BC está no limite da perda de credibilidade, diz Loyola
Ex-presidente do Banco Central critica a “banalização das medidas macroprudenciais”
Da Redação
Publicado em 26 de abril de 2011 às 13h21.
São Paulo – O Banco Central (BC) está no limite da perda da credibilidade, o que é muito perigoso para a missão da instituição de combate à inflação.
A avaliação é do ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola, que critica a “banalização” das medidas macroprudenciais. “É importante colocar as coisas no lugar. Hoje vale tudo. Tudo é macroprudencial. O livro-texto não pode ser esquecido”, diz o economista, que defende medidas tradicionais de política econômica no controle dos preços.
“A medida macroprudencial tem como objetivo a redução de riscos sistêmicos. Há algumas medidas (adotadas recentemente pelo governo federal) que têm outros objetivos, como a restrição de entrada de capitais, que não são propriamente macroprudenciais, pois não existe necessariamente um desequilíbrio. O extremo disso foi quando o governo adotou um aumento de IOF para compras no exterior com cartão de crédito. Isso aí jamais será macroprudencial. É para evitar que o brasileiro se endivide? Ora, isso não é macroprudencial. Então, eu acho que tem um abuso aí”, afirma Loyola.
O economista, que é sócio-diretor da Tendências Consultoria, acrescenta: “Outro abuso ainda mais grave é achar que medidas macroprudenciais substituem as políticas tradicionais de controle de demanda agregada, que são as políticas fiscal e monetária. É claro que essas medidas macroprudenciais têm efeito sobre demanda agregada, mas elas não têm ou não deveriam ter por objetivo o controle da demanda.”
Com a experiência de quem já esteve na presidência do Banco Central em duas oportunidades (de 13/11/1992 a 29/03/1993 e de 13/06/1995 a 20/08/1997), Gustavo Loyola ressalta que “o regime de metas de inflação é um regime que tem um arcabouço de comunicação entre o BC e o mercado, que pressupõe uma linguagem compreensível de ambas as partes e um comportamento previsível e transparente do Banco Central. Agora, com medidas (macroprudenciais) que são muito opacas do ponto de vista de resultados – já que você não sabe qual é o efeito sobre a demanda –, o mercado não acredita no efeito e, portanto, as expectativas inflacionárias pioram”.
Na terça (19) e na quarta (20) da próxima semana, os diretores do Comitê de Poítica Monetária (Copom) vão definir se alteram ou não a taxa básica de juros, atualmente em 11,75%. Apesar de o mercado financeiro já trabalhar com apenas mais uma alta da Selic, o sócio-diretor da Tendências Consultoria torce para que o ciclo de aperto monetário não seja encerrado nesta reunião. “São necessárias mais duas altas de meio ponto percentual.”
Loyola considera “complicado” o fato de a inflação ter grandes chances de superar o teto da meta (6,5%) ao longo deste ano no índice acumulado em 12 meses. “Eu acho perigoso principalmente se houver uma perda de credibilidade do Banco Central.” Questionado por EXAME.com se esse processo de perda da credibilidade já estava acontecendo, respondeu: “Ainda não, mas estamos numa situação limite.”
O economista lembra que quanto maior a credibilidade da autoridade monetária, menor a carga de juros necessária para controlar a inflação. Um Banco Central crível tende a controlar mais facilmente as expectativas inflacionárias dos agentes do mercado.
A atual política cambial, que adota pisos informais para a cotação da moeda americana sob o pretexto de proteger a indústria nacional, também é alvo de críticas. “Ao evitar que o real se aprecie, o Banco Central abre mão da flutuação cambial no combate à inflação”, conclui Loyola.
São Paulo – O Banco Central (BC) está no limite da perda da credibilidade, o que é muito perigoso para a missão da instituição de combate à inflação.
A avaliação é do ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola, que critica a “banalização” das medidas macroprudenciais. “É importante colocar as coisas no lugar. Hoje vale tudo. Tudo é macroprudencial. O livro-texto não pode ser esquecido”, diz o economista, que defende medidas tradicionais de política econômica no controle dos preços.
“A medida macroprudencial tem como objetivo a redução de riscos sistêmicos. Há algumas medidas (adotadas recentemente pelo governo federal) que têm outros objetivos, como a restrição de entrada de capitais, que não são propriamente macroprudenciais, pois não existe necessariamente um desequilíbrio. O extremo disso foi quando o governo adotou um aumento de IOF para compras no exterior com cartão de crédito. Isso aí jamais será macroprudencial. É para evitar que o brasileiro se endivide? Ora, isso não é macroprudencial. Então, eu acho que tem um abuso aí”, afirma Loyola.
O economista, que é sócio-diretor da Tendências Consultoria, acrescenta: “Outro abuso ainda mais grave é achar que medidas macroprudenciais substituem as políticas tradicionais de controle de demanda agregada, que são as políticas fiscal e monetária. É claro que essas medidas macroprudenciais têm efeito sobre demanda agregada, mas elas não têm ou não deveriam ter por objetivo o controle da demanda.”
Com a experiência de quem já esteve na presidência do Banco Central em duas oportunidades (de 13/11/1992 a 29/03/1993 e de 13/06/1995 a 20/08/1997), Gustavo Loyola ressalta que “o regime de metas de inflação é um regime que tem um arcabouço de comunicação entre o BC e o mercado, que pressupõe uma linguagem compreensível de ambas as partes e um comportamento previsível e transparente do Banco Central. Agora, com medidas (macroprudenciais) que são muito opacas do ponto de vista de resultados – já que você não sabe qual é o efeito sobre a demanda –, o mercado não acredita no efeito e, portanto, as expectativas inflacionárias pioram”.
Na terça (19) e na quarta (20) da próxima semana, os diretores do Comitê de Poítica Monetária (Copom) vão definir se alteram ou não a taxa básica de juros, atualmente em 11,75%. Apesar de o mercado financeiro já trabalhar com apenas mais uma alta da Selic, o sócio-diretor da Tendências Consultoria torce para que o ciclo de aperto monetário não seja encerrado nesta reunião. “São necessárias mais duas altas de meio ponto percentual.”
Loyola considera “complicado” o fato de a inflação ter grandes chances de superar o teto da meta (6,5%) ao longo deste ano no índice acumulado em 12 meses. “Eu acho perigoso principalmente se houver uma perda de credibilidade do Banco Central.” Questionado por EXAME.com se esse processo de perda da credibilidade já estava acontecendo, respondeu: “Ainda não, mas estamos numa situação limite.”
O economista lembra que quanto maior a credibilidade da autoridade monetária, menor a carga de juros necessária para controlar a inflação. Um Banco Central crível tende a controlar mais facilmente as expectativas inflacionárias dos agentes do mercado.
A atual política cambial, que adota pisos informais para a cotação da moeda americana sob o pretexto de proteger a indústria nacional, também é alvo de críticas. “Ao evitar que o real se aprecie, o Banco Central abre mão da flutuação cambial no combate à inflação”, conclui Loyola.