Economia

Ata do Copom indica inflação em queda, mas mantém tom cauteloso sobre Selic

Comunicação do BC mantém apostas do mercado de um início de ciclo de cortes apenas em março

Diretores do Banco Central (BC) reunidos em Brasília para mais uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) ( Raphael Ribeiro/BCB/Flickr)

Diretores do Banco Central (BC) reunidos em Brasília para mais uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) ( Raphael Ribeiro/BCB/Flickr)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 16 de dezembro de 2025 às 09h04.

Os diretores do Banco Central reconheceram o cenário positivo para a redução das expectativas de inflação, mas mantiveram o tom duro e sem sinalização de início de corte da taxa de juros em janeiro, segundo a Ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira, 16.

“Endossando o cenário esperado pelo Comitê até aqui, prossegue a moderação gradual da atividade em curso, a diminuição da inflação corrente e a redução nas expectativas de inflação. No entanto, o Comitê seguirá vigilante e, como de costume, não hesitará em retomar o ciclo de alta se julgar apropriado”, afirmou.

Na última quarta-feira, 10, o Comitê manteve a taxa de juros em 15% ao ano, na última reunião do ano. Esse é o maior patamar da Selic desde 2006.

Economistas ouvidos pela EXAME após a decisão apontaram que a comunicação reforça que o ciclo de corte de juros deve começar apenas em março.

A manutenção das frases que “não hesitará em retomar o clico de alta se julgar apropriado” e que os juros devem seguir em alta por período bastante prolongado praticamente fechou a porta para um corte em janeiro, segundo analistas.

No documento, o BC detalha que, na reunião deste mês, os diretores concluíram que a manutenção da taxa de juros “por período bastante prolongado é adequada para assegurar a convergência da inflação à meta”.

Hoje, a expectativa da inflação para o segundo trimestre de 2027, período relevante da política monetária, é de 3,2% para o IPCA, segundo o Boletim Focus.

“O Comitê avalia que a condução cautelosa da política monetária tem contribuído para a observação de ganhos desinflacionários e, mais uma vez, reafirma o firme compromisso com o mandato do Banco Central de levar a inflação à meta”, disse em comunicado.

Os diretores afirmaram ainda que a política monetária contracionista resultou em leituras de inflação melhores do que o previsto no início do ano, aliada a um câmbio mais apreciado e a um comportamento mais benigno das commodities.

O resultado, segundo os diretores, foi uma redução nas inflações de bens industrializados e alimentos, além de uma queda mais tímida na inflação de serviços.

“Mantém-se, de um lado, a interpretação de uma inflação pressionada pela demanda, que requer uma política monetária contracionista por um período bastante prolongado, e, de outro, a interpretação de que a política monetária tem contribuído de forma determinante para a desinflação observada”, disse a Ata.

Fiscal e mercado externo entre os riscos

Entre os riscos sinalizados pelo BC para a manutenção da taxa de juros estão uma maior resiliência da inflação de serviços do que a projetada, em função de um hiato do produto mais positivo, e uma conjunção de políticas econômicas externas e internas que tenham impacto inflacionário maior do que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio alta.

Em relação à política monetária, o BC reafirmou o impacto de curto prazo na percepção sobre a sustentabilidade da dívida e no impacto do prêmio a termo da curva de juros. Os diretores afirmaram em ata que a falta de disciplina fiscal contribui para elevar a taxa de juros neutra da economia.

“O Comitê reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo da desinflação em termos de atividade”, afirmou.

Mercado de trabalho

Em relação ao mercado de trabalho, o Comitê manteve a sinalização de que a taxa de desemprego está em patamar bastante apertado, e que há sinais incipientes de desaquecimento.

Houve o entendimento, ainda, de que o debate mais estrutural sobre como o mercado de trabalho se alterou ao longo dos anos e como cada uma dessas mudanças tem impactado os indicadores deve ser realizado pelo Copom, para uma melhor interpretação do mercado de trabalho.

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