Economia

BC vê PIB crescendo menos e com mais inflação em 2012

Com isso, parte dos analistas de mercado reforçou suas perspectivas de que a Selic não será mais reduzida a curto prazo


	Banco Central: desde agosto do ano passado, o Comitê de Política Monetária do BC já reduziu a Selic em cinco pontos percentuais
 (Divulgação/Banco Central)

Banco Central: desde agosto do ano passado, o Comitê de Política Monetária do BC já reduziu a Selic em cinco pontos percentuais (Divulgação/Banco Central)

DR

Da Redação

Publicado em 27 de setembro de 2012 às 23h06.

Brasília - O Banco Central reduziu, pela segunda vez seguida, a previsão para o crescimento da economia brasileira neste ano, de 2,5 para 1,6 por cento, ao mesmo tempo em que piorou suas perspectivas para a inflação em 2012.

Com isso, parte dos analistas de mercado reforçou suas perspectivas de que a Selic não será mais reduzida a curto prazo. O próprio diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, afirmou que o espaço para continuidade do movimento de redução dos juros está menor.

"Desde o último relatório (em junho), houve duas reuniões do Copom nas quais a taxa de juros foi cortada. O espaço para continuidade desse movimento de queda dos juros se estreitou", afirmou o diretor, ao comentar o Relatório Trimestral de Inflação da autoridade monetária divulgado nesta quinta-feira.

Desde agosto do ano passado, o Comitê de Política Monetária do BC já reduziu a Selic em cinco pontos percentuais, para a mínima histórica de 7,50 por cento, a fim de estimular a cambaleante economia, afetada pela crise internacional. Em julho e em agosto, a taxa foi reduzida em 0,50 ponto percentual em cada período.

Boa parte do mercado já apostava na manutenção da taxa básica de juros agora em outubro, quando o Copom se reúne novamente.


"O Relatório de Inflação reforça a estabilidade da taxa de juros dado a avaliação do BC de que o cenário é neutro", avaliou o economista sênior do Banco Espírito Santo, Flávio Serrano, referindo-se à avaliação feita pelo BC de que, no cenário doméstico, o balanço de riscos é "neutro".

Segundo o BC, o IPCA ficará em 5,2 por cento neste ano pelo cenário de referência, ante previsão anterior de 4,7 por cento, e em 4,9 por cento em 2013, abaixo das contas anteriores, de 5,0 por cento.

O número para este ano se afastou ainda mais do centro da meta de inflação do governo, de 4,5 por cento pelo IPCA. O objetivo tem ainda margem de tolerância de dois pontos percentuais para mais ou menos.

Diante dos números piores de inflação para este ano, Hamilton afirmou que fazer o IPCA convergir para o centro da meta ainda este ano implicaria um "custo enorme" e seria "virtualmente impossível".

"Combate ao surto inflacionário envolve custo em termos de atividade. Isso sempre ocorrerá, não se pode combater inflação sem custo, não há almoço grátis", disse ele.

Para 2013, o leve recuo na projeção de inflação veio, "em grande parte", segundo trouxe o relatório, devido à redução estimada nos preços das tarifas de energia elétrica. De acordo com o diretor do BC, o impacto disso no IPCA de 2013 será de 0,5 ponto percentual.

Ele disse que vê mais "riscos para baixo que para cima" para o IPCA de 2013. Hamilton citou, no entanto, que uma das pressões de preços para o próximo ano seria o crescimento acima do previsto. A autoridade monetária estima expansão econômica de 3,3% nos 12 meses terminados em junho de 2013.


Segundo o BC, o cenário de referência para a inflação leva em conta o conjunto de informações disponível até 6 de setembro passado e pressupõe dólar a 2,05 reais e Selic em 7,50 por cento.

O BC também informou que a chance de a inflação estourar o teto da meta oficial é de 3 por cento em 2012 e de em torno de 13 por cento no ano que vem.

No Relatório de Inflação, a autoridade monetária admitiu que boa parte dos aumentos nos índices de preço decorreram "da depreciação cambial", entre 25 e 30 por cento entre agosto de 2011 e setembro de 2012. Hamilton disse ser difícil haver uma nova depreciação "dessa magnitude" no câmbio, afastando pressão de preços por esse vetor.

Para o diretor, o atual choque de commodities --apontado como o responsável por desviar o IPCA do centro meta-- será "bem menos intenso e duradouro" do que foi entre 2010 e 2011, com possibilidade de que a pressão nos preços se encerre no fim deste ano, caso não haja "uma segunda rodada de choque".

A expectativa do BC para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, de apenas 1,6 por cento, é pior do que a do próprio governo que, no Relatório de Despesas e Receitas, reduziu a previsão de crescimento para 2 por cento, ante 3 por cento anteriormente.

O mercado é ainda mais pessimista, com previsão de avanço do PIB para este ano em 1,57 por cento, segundo pesquisa Focus do BC. Ao mesmo tempo, os economistas e analistas projetam a inflação de 2012 em 5,35 por cento e, de 2013, em 5,50 por cento.

O BC piorou as projeções para quase todos setores produtivos e para a demanda neste ano. Agora, vê que o setor industrial terá retração de 0,1 por cento, ante alta de 1,9 por cento calculada até então. Para o setor serviços, a indicação de alta é de 2,2 por cento ante 2,8 por cento anteriormente.

Para o investimento, no entanto, o BC calcula que terá queda de 2,2 por cento, melhorando um pouco a previsão anterior, de variação negativa de 3,2 por cento. O investimento e o setor industrial são dois dos componentes que mais têm dificultado a recuperação da economia brasileira, apesar dos estímulos adotados pelo governo.

"No Brasil, a recuperação tem se materializado de forma gradual, mas o ritmo de atividade tende a se intensificar neste semestre e no próximo ano, com alguma assimetria entre os diversos setores", trouxe o BC pelo documento.


A autoridade monetária destacou ainda que, no âmbito da política fiscal, "iniciativas recentes apontam o balanço do setor público se deslocando de uma posição de neutralidade para ligeiramente expansionista", lembrando que o cumprimento dos superávits primários "solidifica a tendência de redução da dívida pública".

O diretor do BC reafirmou que a autoridade monetária trabalha com o cumprimento da meta cheia de superávit primário --de 139,8 bilhões de reais, ou cerca de 3,1 por cento do PIB-- neste ano.

No relatório foram elevadas as projeções para relação entre dívida líquida do setor público e o PIB, a 35,2 por cento, ante 35 por cento neste ano, e para o déficit nominal a 1,9 por cento, contra 1,4 por cento na projeção anterior.

O BC continua a ver um cenário externo como restritivo. Hamilton ressaltou que as projeções de crescimento para as economias desenvolvidas e emergentes em 2013 melhoram em relação a 2012. "Mas estão continuamente sendo revistas para baixo".

No contexto em que os países desenvolvidos tentam estimular a atividade por meio de injeções maciças de dinheiro na economia, colocando um risco de apreciação das moedas de países como o Brasil, o diretor disse que o BC manterá a política de acumulação de reservas.

"Houve certos momentos nesses últimos sete e oito anos nos quais as intervenções (do BC no mercado) foram muito mais pesadas e frequentes que as atuais", lembrou. "Não existe regra pré-estabelecida. Na medida que o mercado nos proporcionar condições para fortalecermos nossas reservas, o faremos", acrescentou ele.

Acompanhe tudo sobre:Banco Centraleconomia-brasileiraGoverno DilmaMercado financeiro

Mais de Economia

Após mercado prever altas da Selic, Galípolo afirma que decisão será tomada 'reunião a reunião'

IBC-Br: prévia do PIB sobe 0,80% em setembro, acima do esperado

Após explosões na Praça dos Três Poderes, pacote de corte de gastos só será anunciado depois do G20

Governo avalia mudança na regra de reajuste do salário mínimo em pacote de revisão de gastos