Economia

BC corre risco de ter de subir juro além do previsto, diz Loyola

Para o ex-presidente do Banco Central, o órgão precisa ter postura cautelosa diante da anemia da atividade, mas não pode ignorar pressões inflacionárias

Ex-presidente do Banco Central avalia que segunda onda da pandemia discussão sobre o Orçamento podem levar o órgão a apertar a política monetária além do que sinalizou (Marcos Oliveira/Agência Senado)

Ex-presidente do Banco Central avalia que segunda onda da pandemia discussão sobre o Orçamento podem levar o órgão a apertar a política monetária além do que sinalizou (Marcos Oliveira/Agência Senado)

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Bloomberg

Publicado em 26 de abril de 2021 às 12h19.

Última atualização em 26 de abril de 2021 às 16h07.

A segunda onda da pandemia da covid-19 no Brasil e a complicada discussão sobre o Orçamento deste ano dificultam a política monetária e podem levar o Banco Central a apertar a política monetária além do que sinalizou, diz Gustavo Loyola, ex-presidente do BC.

Para ele, a autoridade monetária precisa ter uma postura cautelosa diante da anemia da atividade, mas também não pode ignorar as pressões inflacionárias e o risco de as expectativas de inflação para 2022 ficarem desancoradas.

O BC optou por uma estratégia de contemplar as duas coisas e arrisca-se a ser forçado a subir os juros mais do que o já sinalizado, afirma o atual sócio-diretor da Tendências Consultoria.

No mês passado, o Copom elevou a Selic em 0,75 ponto percentual, para 2,75%, e indicou que fará outro aumento do mesmo tamanho em maio. Entretanto, o mercado vem precificando um aperto ainda maior, já que as projeções dos economistas indicam inflação acima do centro da meta neste e no próximo ano.

 

“O BC está de alguma forma esperando o que a conjuntura vai trazer, vai verificar se esse ritmo de alta é suficiente para trazer as expectativas à meta”, afirma Loyola, que comandou o BC por dois períodos, o último deles de 1995 a 1997, na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Ele avalia que Roberto Campos Neto fez tudo certo quando a pandemia se instalou no país, ao reduzir fortemente os juros, aumentar a liquidez na economia e criar mecanismos para estimular o crédito. Entretanto, foi surpreendido pela piora da pandemia, que exigiu mais gastos e embaralhou as previsões de recuperação econômica, e pelo imbróglio fiscal.

O recente arranjo entre Congresso e governo para o Orçamento deste ano deixou uma série de “fios desencapados” que vão continuar a provocar riscos fiscais. “O BC tem uma posição difícil para conciliar todas as questões.”

Câmbio

Em condições normais, era esperado que o ciclo de alta das commodities beneficiasse a economia e fortalecesse o real, mas isso não está ocorrendo devido às incertezas fiscal e política, diz Loyola.

Além disso, o Brasil está tendo um “desempenho pífio” em vários aspectos da gestão da pandemia, “tem um presidente negacionista, teve ministros da saúde inoperantes.” As perspectivas de crescimento da economia são muito ruins e o país vai demorar mais do que outros a se recuperar, diz Loyola.

Nessas circunstâncias, segundo ele, o BC está fazendo no câmbio o que tem de fazer, atuando pontualmente para reduzir a volatilidade em momentos mais tensos, oferecendo um estoque de hedge razoável ao mercado e não deixando faltar liquidez em situações agudas.

A possibilidade de um novo embate eleitoral em 2022 opondo o ex-presidente Lula ao atual, Jair Bolsonaro, começa a preocupar os investidores. Para Loyola, essa hipótese “não sinaliza nenhum futuro brilhante para o país, pois se conhece a incapacidade de gestão dos dois”.

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