Economia

Brasil precisa cortar juros rápido, diz Luiz Figueiredo, ex-diretor do BC

Mercado aposta que o Copom vai reduzir a Selic ao término de seus dois dias de reunião, em 31 de julho, mas ainda segue a dúvida sobre tamanho do corte

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil. (Andre Coelho/Bloomberg)

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil. (Andre Coelho/Bloomberg)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 23 de julho de 2019 às 06h01.

Última atualização em 23 de julho de 2019 às 06h01.

O Banco Central não tem tempo a perder e deve cortar a taxa básica de juros em 0,50 pp neste mês, diante de uma economia que, na prática, está parada, disse Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor de Política Monetária do BC, em entrevista.

“Não tem sentido começar devagar porque afinal de contas essa economia está precisando de estímulo mesmo”, disse Figueiredo, que agora é CEO da Mauá Capital. “Então tem de reduzir logo”, em passos de 50 em 50 pontos-base.

O mercado está apostando que o Copom vai reduzir a taxa Selic ao término de seus dois dias de reunião, em 31 de julho, mas ainda permanece a dúvida sobre o corte será de 0,25 pp ou de 0,50 pp. A última vez em que o BC começou um ciclo de quedas com 0,50 pp foi em 2011.

Economia parada

A taxa de juros brasileira está em recorde de baixa por mais de um ano, mas fez pouco para aumentar a demanda. A maior economia da América Latina mostrou contração no primeiro trimestre após dois anos de crescimento anêmico e pode ter caído em recessão técnica no período seguinte. Se, de fato, a economia se contraiu pelo segundo trimestre seguido ou se cresceu um pouco, isso não é tão importante, disse Figueiredo.

‘Na prática, a economia brasileira está parada. O resto é ruído de estatística. Se olhar todos os índices, não dá para ver nenhum tipo de vida.”

O corte de 0,50 pp em julho provavelmente será o primeiro de três, levando a Selic a ceder até 5%, na visão de Figueiredo. É um nível que ele diz nunca ter imaginado na época em que era diretor de política monetária do BC, na virada do século, quando a taxa mais baixa foi de 15,25%. Figueiredo deixou a posto em 2003 com a Selic chegando em 26,5%.

Com a provável redução de juros pelo BC, o custo mais baixo do capital na segunda metade de 2019 vai ajudar empresas que desde o início da recessão, em 2015, cortaram custos e pessoal, disse Figueiredo. Um forte desempenho corporativo, juntamente com a entrada de investidores estrangeiros, fará com que o Ibovespa possa atingir os 120.000 pontos até o final do ano, acima do nível atual de 104.000, disse ele.

“Num primeiro momento, uma alta de faturamento é lucro líquido na veia. As empresas não terão de investir, porque têm muita ociosidade.” Há uma grande capacidade de aumento de vendas sem efeitos colaterais, disse ele.

Isso também ajudará a atividade econômica a surpreender positivamente, com um crescimento de 1% ou mais este ano e de 2,5% a 3% em 2020, disse ele. Pesquisa Focus do Banco Central com economistas divulgada nesta segunda-feira prevê 0,82% e 2,10%, respectivamente.

Dólar de equilíbrio

Sobre o câmbio, ele diz que “o real ainda está muito fora do preço”, dado o forte superávit no balanço de pagamentos, e mesmo antes da onda de capital externo esperada para investimento em infraestrutura e em privatizações.

“Com o Brasil minimamente entrando nesse território mais favorável, acho que a tendência é que haja um overshooting na moeda e que ela fique mais apreciada do que o novo patamar de equilíbrio, que deve ser uma coisa perto de R$ 3,30-R$ 3,40”, diz Figueiredo. “Não estou dizendo que vai ela ficar de forma sustentável muito abaixo desse numero, mas é possível que vá bem abaixo desse número, sim”. Dólar opera na casa dos R$ 3,74 nesta segunda-feira.

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralCopomJurosPolítica monetáriaRoberto Campos NetoSelic

Mais de Economia

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor

Opinião: nem as SAFs escapam da reforma tributária