Economia

Brasil tem pior déficit em conta corrente para março

Segundo o BC, a conta corrente do país teve saldo negativo de US$ 6,873 bilhões no mês passado, recorde para março desde o início da série histórica, em 1980


	O cenário internacional desfavorável para as exportações e a maior remessa de lucros e dividendos ao exterior foram as principais causas do déficit
 (Robyn Beck/AFP)

O cenário internacional desfavorável para as exportações e a maior remessa de lucros e dividendos ao exterior foram as principais causas do déficit (Robyn Beck/AFP)

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Da Redação

Publicado em 24 de abril de 2013 às 17h30.

Brasília - O cenário internacional desfavorável para as exportações e a maior remessa de lucros e dividendos ao exterior levaram o Brasil a registrar, em março, o maior déficit em transações correntes para esses meses em mais de três décadas.

Segundo divulgou o Banco Central nesta quarta-feira, a conta corrente do país teve saldo negativo de 6,873 bilhões de dólares no mês passado, recorde para março desde o início da série histórica, em 1980. No acumulado do primeiro trimestre, o déficit bateu em 24,858 bilhões de dólares, o dobro do saldo negativo em igual período do ano anterior.

"Os dados do balanço de pagamentos mostram que há, claramente, deterioração da conta corrente. Por outro lado, não vemos cenário muito mais favorável para os Investimentos Estrangeiros Diretos (IED), que estão elevados mas não irão cobrir o déficit em 2013", comentou o estrategista-chefe do banco WestLB, Luciano Rostagno.

O déficit em conta corrente em março veio um pouco pior do que o esperado pelo mercado e também não foi compensado pelo IED que, em no mês passado, somou 5,739 bilhões de dólares, acima do esperado pelos especialistas.

Economistas consultados pela Reuters previam saldo negativo de 6 bilhões de dólares no mês passado na conta corrente do país, enquanto calculavam que o IED ficaria em 4,2 bilhões de dólares.

No acumulado em 12 meses encerrados em março, o déficit em conta corrente do país ficou em 2,93 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), o pior resultado desde agosto de 2002, quando ficou em 2,97 por cento.

O desempenho ruim da balança comercial tem influenciado negativamente os resultados da conta corrente, devido ao cenário ruim do comércio externo. Em março, o país registrou superávit comercial de apenas 161 milhões de dólares, segundo o BC, muito inferior aos 2,024 bilhões de dólares vistos um ano antes.

Só na terceira semana de abril, o país registrou déficit comercial de 2,271 bilhões de dólares, pior resultado semanal. No ano, a balança comercial acumula saldo negativo de 6,489 bilhões de dólares.


Para abril, o BC continua vendo que o rombo da conta corrente, projetado em 6,4 bilhões de dólares, não serão totalmente cobertos pelo IED, que somarão 4,8 bilhões de dólares no mês.

Mais remessas

O déficit nas transações correntes --que incluem a importação e exportação de bens e serviços e as transações unilaterais-- também foi impactado pelo aumento das remessas de lucros e dividendos das multinacionais instaladas no país, que somaram 2,732 bilhões de dólares no mês passado, quase 40 por cento a mais do que o 1,965 bilhão de dólares visto em igual mês de 2012. Em fevereiro, esses envios haviam somado 2,174 bilhões de dólares.

Os gastos líquidos de brasileiros no exterior com viagens também pesaram no mês passado, atingindo 1,271 bilhão de dólares em março, maior que os gastos líquidos de 997 milhões registrados em igual mês de 2012.

Para o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, os déficits em conta corrente deste ano estão associados ao maior ritmo de crescimento do país.

"Há outro ritmo de crescimento e isso, sem dúvida, traz implicações nas contas externas e em particular na balança comercial e nas remessas de lucros e dividendos. O maior crescimento representa também maior demanda por bens e serviços externos", disse, acrescentando que já há indicações de melhora nas exportações brasileiras.

Segundo o BC, o fluxo cambial ficou positivo em 4,112 bilhões de dólares entre os dias 15 e 22 de abril, revertendo o déficit de 3,002 bilhões de dólares na semana entre 8 e 12 de abril e levando o acumulado do mês para o saldo positivo de 1,110 bilhão de dólares.

O resultado de 15 a 22 veio do superávit da conta comercial de 5,390 bilhões de dólares e do déficit de 1,277 bilhão de dólares da conta financeira --por onde passam os investimentos estrangeiros produtivos, em portfólio, entre outros.

"Esses são dados voláteis, mas indicam melhora das exportações à frente, em produtos agropecuários", afirmou Maciel.

Para o diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, os resultados do balanço de pagamentos apresentam perspectivas favoráveis para o financiamento da conta corrente neste ano, principalmente o IED em março e perspectiva de melhora das vendas externas.

"Esperamos que a safra de grãos beneficie a balança comercial nos próximos meses, moderando os déficits em transações correntes, exceto para abril que ainda registrará déficit comercial", afirmou ele por meio de nota.

Para este ano, o BC projeta que o déficit em transações correntes ficará em 67 bilhões de dólares, enquanto que o IED, em 65 bilhões de dólares.

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