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Brasil contrata usinas eólicas e solares com ajuda externa

Investidores buscaram alternativas competitivas em substituição ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

Leilões de energia: licitações registraram fortes deságios ante os preços teto estabelecidos pelo governo (Ssuaphoto/Thinkstock)
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Reuters

Publicado em 20 de dezembro de 2017 às 16h48.

São Paulo - O Brasil fechou nesta semana a contratação de novas usinas de energia eólica e de geração solar a preços menores que os de hidrelétricas, que são tradicionalmente o carro-chefe e a mais barata fonte de produção de eletricidade no país.

Os resultados, em leilões de energia na segunda e nesta quarta-feira, foram impulsionados pela disputa entre empresas e por crédito externo, com investidores em busca de alternativas competitivas em substituição ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), tradicional fonte de recursos para infraestrutura no país, segundo autoridades.

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As licitações registraram fortes deságios ante os preços teto estabelecidos pelo governo e evidenciaram um grande interesse pela construção de empreendimentos, com investimentos previstos de mais de 18 bilhões de reais e que deverão ser entregues entre 2021 e 2023, adicionando cerca de 4,5 gigawatts à matriz elétrica.

O resultado mostra ainda que o governo pode ter uma tarefa mais fácil em redirecionar os investimentos do setor elétrico para fontes renováveis como eólica e solar, em revisão de uma política que antes previa priorização de hidrelétricas.

Entre os vencedoras da concorrência destacaram-se multinacionais como a italiana Enel, a norte-americana AES e a portuguesa EDP, que mostraram intenso apetite por investimentos renováveis nos primeiros leilões para projetos eólicos e solares desde 2015, após o governo cancelar licitações no ano passado devido à falta de demanda por eletricidade em meio à crise financeira do país.

"Tivemos quase dois anos sem leilão, então isso faz com que os fornecedores... mergulhem o preço, e isso ajuda a explicar o preço baixo. Mas ainda assim, se você me perguntasse duas semanas atrás, eu não esperaria que rompessem patamares tão baixos", disse à Reuters o diretor da consultoria Excelência Energética, Erik Rego.

"A conjuntura favoreceu, a taxa de juros está caindo, isso acaba interferindo no resultado", acrescentou o consultor.

O presidente da estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Luiz Barroso, disse a jornalistas após o certame que foi possível perceber que diversos empreendedores buscaram novas formas de se financiar, como agências de crédito à exportação de outros países, por exemplo.

"Existem financiamentos que são dados a taxas muito competitivas e com proteção cambial. Esse mercado o Brasil não capturava, e nesse leilão capturou, em praticamente todas tecnologias (de geração), o que leva a uma possibilidade de preços competitivos", disse.

Barroso destacou que diversos empreendimentos solares, por exemplo, deverão utilizar financiamentos externos e equipamentos importados, sem necessidade de recursos subsidiados do BNDES.

"O BNDES tem seu papel e vai continuar tendo, mas a 'oxigenação' das práticas (de financiamento) é muito importante", reforçou.

Mínimas recordes

No leilão A-6 desta quarta-feira, os projetos eólicos chegaram a negociar a venda da produção futura por um preço médio de cerca de 98 reais por megawatt-hora, contra uma mínima recorde anterior, em licitação de 2012, de quase 119 reais atualizado pela inflação.

Na contratação da segunda-feira, o chamado leilão A-4, as usinas solares praticaram preços médios de cerca de 145 reais, contra uma mínima de 245 reais de um pregão de 2014.

O certame desta quarta-feira também contratou hidrelétricas --que tiveram preço médio de cerca de 219 reais-- e termelétricas a biomassa e gás natural, com valores médios entre 218 e 213 reais.

"A gente efetivamente entrou na lista de países que estão comprando renováveis abaixo de 40 dólares (por megawatt-hora), e não são preços específicos de um ou outro projeto, é uma grande quantidade de empreendimentos", reforçou Barroso.

Disputa acirrada

O resultado histórico para as renováveis, com forte deságio frente aos preços teto estabelecidos para os leilões, também teve impulso de uma enorme disputa entre investidores para fechar os contratos de longo prazo para entrega de energia às distribuidoras.

As empresas vencedoras foram principalmente estrangeiras, como a italiana Enel Green Power, com projetos eólicos e solares e presença nos dois certames, a AES Tietê, que viabilizou usinas solares, além da EDP Renováveis, da francesa Voltalia, e da Neoenergia, controlada pelos espanhóis da Iberdrola.

Nos empreendimentos a gás natural, destacou-se a Prumo, que viabilizou uma termelétrica de quase 1,7 gigawatt em capacidade a ser construída no Porto de Açu, no Rio de Janeiro.

Somados, os dois leilões realizados nesta semana acrescentarão cerca de 4,5 gigawatts em capacidade à matriz brasileira, sendo 674,5 megawatts para entrega em 2021 e 3,8 gigawatts para conclusão em 2023.

Os empreendimentos contratados deverão somar mais de 18 bilhões de reais em investimentos para serem implementados, com a maior parte, ou quase 14 bilhões de reais, associada aos empreendimentos com entrega para 2023.

Os resultados comprovaram expectativas do mercado, de uma licitação mais movimentada para os empreendimentos com maior prazo de conclusão, devido à perspectiva de gradual recuperação da economia brasileira após a recessão enfrentada em 2015 e 2016.

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