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Argentina recebe cúpula do G20 em meio à crise econômica

Nessa semana da cúpula, sindicatos fazem greves em aeroportos e no sistema de metrô, pedindo ajustes salariais de acordo com a inflação

Mauricio Macri: o dirigente de centro-esquerda com uma carreira de sucesso como empresário teve em 2018 o ano mais difícil de seu governo (Marcos Brindicci/Reuters)
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AFP

Publicado em 28 de novembro de 2018 às 09h58.

Última atualização em 28 de novembro de 2018 às 10h00.

A cúpula do G20 , em Buenos Aires, será o evento internacional mais importante já organizado na Argentina, mas, diferentemente do que esperava o presidente Mauricio Macri, é um país em pela crise econômica que irá receber os líderes mundiais.

Macri, um dirigente de centro-esquerda com uma carreira de sucesso como empresário, teve em 2018 o ano mais difícil de seu governo, com a explosão de uma crise econômica que o obrigou a pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional no valor de 56 bilhões de dólares, a mais alta da história do organismo.

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A desvalorização de 50% do peso argentino em relação ao dólar, a inflação prevista entre 45% e 50% para o fechamento de 2018, o aumento da pobreza (27,3%) e do desemprego (9,6%), a contração econômica prevista de 2,6% para 2018 e para 1,6% em 2019 não estão entre os indicadores econômicos que o anfitrião desejava mostrar aos governantes como o americano Donald Trump e a alemã Angela Merkel.

A última grande cúpula da Argentina foi a IV Cúpula das Américas, em Mar del Plata em 2005, um revés para o ex-presidente americano George W. Bush, que não pode formar a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), rechaçada pelos presidentes de esquerda que então governavam a região.

"A expectativa do governo de Macri, quando concordou em realizar a cúpula em Buenos Aires, era que serviria como vitrine para sua política de reformas graduais. A Argentina parecia então ser uma das poucas boas notícias, por suas políticas pró-mercado com apoio popular", disse Bruno Binetti, acadêmico de relações internacionais das universidades argentinas Torcuato di Tella e Católica.

Macri assumiu em dezembro de 2015 com um discurso liberal, após 12 anos do governo protecionista de centro-esquerda peronista de Néstor e Cristinia Kirchner (2003-2015), quando aconteceu um boom do preço dos cereais, produto de exportação por excelência da Argentina.

Macri abriu o mercado de câmbio, eliminou subsídios para os serviços básicos e fez cortes na administração pública, seguindo um plano gradual que buscava aliviar o impacto na população e manter seu respaldo.

Mesmo assim, em 2018 a renda das exportações sofreu uma dura queda, após uma das piores secas no campo, enquanto os Estados Unidos endureciam suas medidas protecionistas e se envolvia em uma guerra comercial com a China.

Conflito social

Uma corrida cambial no final de abril levou à crise, que Macri tenta conter com dificuldade e um índice de desaprovação que chegou a 65% no período de setembro-outubro, segundo a pesquisa de opinião pública realizada pela Universidade de San Andrés.

A política econômica de seu governo é a mais rejeitada pela população, com índice de 86% de insatisfeitos, de acordo com a mesma pesquisa.

A deterioração da situação econômica aviva o conflito social, com duas greves gerais nesse ano e várias paralisações e manifestações trabalhistas.

Nessa semana da cúpula do G20, os sindicatos fazem greves parciais em aeroportos, na companhia aérea Aerolíneas Argentinas e no sistema de metrô, pedindo ajustes salariais de acordo com a inflação.

Organizações sociais preparam uma série de mobilizações em repúdio ao G20 e contra a política econômica de Macri que incluem palestras, workshops, shows e uma grande demonstração na sexta-feira.

"O G20 vai durar um dia, no segundo dia todos eles vão embora pelo desastre que será armado. As pessoas tem fome e querem fazer um G20 aqui?", diz Jesús Olgin, vendedor de rua de centro de Buenos Aires.

Em busca de apoio

Com a intenção de optar por um novo mandato nas eleições de 2019, Macri tenta que a cúpula sirva como um sinal de respaldo para suas políticas.

"Virão os líderes mais importantes do mundo como uma amostra de apoio à Argentina e de reconhecimento de que a Argentina voltou a querer fazer sua contribuição para o cenário mundial", disse o mandatário nessa semana.

Binetti destacou que a situação da Argentina "é muito menos auspiciosa do que se esperava quando recebeu a presidência Pro-Tempore do G20".

"O diagnóstico de Macri sobre para onde o mundo caminharia não se concretizou. Mesmo assim, a Argentina teve o apoio dos Estados Unidos no FMI e Trump foi flexível com a Argentina nos temas da taxação dos do ferro e do aço", disse.

Para o analista Rosendo Fraga, a grande oportunidade que a cúpula trará para Macri estará no bilateralismo, com o caráter oficial trazido pelas visitas dos governantes dos Estados Unidos, da China, Rússia, França, Japão, Reino Unido e Alemanha.

"Nesse encontros, a Argentina terá respaldo e elogios. O marco econômico e comercial multilateral está se debilitando, as relações bilaterais estão se fortalecendo", diz Fraga.

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