Economia

Blumenau

O renascimento da indústria

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h15.

Se alguém ainda duvida de que crise é oportunidade, precisa conhecer Blumenau, a charmosa cidade de colonização alemã encravada no Vale do Itajaí, em Santa Catarina. No início dos anos 90, com a abertura do mercado brasileiro, a indústria têxtil, motor da economia local, foi atingida em cheio. Mas quem apostou na sua derrocada se equivocou. "As dificuldades são página virada", afirma Vicente Donini, dono da Marisol, que, no auge da crise, adquiriu a falida Maju. "As empresas têxteis de Blumenau estão mais modernas e sólidas do que nunca." O município é hoje um pólo têxtil, com empresas menos verticalizadas e mais voltadas para marketing, marca e moda. E o que é melhor: em expansão.

Há uma série de boas novas para quem pretende investir em Blumenau, que conserva o 9o lugar entre as melhores cidades brasileiras para negócios. As Centrais Elétricas de Santa Catarina estão investindo 12 milhões de reais na hidrelétrica de Salto para aumentar a capacidade de geração da usina, e o gás da Bolívia começa a chegar à cidade. Sem grandes preocupações com a crise energética, muitas empresas da região com fabricação no Nordeste reforçaram a produção em Blumenau. Até a guerra no Afeganistão virou vantagem competitiva. "O mercado americano, que usa muito as confecções do Paquistão, está buscando novos fornecedores, e isso nos abre um leque de oportunidades", diz Carlos Tavares D'Amaral, diretor administrativo da centenária Hering. Empresários italianos também já estão procurando novos fornecedores de produtos de cama, mesa e banho longe da região de conflito. É hora de investir. A Hering tem separado entre 10 milhões e 12 milhões de dólares anualmente para manter-se atualizada e acompanhar o crescimento do mercado. A Maju está investindo quase 3 milhões de reais em teares inteligentes que confeccionam peças sem costura, uma tendência em alta no setor. A Teka e a Coteminas também estão ampliando e modernizando seu parque fabril. Até a DuPont, grande fornecedora da indústria têxtil, anunciou a construção de uma unidade na cidade, orçada em mais de 100 milhões de reais.

Um levantamento feito pela Federação das Indústrias de Santa Catarina revela que o setor têxtil foi o que mais contratou no estado no primeiro semestre deste ano. Por isso mesmo, Blumenau lidera o ranking de geração de empregos. Dos 20 municípios que mais abriram postos de trabalho, dez estão no Vale do Itajaí. "É difícil encontrar uma costureira hoje na cidade", diz Renato Valim, diretor executivo do sindicato das indústrias têxteis de Blumenau.

Localizada num vale, cercada por montanhas e cortada pelo rio Itajaí-Açu, Blumenau não tem mais espaço para abrigar fábricas de grande porte. Mas acaba de tornar-se a âncora de uma nova região metropolitana, a do Vale do Itajaí, com 16 municípios que representam 10,44% da população e 16,26% do PIB do estado. "Vamos trabalhar em conjunto para atrair novos investimentos", diz Hans Prayon, presidente do conselho de administração da Hering. Blumenau está se firmando como centro de lazer, comércio e serviços dessa região.

Além disso, desde 1992, a cidade conta com a incubadora Blusoft para desenvolver o ramo de informática, que já reúne 500 empresas - 300 delas de software - e emprega cerca de 4,5 mil funcionários. "O setor tem crescido, em média, 20% ao ano nos últimos cinco anos", diz Charles Schwanke, gerente da Blusoft. "A riqueza se baseia no desenvolvimento das pequenas e médias empresas", afirma Hans Didjurgeit, presidente da Associação Comercial e Industrial de Blumenau.

Numa volta pela cidade, dá para perceber a prosperidade. A principal avenida, a 15 de Novembro, foi totalmente restaurada. Seus prédios em estilo bávaro foram espelhados no meio da rua como se fossem uma sombra estampada no chão. Os antigos prédios convivem com a arquitetura moderna dos novos edifícios que se multiplicam. "As perspectivas são as melhores possíveis", afirma Luis Micheluzzi, de 41 anos, dono da construtora Mestra, cujo faturamento deve passar dos 6 milhões de reais em 2000 para 14 milhões de reais neste ano.

Entre os projetos tocados pela Mestra, está o hotel que a cidade vai ganhar em outubro de 2002, o Ibis, da rede francesa Accor, com 110 apartamentos, no qual foram aplicados 7 milhões de reais depois de uma década sem novos investimentos nessa área. Famosa pela Oktoberfest, uma das maiores festas populares do país, Blumenau pretende incrementar o turismo de negócios com a construção de um centro de eventos.

Pelas ruas limpíssimas de Blumenau circulam muitos automóveis importados. "Proporcionalmente, Blumenau é a cidade que tem mais carros BMW no país", diz Oswaldo Scher, dono da TopCar, revendedora das marcas BMW e Land Rover. Em Blumenau, 36,8% dos domicílios urbanos são das classes A e B. O potencial de consumo local é de 3 968 dólares por habitante.

Em busca desse consumidor, o grupo português Sonae inaugurou, em setembro, seu primeiro hipermercado Big na cidade, um investimento de 15 milhões de reais. Em janeiro, o shopping Neumarkt vai inaugurar o primeiro cinema multiplex de Santa Catarina, com seis salas e 1,2 mil lugares. "Estimamos um crescimento de 10% no poder aquisitivo da população local até 2004", diz José Eduardo de Almeida, superintendente do Neumarkt.

Em Blumenau as pessoas vivem mais e melhor. Cerca de 70% da área do município tem cobertura florestal, os índices de violência são baixos, há três universidades, boas escolas técnicas e hospitais. A expectativa de vida, de 68,6 anos, está bem acima da média das cidades pesquisadas, que é de 64,3 anos. E Blumenau quer mais. Está liderando uma campanha pela internacionalização do Aeroporto de Navegantes, distante 60 quilômetros da cidade, e deve ter o próprio aeroporto, o Quero-Quero, fechado desde 1998, que deve ser reaberto até o início do próximo ano para vôos domésticos.

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