Economia

Alemanha está vivendo de renda, alerta economista

Considerada a locomotiva europeia, a Alemanha vive de renda e baseia parte do poder econômico em três ilusões, alerta economista alemão


	Bandeira da Alemanha: ilusões ocultam sérias carências estruturais, segundo economista alemão
 (Lintao Zhang/Getty Images)

Bandeira da Alemanha: ilusões ocultam sérias carências estruturais, segundo economista alemão (Lintao Zhang/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 27 de novembro de 2014 às 09h30.

Berlim - A Alemanha, considerada a locomotiva europeia, "vive de renda" e baseia parte de seu atual poderio econômico em três ilusões que, no fundo, ocultam sérias carências estruturais, alerta um destacado economista alemão.

Marcel Fratzscher, presidente do Instituto Alemão para a Pesquisa Econômica (DIW), ataca em seu livro "A ilusão Alemanha" o que considera um complacente pensamento que domina entre as elites políticas e econômicas de seu país.

Ignorar a realidade, acrescenta este economista que trabalhou para o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco Mundial (BM), e encorajar a "euforia" que enxerga apenas o déficit zero, a força nas exportações e a baixa taxa de desemprego é "perigoso" e torna os alemães "arrogantes, cegos e indolentes".

Sua voz está agora ganhando eco, como se viu depois que o governo de Angela Merkel reduziu drasticamente suas previsões de crescimento para este ano e 2015 após meses de quedas nos principais indicadores econômicos.

A primeira ilusão que Fratzscher - desde agosto presidente de uma comissão de analistas do Ministério da Economia para impulsionar os investimentos - denuncia é crer que "o futuro econômico está garantido" porque Berlim, tanto com Merkel como com os anteriores chanceleres, tomou as decisões corretas.

Em seu livro, com o subtítulo "Por que superestimamos nossa economia e necessitamos da Europa", o presidente do DIW adverte que esta ideia é uma "visão errônea" que ignora "fragilidades fundamentais" da economia nacional e "não reconhece que a Alemanha está vivendo de suas reservas".

É certo, por exemplo, que o país desfruta atualmente de sua menor taxa de desemprego em décadas - combinada com um recorde de população com trabalho -, mas também procede a forte alta dos empregos de baixos salários - como os "mini-jobs" - e o congelamento dos salários nos últimos cinco anos.

A segunda ilusão, de acordo com ele, é a "crença" de que a Alemanha não precisa da Europa e que seu futuro está mais fora que dentro da União Europeia (UE) e da zona do euro.

Contra isso, Fratzscher argumenta que a Alemanha, em nível econômico, só tem possibilidades de manter seu atual papel global se permanecer dentro da UE, já que, por tamanho e perspectivas de crescimento, não teria muitas opções sozinha em um mundo globalizado.

A terceira e última ilusão que o economista aborda é a impressão de alguns de que a Europa "apenas corre atrás do dinheiro da Alemanha".

Fratzscher critica o pensamento de que tudo o que é benéfico para os 28 membros acaba prejudicando seu maior país em termos de população e Produto Interno Bruto (PIB), um argumento repetido em múltiplas ocasiões desde o início da crise.

"Nós alemães nos vemos frequentemente como vítimas da Europa e ignoramos as muitas vantagens que temos por estarmos integrados à UE, apesar de todos os custos e riscos que a Alemanha assumiu na crise", afirmou.

Com um discurso notavelmente pró-União Europeia, uma tese em baixa em seu país, Fratzscher encerra o livro defendendo uma reflexão sobre "o futuro comum" do continente, que inclui uma agenda de investimentos.

Acompanhe tudo sobre:AlemanhaEconomistasEuropaPaíses ricosPolítica monetária

Mais de Economia

Boletim Focus: mercado eleva estimativa de inflação para 2024 e 2025

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega