Economia

Após surpresa do Fed, Brasil lidera apostas em corte de juro entre latinos

Há apenas um mês, taxas de swap no Brasil não precificavam corte dos juros. Agora, mostram probabilidade de 60% de um corte de 50 pontos-base em março

Vista do prédio do Banco Central brasileiro, em Brasília (Gregg Newton/Bloomberg)

Vista do prédio do Banco Central brasileiro, em Brasília (Gregg Newton/Bloomberg)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 6 de março de 2020 às 06h00.

Última atualização em 6 de março de 2020 às 10h20.

As apostas de cortes de juros ganharam força na América Latina nos últimos dias, ainda que se acredite que a política monetária pouco pode fazer para combater o impacto do coronavirus.

Do México ao Chile, as taxas de swap caíram depois do corte dos juros de emergência do Fed na terça-feira diante da ameaça do coronavírus para o crescimento global. Uma redução dos juros agora está totalmente precificada para as reuniões de política monetária no Brasil e no México em março, enquanto apostas de corte aumentaram no Chile e na Colômbia.

Com a mudança de perspectiva, o dólar atingiu novas máximas em relação ao real, mesmo com a retomada das intervenções do Banco Central no mercado de câmbio. As moedas do México, Colômbia e Chile também perdem terreno depois de começar a semana com ganhos. Além disso, embora as ações tenham reduzido as perdas, o otimismo dos investidores pode não durar muito.

“O impacto real da política monetária será muito limitado para conter os efeitos em qualquer país”, disse Alvaro Vivanco, chefe de estratégia da América Latina da NatWest Markets, em Stamford, Connecticut. “Trata-se mais de destruição da demanda e de cadeias de fornecedores interrompidas”, e não de uma queda de confiança dos consumidores ou de empresários.

Curto prazo

Vivanco diz que o afrouxamento da política monetária é possível em grandes economias da América Latina, embora seja mais provável no México, seguido pelo Brasil e Colômbia. No Chile, ele avalia que um corte de juros seria menos provável, pois a taxa de 1,75% já é a mais baixa da região.

Embora seja improvável que cortes dos juros impulsionem o crescimento econômico, governos tiveram pouca escolha diante da queda da demanda e dos preços das ações.

Sebastien Barbe, chefe de pesquisa e estratégia de mercados emergentes do Crédit Agricole em Paris, diz que a redução das taxas deve estabilizar pelo menos os mercados de ações.

“Poderíamos argumentar que seria pior sem a ação dos bancos centrais”, disse Barbe.

O Brasil lidera a repentina mudança de visão do mercado. Há apenas um mês, as taxas de swap não precificavam corte dos juros. Agora, as taxas mostram probabilidade de 60% de um corte de 50 pontos-base em março. Em 4,5%, a Selic está na mínima história.

“O setor de manufatura global passa por um grande choque, e o Brasil não pode evitar isso”, disse Sacha Tihany, vice-chefe de estratégia de mercados emergentes da TD Securities, em Nova York. Ele não tem certeza se o corte dos juros acontecerá este mês ou mais tarde.

Taxas de swap

No México, as taxas de swap TIIE caíram de 45 a 60 pontos-base desde a última sexta-feira, e estão a caminho da maior queda semanal desde outubro de 2008. Muitos investidores agora esperam um corte da taxa de 50 pontos-base neste mês, enquanto a Franklin Templeton chegou a dizer que o banco central faria um corte de emergência esta semana.

As apostas de redução dos juros no Chile também aumentaram. A curva local, conhecida como Camara, que é um mercado de swap de volatilidade razoavelmente baixa, caiu entre 5 a 9 pontos-base após o corte do Fed. A expectativa agora é de que o banco central corte os juros em 25 pontos-base dentro dos próximos três meses, mesmo com a inflação perto do maior nível em quatro anos.

(Com a colaboração de George Lei).

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