Economia

BC opta por linguagem mais simples após problemas

Presidente do Banco Central aperfeiçoou suas habilidades de comunicação e agora está se restringindo a mensagens mais curtas e claras

Alexandre Tombini: presidente do Banco Central foi muito criticado por confundir investidores com sinais ambíguos sobre mudanças na política monetária (Stephen Yang/Bloomberg)

Alexandre Tombini: presidente do Banco Central foi muito criticado por confundir investidores com sinais ambíguos sobre mudanças na política monetária (Stephen Yang/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 29 de agosto de 2013 às 16h58.

Brasília - Neste momento de intensa turbulência financeira em casa e no exterior, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, está se afastando da linguagem tipicamente complexa e críptica de autoridades monetária e está optando por uma nova postura: falar de forma simples.

Criticado por confundir investidores com sinais ambíguos sobre mudanças na política monetária, Tombini aperfeiçoou suas habilidades de comunicação e agora está se restringindo a mensagens mais curtas e claras aos mercados financeiros.

A previsibilidade é valiosa para as autoridades brasileiras que enfrentam dificuldades para recuperar a confiança de investidores na ex-estrela dos mercados emergentes, que hoje sofre com baixo crescimento e alta inflação.

"Eles estão se comunicando melhor, então tornam suas ações mais previsíveis e, com isso, mais eficientes e poderosas", disse o economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos. "Não precisamos de uma projeção muito específica, mas precisamos que eles digam que farão o necessário para reancorar a inflação".

Presidentes de bancos centrais, de forma geral, são conhecidos por favorecer a linguagem obscura difundida pelo ex-chairman do Federal Reserve Alan Greenspan, que costumava balbuciar complexos termos monetários de forma quase inaudível para sua audiência.

Os opacos comunicados de Tombini conduziram muitas vezes investidores na direção errada.

Em março de 2012, ele sinalizou que uma desaceleração no ritmo do relaxamento monetário estava entre as opções, mas um mês depois surpreendeu os mercados com um grande corte na Selic, a taxa básica de juros. No fim do ano passado, Tombini indicou que os juros permaneceriam nas mínimas históricas por um período prolongado, mas reverteu a trajetória seis meses mais tarde.

Mensagens mistas, como sinalizar diferentes níveis de tolerância a um real mais fraco, têm erodido a credibilidade do BC e minado seus esforços no sentido de ancorar as altas expectativas inflacionárias, dizem analistas.

Uma comunicação clara do BC é particularmente importante neste momento em que os mercados brasileiros sofrem turbulências devido às expectativas da retirada do estímulo monetário nos Estados Unidos. O dólar acumula alta de mais de 14 por cento ante o real neste ano.

O BC tem limitado suas indicações sobre o futuro da política monetária, ao prometer reduzir a inflação mas sem comprometer-se com uma taxa.


Tombini usou essa estratégia na quarta-feira, quando o BC anunciou um aumento de 0,50 ponto básico na Selic, para 9 por cento, como esperava a maior parte do mercado, mas manteve a linguagem concisa usada nas últimas duas decisões.

Tombini mostrou ainda sua crescente assertividade na semana passada, quando alertou investidores de que estavam se precipitando ao precificar um aumento no ritmo de aperto monetário. Suas declarações efetivamente reverteram as apostas e convenceram operadores de que o BC mirava manter o ritmo de altas na Selic inalterado.

A decisão do BC na semana passada de lançar um programa de intervenções diárias no mercado de câmbio, no valor potencial de 60 bilhões de dólares, foi ainda mais reveladora, injetando mais certeza para acalmar os mercados em relação ao acentuado fortalecimento do dólar ante o real.

Contatado, um porta-voz da autoridade monetária disse que o BC não comenta sobre a opinião de operadores.

Impossível Piorar

Embora o BC pareça ter aprendido com suas falhas de comunicação, analistas dizem que sua estratégia permanece desajeitada.

"Eles estão tentando se comunicar menos, e portanto cometem menos erros. Eles melhoraram porque era impossível piorar", disse o ex-diretor do BC e sócio da Schwartsman & Associados Alexandre Schwartsman.

"Confiança não se baseia no que o banco central diz, mas no que faz." A confiança de investidores na maior economia da América Latina está em mínimas de anos após escolhas erráticas de política, que incluíram intervenção estatal em importantes setores da economia e aparentes divergências entre o BC e o Ministério da Fazenda.

O governo da presidente Dilma Rousseff deveria seguir o BC e comunicar-se de forma mais clara e consistente com os mercados para recuperar a confiança, disse o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito.

"Como um instrumento, o BC está usando a comunicação adequadamente neste momento", disse Perfeito. "No entanto, a autoridade monetária sozinha não consegue fazer muito, precisa de mais clareza na fronte fiscal e o governo ainda tem de ajudar nessa questão".

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