Economia

Ambição desmedida

No mercado global, boato gera poluição financeira

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h31.

A divulgação de relatórios de alguns bancos estrangeiros sobre a possibilidade de vitória do PT nas eleições presidenciais brasileiras gerou uma brusca elevação na taxa de risco do país. Seria pouco inteligente atribuir a tais documentos razões de natureza exclusivamente técnica, derivadas de escrutínio ou de profundos estudos de funcionários daquelas instituições sobre as origens e o desenvolvimento dos fundamentos da economia brasileira. Felizmente, já ocorreram recuos em algumas dessas posições ou análises. Outras, foram franca e diretamente desautorizadas por representantes locais dos mesmos estabelecimentos locais. Contudo, nada há para fazer: o mal já está feito.

Na realidade, o mercado financeiro brasileiro já deveria estar acostumado a esse tipo de investida, que não é novo, mas que já causou prejuízos gigantescos e irrecuperáveis aos menos avisados, principalmente às nossas contas públicas. Basta observar as variações da taxa de câmbio e lembrar que, há pouco mais de um mês, a relação real/dólar estava na base de 2,27 reais e chegou à casa dos 2,50 -- este último número, também um produto do mesmo movimento especulativo que elevou a taxa de risco.

A ambição desmedida move os especuladores na alimentação de qualquer boato que possa gerar lucros para seus empreendimentos, mesmo à custa do prejuízo e até da ruína de inocentes ou de mal informados. Infelizmente, pelo que vemos, apenas os mercados de países emergentes, ou que se encontram alijados dos centros das decisões, é que são as vítimas preferenciais desse tipo de estratégia. Assim, não temos lembrança de que, por causa dos votos dados há alguns anos a Lionel Jospin e, recentemente, a Jean-Marie Le Pen, o valor dos títulos emitidos por empresas francesas tenha sofrido oscilação idêntica àqueles da dívida brasileira. Por que, então, ainda a cinco meses das eleições, a simples hipótese de uma vitória do PT poderia causar, de imediato, tal impacto no rating do Brasil e, de forma indireta, atingir até a taxa de câmbio?

Não acredito que as denúncias a respeito da atuação de ex-diretores do Banco do Brasil em casos de privatização possa afetar a candidatura oficial com a força visada por seus divulgadores ou causar os impactos negativos acima mencionados. No entanto, é preciso lembrar que um boato, muitas vezes divulgado, adquire a força e o status de verdade. Não é necessário recuar demasiado no tempo. Há pouco mais de meio século era da maior importância para o nacional-socialismo alemão a figura de Joseph Goebbels, o homem da propaganda de Hitler, para quem uma mentira repetida mil vezes se transformava em verdade inconteste. É isso que ora enfrentamos no Brasil, a um custo imprevisível para toda a nossa sociedade.

Infelizmente, ao dar guarida a alguns desses boatos e notícias evidentemente plantados -- que hoje têm a força da globalização e a velocidade da luz -- podemos dar razão aos falsos profetas e às pitonisas que se abrigam por trás de sua divulgação ou da publicação de análises que constatamos ser precipitadas e inconseqüentes.

O que temos de fazer, de maneira decidida, é preservar nossa posição soberana e nossa imagem, transmitindo ao mundo, de forma afirmativa e insofismável, o avanço e o amadurecimento de nossas instituições. Somente assim nos tornaremos imunes a boatos negativos e perniciosos e enfatizaremos a força de nossa economia, que continuará, sem dúvida alguma, a ser um dos maiores pólos de atratividade para os investimentos de todo empreendimento multinacional.

Paulo de Albuquerque é economista e presidente do comitê de economia da Câmara Americana de Comércio de São Paulo (Amcham)

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Economia

EUA divulga payroll de agosto nesta sexta — e que pode ser crucial para o Fed

Senado marca sabatina de Galípolo para 8 de outubro, dia em que indicação será votada no plenário

Lula diz que acordo com Vale sobre desastres em Minas Gerais será resolvido até outubro

Alckmin descarta risco de faltar energia no Brasil, mas reconhece maior seca desde 1950

Mais na Exame