Exame Logo

Aumento de tarifas em até 300% semeia polêmica na Argentina

Novo "tarifaço" na Argentina, com aumentos de mais de 300% no gás e na água semeou a polêmica em plena escalada da inflação

Peso argentino: em menos de 24 horas, o governo sacudiu os bolsos dos cidadãos (AFP / Juan Mabromata)
DR

Da Redação

Publicado em 1 de abril de 2016 às 20h35.

Buenos Aires - Um novo "tarifaço" na Argentina , com aumentos de até 100% no transporte urbano e de mais de 300% no gás e na água, assim como altas no preço do combustível, semeou a polêmica em um país no qual a inflação continua sendo um dos principais problemas para a população.

Em menos de 24 horas, o governo sacudiu os bolsos dos cidadãos ao anunciar as novas tarifas dos ônibus urbanos em Buenos Aires, do trem, do gás, da água e dos combustíveis, apenas dois meses após estabelecer aumentos de até 600% na fatura de eletricidade.

"Hoje as pessoas estão com salários velhos e preços novos. Isto vai impactar em todos os setores", disse à Agência Efe Sandra González, presidente da Associação de Defesa de Consumidores e Usuários da Argentina, um país no qual o salário mínimo está estabelecido em 6.060 pesos (cerca de R$ 1.470).

O Executivo de Mauricio Macri considerou necessário implementar um novo esquema de preços do gás para promover investimentos em exploração a fim de "garantir seu abastecimento e de emitir sinais econômicos claros e razoáveis".

Além disso, procura promover um consumo responsável, razão pela qual serão outorgados benefícios aos usuários que reduzam seu consumo.

Em relação à água, que da mesma forma que o gás contará com uma tarifa social para os lares com menos receitas, fontes governamentais assinalaram que se trata de um processo de normalização tarifária sobre o que se paga em Buenos Aires, cerca de 25% mais barata que no resto do país.

"O aumento em si não está ruim porque faz dois anos que não aumentam (as tarifas) e, se comparamos com o interior do país, ali é tudo muito mais caro. Aqui estava todo subsidiado pelo governo anterior", afirmou Francisco Garrido, morador de Buenos Aires, que considerou que a alta é desmedida porque "tudo vem junto".

Também hoje o preço dos combustíveis aumentou 6% na média, a terceira alta desde dezembro, algo que segundo o governo se deve ao fim das restrições cambiais e ao consequente aumento do preço do petróleo.

"Está certo que o governo tome medidas de macroeconomia, mas é preciso olhar um pouco mais para o que está afetando o povo hoje e o que vem afetando há muito tempo. A inflação não vem de agora, está há muitos anos", acrescentou González.

Em fevereiro, o Índice de Preços ao Consumidor da Argentina subiu quatro pontos percentuais, com o que o país acumulou uma inflação de 8,3% nos dois primeiros meses do ano, segundo o índice de Buenos Aires, referência provisória usado pelo governo enquanto prepara um novo indicador nacional.

Em discursos e entrevistas, Macri advertiu reiteradamente do precário estado das finanças argentinas que herdou após 12 anos de governos kirchneristas, aos quais culpa pelo fato de a Argentina ter um dos índices de inflação mais altos do mundo, superior a 20%.

"Há cinco anos que o país não cresce e vem com 700% de inflação acumulada (na última década)", disse o presidente em entrevista na quarta-feira passada, quando se mostrou confiante de que os preços cairão a partir do segundo semestre.

A esse respeito, os consumidores reivindicam "medidas rápidas" e que o governo efetive uma redução dos impostos na cesta básica de alimentos.

Para Javier Medina, também morador da capital argentina, a alta de tarifas "é um assunto menor", já que "há falta de trabalho em alguns setores".

"A mudança não é tão justa para a classe média baixa. A classe alta não será muito afetada", considerou.

Além disso, nesta quinta-feira, o ministro dos Transportes, Guillermo Dietrich, anunciou uma alta de 100% nas tarifas de trem e ônibus da área metropolitana de Buenos Aires, com o que procura equiparar os preços aos do resto do país e conter os males que, segundo disse, foram deixados pelo "populismo" do governo anterior nesse serviço público.

Esta decisão, que ajudará também a ampliar tarifas sociais, busca ainda ampliar o investimento em infraestrutura para os transportes da região.

"O transporte era tão acessível... Agora é preciso caminhar", comentou Ivonne Rodríguez, cidadã colombiana estabelecida na Argentina.

A postura da oposição em relação a estes aumentos é taxativa.

"Um destino terrível nos espera. No segundo semestre já não vai haver nem aumento nem rebaixamento de preços, diretamente não vai haver mais consumidores", declarou o presidente da bancada do kirchnerista Frente para a Vitória, Héctor Recalde, que argumentou que "quando há menos consumo, há menos vendas" e, logo, menos produção e "mais desemprego".

"O que fizeram com este aumento de tarifas foi entrar em uma sala de cirurgia com uma motosserra", criticou Sergio Massa, deputado da Frente Renovadora.

Veja também

Buenos Aires - Um novo "tarifaço" na Argentina , com aumentos de até 100% no transporte urbano e de mais de 300% no gás e na água, assim como altas no preço do combustível, semeou a polêmica em um país no qual a inflação continua sendo um dos principais problemas para a população.

Em menos de 24 horas, o governo sacudiu os bolsos dos cidadãos ao anunciar as novas tarifas dos ônibus urbanos em Buenos Aires, do trem, do gás, da água e dos combustíveis, apenas dois meses após estabelecer aumentos de até 600% na fatura de eletricidade.

"Hoje as pessoas estão com salários velhos e preços novos. Isto vai impactar em todos os setores", disse à Agência Efe Sandra González, presidente da Associação de Defesa de Consumidores e Usuários da Argentina, um país no qual o salário mínimo está estabelecido em 6.060 pesos (cerca de R$ 1.470).

O Executivo de Mauricio Macri considerou necessário implementar um novo esquema de preços do gás para promover investimentos em exploração a fim de "garantir seu abastecimento e de emitir sinais econômicos claros e razoáveis".

Além disso, procura promover um consumo responsável, razão pela qual serão outorgados benefícios aos usuários que reduzam seu consumo.

Em relação à água, que da mesma forma que o gás contará com uma tarifa social para os lares com menos receitas, fontes governamentais assinalaram que se trata de um processo de normalização tarifária sobre o que se paga em Buenos Aires, cerca de 25% mais barata que no resto do país.

"O aumento em si não está ruim porque faz dois anos que não aumentam (as tarifas) e, se comparamos com o interior do país, ali é tudo muito mais caro. Aqui estava todo subsidiado pelo governo anterior", afirmou Francisco Garrido, morador de Buenos Aires, que considerou que a alta é desmedida porque "tudo vem junto".

Também hoje o preço dos combustíveis aumentou 6% na média, a terceira alta desde dezembro, algo que segundo o governo se deve ao fim das restrições cambiais e ao consequente aumento do preço do petróleo.

"Está certo que o governo tome medidas de macroeconomia, mas é preciso olhar um pouco mais para o que está afetando o povo hoje e o que vem afetando há muito tempo. A inflação não vem de agora, está há muitos anos", acrescentou González.

Em fevereiro, o Índice de Preços ao Consumidor da Argentina subiu quatro pontos percentuais, com o que o país acumulou uma inflação de 8,3% nos dois primeiros meses do ano, segundo o índice de Buenos Aires, referência provisória usado pelo governo enquanto prepara um novo indicador nacional.

Em discursos e entrevistas, Macri advertiu reiteradamente do precário estado das finanças argentinas que herdou após 12 anos de governos kirchneristas, aos quais culpa pelo fato de a Argentina ter um dos índices de inflação mais altos do mundo, superior a 20%.

"Há cinco anos que o país não cresce e vem com 700% de inflação acumulada (na última década)", disse o presidente em entrevista na quarta-feira passada, quando se mostrou confiante de que os preços cairão a partir do segundo semestre.

A esse respeito, os consumidores reivindicam "medidas rápidas" e que o governo efetive uma redução dos impostos na cesta básica de alimentos.

Para Javier Medina, também morador da capital argentina, a alta de tarifas "é um assunto menor", já que "há falta de trabalho em alguns setores".

"A mudança não é tão justa para a classe média baixa. A classe alta não será muito afetada", considerou.

Além disso, nesta quinta-feira, o ministro dos Transportes, Guillermo Dietrich, anunciou uma alta de 100% nas tarifas de trem e ônibus da área metropolitana de Buenos Aires, com o que procura equiparar os preços aos do resto do país e conter os males que, segundo disse, foram deixados pelo "populismo" do governo anterior nesse serviço público.

Esta decisão, que ajudará também a ampliar tarifas sociais, busca ainda ampliar o investimento em infraestrutura para os transportes da região.

"O transporte era tão acessível... Agora é preciso caminhar", comentou Ivonne Rodríguez, cidadã colombiana estabelecida na Argentina.

A postura da oposição em relação a estes aumentos é taxativa.

"Um destino terrível nos espera. No segundo semestre já não vai haver nem aumento nem rebaixamento de preços, diretamente não vai haver mais consumidores", declarou o presidente da bancada do kirchnerista Frente para a Vitória, Héctor Recalde, que argumentou que "quando há menos consumo, há menos vendas" e, logo, menos produção e "mais desemprego".

"O que fizeram com este aumento de tarifas foi entrar em uma sala de cirurgia com uma motosserra", criticou Sergio Massa, deputado da Frente Renovadora.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaArgentinaInflaçãoTarifas

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Economia

Mais na Exame