Economia

Boom de shows de graça na Internet fica fora do PIB dos EUA

Crescente conjunto de produtos e serviços de Internet oferecidos de graça que estão transformando a vida de consumidores


	Cantora Lady Gaga durante uma apresentação: estatísticas subestimam os progressos “muito prometedores” da economia americana na área de serviços de Internet
 (Kevin Winter/Getty Images)

Cantora Lady Gaga durante uma apresentação: estatísticas subestimam os progressos “muito prometedores” da economia americana na área de serviços de Internet (Kevin Winter/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 12 de novembro de 2013 às 15h56.

San Francisco - Em 2009, após completar o mestrado em Engenharia Elétrica, Ti Zhao, autodenominada “viciada em educação”, continuou indo às aulas. O custo total dos últimos oito cursos em que ela se matriculou: US$ 0,00.

“É difícil para eu sequer imaginar em pagar por uma aula de novo”, afirmou Zhao, que aproveitou os estudos de graça oferecidos pela edX e pela Coursera Inc., incluindo um curso de saúde pública oferecido por um professor da Universidade de Harvard, depois de ouvir falar sobre os serviços de educação online através de um amigo. A moradora de San Francisco, de 27 anos, gastava cerca de US$ 500 por aula para matricular-se em um programa de educação contínua de uma universidade local.

Palestras universitárias unem-se a um crescente conjunto de produtos e serviços de Internet oferecidos de graça que estão transformando a vida de consumidores como Zhao. Estatísticas do governo, como o PIB, que apenas acompanham o que as pessoas compram, subestimam os progressos “muito prometedores” da economia americana na área, disse Erik Brynjolfsson, professor do Massachusetts Institute of Technology, em Cambridge.

“Nos próximos anos, teremos que reinventar a forma em que medimos o crescimento econômico”, afirmou Brynjolfsson, diretor do Centro de Negócios Digitais da Sloan School of Management, no MIT. “A realidade é que o PIB, o quanto gastamos, não equivale ao que recebemos”.

Estimando o valor que os consumidores designam implicitamente à Internet, avaliando quanto tempo as famílias passam em sites grátis, Brynjolfsson e seu associado de pós-graduação do MIT JooHee Oh calcularam que esses bens virtuais adicionaram US$ 34 bilhões ao bem-estar dos consumidores entre 2002 e 2011, equivalente a 0,26 por cento do PIB.

Tempo, dinheiro

As pessoas pagam por esses sites com seu tempo em vez do seu dinheiro – tempo que, em teoria, eles poderiam ter investido trabalhando mais ou consumindo outra coisa.


“Essas medições de superávit de consumo estão melhorando muito”, afirmou Brynjolfsson. “É possível ver por que definitivamente precisamos pensar mais sobre as nossas medições”.

Outros economistas também estão tentando quantificar quão melhor as pessoas estão vivendo com vários métodos para calcular o valor máximo que os consumidores estariam dispostos a pagar por serviços grátis.

A IAB Europe, um grupo sediado em Bruxelas que promove o marketing digital, e a consultoria McKinsey Co., sediada em Nova York, consultaram juntas usuários de Internet na Europa e nos EUA para estimar o valor designado a serviços como motores de busca e redes sociais. Em 2010, os americanos teriam gasto 32 bilhões de euros (US$ 42,9 bilhões), além do custo dos serviços pelos quais pagaram e gastos associados a coisas como anúncios e privacidade, conforme o estudo.

Medindo o progresso

A variação entre as estimativas ressalta a dificuldade inerente a medir algo tão nebuloso quanto o bem-estar, comparado ao fato concreto e rápido do dinheiro que muda de dono.

“Somos economistas, não acreditamos em algo como um almoço grátis”, disse em uma entrevista Steve Landefeld, diretor da Secretária de Análise Econômica, a agência do Departamento de Comércio em Washington que produz os dados do PIB. A receita gerada pelos anúncios nesses sites gratuitos e o dinheiro obtido pela venda de informação sobre os hábitos de navegação dos consumidores são incluídos nas estimativas de crescimento, acrescentou Landefeld.

“Estamos progredindo, mas ainda falta muito para termos uma cifra que possa concorrer com o PIB”, afirmou Peter Klenow, economista na Universidade de Stanford, em Palo Alto, Califórnia, e especialista em crescimento econômico e produtividade. “Quando ficamos mais ricos, não aumentamos a quantidade – aumentamos a qualidade e a variedade. Isso é mais difícil de medir, mas parece constituir uma parte fundamental do crescimento e do progresso. Provavelmente estejamos ignorando boa parte disso”.

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