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Alinhamento Bolsonaro-Trump é forte, mas não automático, diz Bremmer

Diretor da consultoria de risco político Eurasia nota que Bolsonaro está se tornando mais pragmático em relação a China

Bremmer: "Trump não está dando colher de chá a aliados" (Richard Jopson/Divulgação)

João Pedro Caleiro

Publicado em 3 de dezembro de 2019 às 13h03.

Última atualização em 3 de dezembro de 2019 às 13h21.

São Paulo - O alinhamento entre as administrações de Donald Trump nos Estados Unidos e Jair Bolsonaro no Brasil é forte, mas não é automático, de acordo com Ian Bremmer, presidente da consultoria de risco político Eurasia.

Em e-mail para EXAME nesta terça-feira (03), ele comentou a surpresa com o anúncio ontem, pelo presidente norte-americano, de novas tarifas sobre aço e alumínio do Brasil e da Argentina.

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Assim como vários economistas, ele não vê sentido no argumento utilizado por Trump de que o Brasil está fazendo uma desvalorização voluntária da sua moeda para impulsionar suas exportações.

"O time econômico brasileiro não tem intenção de definir nenhuma taxa de câmbio, e se há algum potencial de pressão política, é provavelmente na direção oposta, já que uma moeda desvalorizada alimenta a inflação e já tem sido explorada pela oposição", diz Bremmer.

O valor do dólar em relação ao real subiu quase 6% em novembro e chegou a ser negociado em R$ 4,24, um recorde nominal. O real só não perdeu das moedas da Venezuela, Chile e Zâmbia em desvalorização para a moeda americana, segundo a Austin Rating.

"Mesmo neste cenário, ainda estamos muito distantes de uma intervenção ativa e manipulação do câmbio; a atuação do banco central tem sido restrita a suavizar a volatilidade cambial", completa.

O BC tem feito leilões pontuais no mercado para conter picos de alta. Nesta terça-feira, o dólar é negociado a R$ 4,20, puxado pelo resultado positivo do PIB do terceiro trimestre.

Alinhamento

Bremmer nota que a aproximação entre os dois líderes e países não significa que há uma política de alinhamento automático.

"O alinhamento pode ser atualmente muito forte entre Brasília e Washington, mas isso não o torna automático", diz ele, apesar de ser "evidente que Trump e Bolsonaro claramente gostam um do outro".

Prova disso seria a escolha dos EUA para a primeira viagem internacional de Bolsonaro, depois de sua visita ao Fórum Econômico Mundial.

Os dois presidentes também tem "orientações políticas similares e política externa concordante", incluindo em temas importantes para a região como Argentina e Venezuela, com ambos apoiando a legitimidade de Juan Guaidó, e no ceticismo em relação às mudanças climáticas

"Mas Bolsonaro se tornou muito mais pragmático em relação a China, e o Brasil agora parece disposto a permitir que a China opere no 5G, apesar da pressão. E Trump não está dando uma colher de chá a seus aliados na questão do comércio", diz Bremmer.

Para além da guerra de tarifas, o governo americano tem atuado para favorecer suas empresas e impedir que os chineses ganhem a dominância internacional da tecnologia 5G, acusando o país de utilizar o sistema como um canal para vigilância.

No entanto, os sinais da viagem de Bolsonaro para a China e seus encontros com executivos da Huawei sugerem que o governo brasileiro não deve bloquear essa participação no leilão previsto para 2020.

Bremmer concorda que outro ponto central é o contexto político americano, com um processo de impeachment em curso devido ao uso do cargo para obter informações sobre seu possível oponente democrata Joe Biden, assim como a cada vez maior proximidade das eleições de 2020.

"[Esses eventos] estão colocando Trump em uma clima de fazer acordos, e ele está certamente suavizando em relação a China, nessa mesma linha - recuando de datas de escalada, por exemplo", diz.

"Mas a política dos EUA continua volátil e muda diariamente de acordo com suas flutuações de humor, e a performance continuamente forte do mercado e da economia do país dá a ele um pouco mais de flexibilidade, do que de outra forma teria, para atuar com base nessas flutuações", completa.

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