Analistas levantam dúvidas sobre balança comercial chinesa
Segundo eles, é possível que os dados tenham sido inflados por investidores fugindo do controle de capitais
Da Redação
Publicado em 13 de janeiro de 2016 às 15h09.
Pequim - Os números melhores do que o esperado sobre a balança comercial chinesa, divulgados na madrugada de hoje, levantaram dúvidas sobre os fluxos de comércio do país, disseram analistas.
Segundo eles, é possível que os dados tenham sido inflados por investidores fugindo do controle de capitais, assim como pela extensão dos incentivos oferecidos por agências governamentais para impulsionar as exportações.
Dados da Administração Geral de Alfândega mostram que as exportações chinesas caíram 1,4% em dezembro ante igual mês do ano anterior, após recuarem 6,8% em novembro.
A redução foi bem menor do que a queda de 8% prevista por economistas consultados pelo Wall Street Journal.
Já as importações recuaram 7,6% em dezembro ante um ano antes, depois de caírem 8,7% em novembro. A estimativa era de queda de 11%.
Chamou atenção, em particular, o salto de 64,5% nas importações chinesas de Hong Kong, o ritmo mais forte em três anos, disseram esses analistas. No período entre janeiro e novembro, o mesmo indicador recuou 6,2%.
"Parece realmente se tratar de fuga de capitais", disse Oliver Barron, diretor de pesquisa da China do North Square Blue Oak."O número inflou artificialmente os dados de importações totais".
Nos últimos meses, o governo tem lutado contra a fuga massiva de capitais por parte de investidores chineses, que têm olhado para o exterior em busca de retornos mais atraentes. Como resultado, as reservas de moeda internacional do país recuaram 13,3% ao final de 2015, ou cerca de US$ 500 bilhões, para um total de US$ 3,3 trilhões.
Regras de controle de capital impostas por Pequim limitam a compra de dólares pelos chineses a ao equivalente a US$ 50 mil por ano. Economistas dizem, no entanto, que acordos de comércio exterior podem estar sendo manipulados para burlar essas restrições.
Uma forma seria efetuar a compra de 1 milhão de produtos ao custo unitário de US$ 2,00 de uma empresa parceira ou subsidiária em Hong Kong.
Em seguida, essas mercadorias seriam exportadas de volta, para a mesma empresa, ao custo de US$ 1,00 a unidade. Como resultado, os produtos voltaram ao lugar inicial, mas a empresa conseguiu mover US$ 1 milhão para fora do continente.
Autoridades chinesas endureceram, nos últimos meses, a supervisão para conter a saída de divisas.
Em novembro, o governo prendeu 69 pessoas e abriu processo contra outras 203 por operarem um esquema que teria trazido ao país cerca de US$ 64 bilhões em transações não autorizadas, de acordo com a mídia estatal.
"Reguladores tem se esforçado para encontrar as brechas no sistema", disse o economista da Reoriente Financial Markets, Steve Wang, para quem o mercado se manteve cético quanto aos dados de hoje.
"Não acredito que Hong Kong tenha comprado ou vendido muito mais à China. Os números da dezembro (da balança comercial) são um enorme ponto de interrogação", disse.
As exportações chinesas para Hong Kong também tiveram forte avanço no último mês do ano, crescendo 10,8% em dezembro ante uma queda acumulada de 8,7% no período de janeiro a novembro em relação ao mesmo período de 2014.
Em relatório, analistas do Citibank afirmaram que isto pode refletir os esforços de investidores para arbitrar a diferença entre as cotações onshore e offshore do yuan. Recentemente, o spread chegou a 2%.
"Um enorme e incomum salto nas exportações para Hong Kong elevaram as já corriqueiras suspeitas sobre fuga de capitais, inibindo um otimismo maior quanto aos dados", disse o economista do ING, Tim Condon.
Outra questão que pode ter tido impacto sobre as exportações é o dos incentivos oferecidos por várias agências chinesas, que podem chegar a até 1 milhão de yuans, segundo contam alguns exportadores chineses.
Muitas dessas agências, no entanto, não costumam publicar o valor das gratificações recebidas pelas empresas exportadoras, com receio de que eles firam as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Lu Li, dono de uma companhia que organiza embarques de bens para o exterior, disse que, nos últimos meses, alguns empresários começaram a oferecer milhares de yuans em troca de recibos envolvendo grandes transações.
Para ele, esses documentos podem estar sendo usados como prova para mostrar que eles atingiram a meta de exportação.
Hoje, o porta-voz da Administração Geral de Alfândega, Huang Songping, afirmou que os números de dezembro são resultado, em parte, de companhias correndo para bater as metas de fim de ano.
Pequim - Os números melhores do que o esperado sobre a balança comercial chinesa, divulgados na madrugada de hoje, levantaram dúvidas sobre os fluxos de comércio do país, disseram analistas.
Segundo eles, é possível que os dados tenham sido inflados por investidores fugindo do controle de capitais, assim como pela extensão dos incentivos oferecidos por agências governamentais para impulsionar as exportações.
Dados da Administração Geral de Alfândega mostram que as exportações chinesas caíram 1,4% em dezembro ante igual mês do ano anterior, após recuarem 6,8% em novembro.
A redução foi bem menor do que a queda de 8% prevista por economistas consultados pelo Wall Street Journal.
Já as importações recuaram 7,6% em dezembro ante um ano antes, depois de caírem 8,7% em novembro. A estimativa era de queda de 11%.
Chamou atenção, em particular, o salto de 64,5% nas importações chinesas de Hong Kong, o ritmo mais forte em três anos, disseram esses analistas. No período entre janeiro e novembro, o mesmo indicador recuou 6,2%.
"Parece realmente se tratar de fuga de capitais", disse Oliver Barron, diretor de pesquisa da China do North Square Blue Oak."O número inflou artificialmente os dados de importações totais".
Nos últimos meses, o governo tem lutado contra a fuga massiva de capitais por parte de investidores chineses, que têm olhado para o exterior em busca de retornos mais atraentes. Como resultado, as reservas de moeda internacional do país recuaram 13,3% ao final de 2015, ou cerca de US$ 500 bilhões, para um total de US$ 3,3 trilhões.
Regras de controle de capital impostas por Pequim limitam a compra de dólares pelos chineses a ao equivalente a US$ 50 mil por ano. Economistas dizem, no entanto, que acordos de comércio exterior podem estar sendo manipulados para burlar essas restrições.
Uma forma seria efetuar a compra de 1 milhão de produtos ao custo unitário de US$ 2,00 de uma empresa parceira ou subsidiária em Hong Kong.
Em seguida, essas mercadorias seriam exportadas de volta, para a mesma empresa, ao custo de US$ 1,00 a unidade. Como resultado, os produtos voltaram ao lugar inicial, mas a empresa conseguiu mover US$ 1 milhão para fora do continente.
Autoridades chinesas endureceram, nos últimos meses, a supervisão para conter a saída de divisas.
Em novembro, o governo prendeu 69 pessoas e abriu processo contra outras 203 por operarem um esquema que teria trazido ao país cerca de US$ 64 bilhões em transações não autorizadas, de acordo com a mídia estatal.
"Reguladores tem se esforçado para encontrar as brechas no sistema", disse o economista da Reoriente Financial Markets, Steve Wang, para quem o mercado se manteve cético quanto aos dados de hoje.
"Não acredito que Hong Kong tenha comprado ou vendido muito mais à China. Os números da dezembro (da balança comercial) são um enorme ponto de interrogação", disse.
As exportações chinesas para Hong Kong também tiveram forte avanço no último mês do ano, crescendo 10,8% em dezembro ante uma queda acumulada de 8,7% no período de janeiro a novembro em relação ao mesmo período de 2014.
Em relatório, analistas do Citibank afirmaram que isto pode refletir os esforços de investidores para arbitrar a diferença entre as cotações onshore e offshore do yuan. Recentemente, o spread chegou a 2%.
"Um enorme e incomum salto nas exportações para Hong Kong elevaram as já corriqueiras suspeitas sobre fuga de capitais, inibindo um otimismo maior quanto aos dados", disse o economista do ING, Tim Condon.
Outra questão que pode ter tido impacto sobre as exportações é o dos incentivos oferecidos por várias agências chinesas, que podem chegar a até 1 milhão de yuans, segundo contam alguns exportadores chineses.
Muitas dessas agências, no entanto, não costumam publicar o valor das gratificações recebidas pelas empresas exportadoras, com receio de que eles firam as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Lu Li, dono de uma companhia que organiza embarques de bens para o exterior, disse que, nos últimos meses, alguns empresários começaram a oferecer milhares de yuans em troca de recibos envolvendo grandes transações.
Para ele, esses documentos podem estar sendo usados como prova para mostrar que eles atingiram a meta de exportação.
Hoje, o porta-voz da Administração Geral de Alfândega, Huang Songping, afirmou que os números de dezembro são resultado, em parte, de companhias correndo para bater as metas de fim de ano.