Roberto Campos Neto: sem preocupações com a inflação (Adriano Machado/Reuters)
Reuters
Publicado em 24 de janeiro de 2020 às 11h22.
Última atualização em 24 de janeiro de 2020 às 13h06.
São Paulo — O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta sexta-feira que a instituição está "confortável" com a inflação com base nos cenários do banco, acrescentando que o choque da proteína do fim do ano passado vai se dissipar mais rápido depois de ter vindo também mais rápido.
Campos Neto lembrou ainda que o BC tem mantido coerência sobre os fatores analisados para definir os juros e lembrou o "gap", ou defasagem, da política monetária.
O presidente do BC falou ainda sobre a importância da agenda de reformas estruturais da economia para a política monetária. "Sempre mencionamos as reformas, mas não só a da Previdência, a tributária, a administrativa... também", afirmou em evento promovido pela XP Investimentos.
O presidente do Banco Central também avaliou que o movimento atual do câmbio "desta vez é bem diferente" do visto no passado, em referência à desvalorização do real junto a uma queda no prêmio de risco.
Segundo ele, o que se via antes era uma depreciação do real acompanhada de aumento na percepção de risco-país, com queda também no mercado de ações.
Campos Neto comentou ainda sobre a aparente divergência entre a alta do Ibovespa, a aplicação por institucionais e a saída de estrangeiros do mercado local de ações. Ele explicou que isso é resultado de efeito migratório gerado pelo juro local mais baixo.
O juro baixo ajuda a impulsionar o mercado de ações. Com os preços mais altos, o investidor internacional começa a comparar o Brasil com outros mercados externos.
"Se continuarmos fazendo o dever de casa os estrangeiros vão voltar e me parece que não haverá reversão do fluxo institucional no sentido de saída", afirmou o presidente do BC.
Roberto Campos Neto também disse que não é intenção da instituição controlar ou tabelar preços do cheque especial e que não há estudos para intervir no mercado de cartão de crédito.
"(O cheque especial) era um produto que estava sendo precificado errado", disse em evento promovido pela XP Investimentos.
O Banco Central determinou que os juros do cheque especial fossem reduzidos, mas autorizou os bancos a cobrarem por simplesmente oferecer o serviço ao cliente, quando os valores do limite forem acima de R$ 500.
Segundo Campos Neto, quem pagava por essa distorção era quem estava na parte de baixo da pirâmide, e isso criava uma fricção negativa com o próprio mercado de crédito.
"Os bancos têm direito de cobrar a tarifa (do cheque especial), mas até onde sei nenhum anunciou que vai", afirmou.
O presidente do BC disse ainda que o ROE (Return on Equity) --medida de performance financeira-- do cheque especial caiu de cerca de 70% para 30%, mas considera que ainda é "bastante alto". "Não me parece ruim, a gente vai ver como vai se comportar."