Em julho as exportações argentinas para a China aumentaram 77% em comparação com 2013 (Getty Images/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 27 de agosto de 2014 às 11h14.
Buenos Aires - O Mercosul, bloco criado há 23 anos, não é mais o principal sócio comercial da Argentina. Isso é o que indicam os dados do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), que apontam os países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) - integrado pela Indonésia, Malásia, Cingapura, entre outros - junto com a China, Coreia do Sul, Japão e Índia como destinatários de 25% das exportações da Argentina.
No mês passado o Mercosul foi responsável pelas compras de 23,5% dos produtos argentinos enviados ao exterior. É a primeira vez desde a fundação do bloco em 1991 que o Mercosul fica em segundo posto no destino das exportações argentinas.
A União Europeia, que obteve o terceiro lugar, absorveu 12% das vendas argentinas.
O bloco do cone sul também deixou de ter a pole position nos destinos das importações feitas pela Argentina, já que do total de produtos comprados pela Argentina, 23% vieram dos países da Asean, China, Coreia do Sul, Japão e Índia. Outros 21,5% dos importados vieram do Mercosul e 19% dos países do Nafta.
Segundo o Indec, em julho as exportações argentinas para a China aumentaram 77% em comparação com o mesmo mês de 2013, enquanto as vendas da Argentina para o Brasil sofreram queda de 18%.
Os dados do Indec também indicam que as importações argentinas de produtos brasileiros caíram 31% em julho, enquanto a entrada de produtos chineses teve redução de 12%.
Protecionismo
Segundo o ex-secretário de indústria Dante Sica, diretor da consultoria econômica Abeceb, essa queda de status do Mercosul "deve-se a uma bateria de fatores, entre eles o fato de que as economias da Argentina e do Brasil estão desacelerando.
E, dessa forma, o nível de comércio diminui". Mas, segundo Sica, o comércio entre a Argentina e os sócios do Mercosul "também foi reduzido por causa da política de restrições às importações implementada pelo governo da presidente Cristina Kirchner".
Além disso, afirma o economista, o governo argentino restringe o acesso aos dólares, medida que complica as compras de produtos importados. "E, de quebra, a Argentina tem problemas para conseguir financiamento no exterior. O único país que está abrindo linhas de crédito é a China."
No entanto, segundo Sica, o deslocamento do Mercosul do primeiro posto no destino das exportações argentinas não está vinculado a um plano do governo Kirchner. "Não foi planejado. Simplesmente aconteceu. Mas torna-se uma tendência."
Nos últimos anos os produtos asiáticos deslocaram gradualmente as mercadorias brasileiras no mercado argentino. Entre os setores conquistados pelos asiáticos estão os de calçados, eletrônicos, autopeças e bens de capital, além de artefatos elétricos.
No Mercosul - na teoria - teria de predominar o livre-comércio. No entanto, desde 2004 - e com mais intensidade desde 2009 - o governo Kirchner aplica medidas protecionistas, especialmente contra seus sócios do Mercosul, o que gera constantes reclamações do empresariado de Uruguai, Paraguai e Brasil.
Os governos em Assunção e Montevidéu também protestam com frequência contras as barreiras argentinas, enquanto o governo do Brasil assume posições mais benevolentes com o protecionismo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.