Donald Kaberuka).
Com isso, podemos analisar alguns projetos específicos. Também comentei que há muitas empresas brasileiras aqui na região, na Líbia em particular, desenvolvendo projetos ambiciosos de infraestrutura, e não há por que não imaginar uma presença mais forte de empresas brasileiras na Tunísia no futuro''.
Em 2009, o então chanceler Celso Amorim veio à Tunísia e demonstrou o interesse do Brasil na exploração de fosfato na região tunisiana de Gafsa. Ainda há esse interesse?
Patriota: É ainda interessante, porque o Brasil precisa de fato de fosfato. A gente importa daqui, do Marrocos, também estamos desenvolvendo no próprio Brasil uma indústria. No passado, algumas empresas brasileiras tentaram alguma aproximação. Agora as condições mudaram, é um novo contexto, vejo como muito promissoras as perspectivas inclusive nessa área.
Com as recentes mudanças políticas decorrentes da Primavera Árabe, o que o senhor acha que falta para a Tunísia e outros países da região avançarem em matéria de direitos humanos?
Patriota: A Tunísia está em condições de se transformar em líder nessa área. Eles realizam aqui o que nós consideramos um modelo de transição, pois é uma transição que se realiza com base na estabilidade, sem violência, sem polarização que provoque grandes tensões na sociedade. Nós temos a confiança de que culminará com a adoção de uma nova Constituição, de um calendário eleitoral.
Eu tive hoje a oportunidade de me reunir não só com o presidente Moncef Marzouki, ele próprio um líder na área de direitos humanos, mas também com o presidente da Assembleia Constituinte, Mustapha Ben Jaâfar. Dessas conversas, saio convencido de que a Tunísia dispõe de lideranças de muita sabedoria, muita capacidade de encontrar um caminho próprio.
Daí, para se transformar numa liderança em direitos humanos, será uma etapa curta. Conversamos sobre isso não só porque o Brasil é candidato ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, mas também estamos apoiando a Tunísia, que será candidata no ano que vem.
Como o senhor definiria a atual política do governo Dilma Rousseff em relação ao mundo árabe e, especificamente, em relação à crise síria?
Patriota: Muita ênfase na integração regional e uma grande abertura em relação ao mundo com participação em novas parcerias com os povos, que vão constituindo uma ordem multipolar contemporânea, tanto com as potências estabelecidas como com as novas potências, os Brics por exemplo. E também um olhar muito atento sobre o mundo em desenvolvimento.
A África, que é nossa vizinha no Atlântico Sul, o mundo árabe, a Ásia... No caso da Síria, nós vemos hoje com certa expectativa positiva a implementação do programa de seis pontos do ex-secretário-geral Kofi Annan e a interposição de observadores militares. Essa é a prioridade no momento.
Não é um fim em si mesmo, mas um caminho para o fim das hostilidades, da violência, e para o estabelecimento de um mapa do caminho político de transição. E então caberá aos próprios sírios determinar qual deve ser o caminho.