Economia

Após IPCA de junho, analistas preveem nova alta da Selic

O IPCA de junho, que ficou em 0,79%, sela o acordo para uma alta da taxa Selic, segundo analistas


	A taxa Selic deve aumentar 0,50 ponto percentual devido ao IPCA de junho, que ficou em 0,79% e acumula alta de 8,89% em 12 meses
 (thinkstock)

A taxa Selic deve aumentar 0,50 ponto percentual devido ao IPCA de junho, que ficou em 0,79% e acumula alta de 8,89% em 12 meses (thinkstock)

DR

Da Redação

Publicado em 8 de julho de 2015 às 13h47.

São Paulo e Belo Horizonte - O IPCA de junho, que ficou em 0,79% e acumula alta de 8,89% em 12 meses, provavelmente sela o acordo para uma alta de 0,50 ponto porcentual da Selic este mês, segundo análise da consultoria britânica Capital Economics.

"A inflação está agora no ritmo mais alto desde o fim de 2003 e quase o dobro do centro de meta do Banco Central", aponta o texto assinado pelo economista para mercados emergentes Edward Glossop.

A Capital Economics diz que, apesar de alta em jogos de azar ter impulsionado o IPCA de junho, os preços administrados não teriam muito mais espaço para subir nos próximos meses. "De fato, as grandes altas mensais na inflação parecem ter ficado para trás."

O texto lembra que os aumentos nos administrados devem sair do acumulado em 12 meses no começo de 2016, o que significa que a inflação provavelmente registrará uma queda relativamente forte.

A consultoria lembra que, no Relatório Trimestral de Inflação (RTI), o BC manteve a afirmação de que os esforços no combate à inflação ainda eram "insuficientes". Assim, "todos os sinais" apontam para uma elevação da Selic para 14,25% na próxima reunião.

Besi Brasil

Dentro do contexto em que o BC vem dando sinais de que o ciclo de aperto monetário está se aproximando do fim somado à taxa de inflação de junho, abaixo do esperado pelo mercado e 0,20 ponto porcentual abaixo do IPCA-15 deste mesmo mês, o economista-sênior do Besi Brasil, Flávio Serrano, entende que a Selic deverá aumentar, no máximo, 0,75 ponto porcentual neste ano.

A percepção do economista é de que o incremento de juro daqui para o final do ciclo de aperto monetário é de entre 0,25 a 0,75 ponto porcentual, mas ressalta que para este mês aumentou muito a probabilidade de a Selic ser aumentada em 0,25 ponto porcentual, para 14% ao ano. "É o que os preços estão dizendo", disse Serrano.

O IPCA, apesar de ter vindo acima da medida inflacionária de maio - veio com alta de 0,79% ante 0,74% no mês anterior - , surpreendeu e revela um grande ganho se comparado com o que ocorreu ao longo do primeiro semestre, onde os números surpreendiam para cima a cada divulgação do IBGE, ponderou Serrano.

A maior surpresa, de acordo com o economista do Besi, veio do grupo Alimentação e Bebidas, que saiu de uma alta de 1,37% em maio para 0,63% em junho. "Tínhamos para a Alimentação uma alta de 0,85%", disse o economista. Ele citou também como parte integrante da surpresa as variações também abaixo do esperado da energia elétrica e das loterias.

De qualquer forma, Serrano avalia que, apesar da surpresa positiva, uma inflação de 0,80% no mês não é um nível bom. "A inflação acumulada no ano está em 6,17% e a de 12 meses, em 8,89%", disse o economista, acrescentando não acreditar que o BC conseguirá entregar em 2016 a inflação em 4,5%.

O Besi trabalha com um IPCA encerrando o próximo ano em 5,4% e Serrano avalia que a mediana das expectativas dos analistas do mercado na Relatório Focus andará no máximo em direção a 5,30% em 2016.

PUC-MG

Para o professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) e economista Daniel Ítalo Richard Furletti, o resultado de junho do IPCA sinaliza que a taxa pode chegar a dois dígitos ainda neste ano.

"Essa inflação, que é de custos e não de demanda, não cederá se não houver investimentos. Estamos caminhando para uma taxa de dois dígitos que pode ser alcançada ainda neste ano", alertou o professor. No ano até junho, o IPCA está em 6,17% e, em 12 meses, 8,89%. Ele lembra que a cada Boletim Focus, os analistas aumentam a previsão para o ano. No relatório desta semana, a inflação prevista foi de 9,04%.

A tese do especialista se fundamenta quando se analisa as principais influências positivas na taxa deste mês: passagem aérea, taxa de água e esgoto, automóveis usados e tarifas de ônibus urbanos. "São áreas que precisam de investimento: nossa infraestrutura e logística são ruins; o preço do combustível não para de aumentar, o frete está alto, e os custos são repassados ao consumidor", disse.

Para ele, o País precisa resolver algumas de suas quatro crises: a econômica, a política, a ética e a de confiança. "São crises que se retroalimentam e que necessitam ser estancadas urgentemente. Não há poupança interna para se investir e para atrair o aporte externo tem de haver uma sinalização de arrefecimento dessas crises", explicou.

Acompanhe tudo sobre:EstatísticasIndicadores econômicosInflaçãoIPCASelic

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto