Economia

A incerteza sobre a libra, vital no "não" escocês

Incerteza sobre a libra numa Escócia separada do Reino Unido e o receio do setor financeiro foram fatores-chave na rejeição à independência


	Libra esterlina: "não" à união carregava também um "não" à circulação da libra na Escócia
 (AFP)

Libra esterlina: "não" à união carregava também um "não" à circulação da libra na Escócia (AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 19 de setembro de 2014 às 13h03.

Edimburgo - A incerteza sobre o uso da libra esterlina por uma Escócia independente e o receio do setor financeiro foram fatores-chave na rejeição de 55% dos escoceses à opção separatista.

O "não" à união carregava também um "não" à circulação da libra em ruas e comércios escoceses e o Banco da Inglaterra como pessoa que faz empréstimos de último recurso, segundo insistiram durante os últimos meses o governo e os políticos britânicos opostos à independência escocesa.

A união monetária da Escócia com o Reino Unido parecia viável há quase dois anos, quando Londres e Edimburgo acordaram a realização desta inédita consulta, mas, conforme se aproximava a data do referendo, os reguladores britânicos decidiram fechar totalmente essa torneira.

E, embora o nacionalista Alex Salmond, primeiro-ministro da Escócia, insistiu que ao Reino Unido interessava que a Escócia utilizasse a divisa britânica -e que em qualquer caso o novo país poderia adotar uma "esterlinização" semelhante à dolarização da economia panamenha-, a incerteza ficou maior.

A isso se uniram, sem dúvida, os arejados temores de muitas grandes empresas britânicas e escocesas, que majoritariamente expressaram seu receio à opção independentista de Salmond e apoiaram o argumento de Westminster de que seriam perdidos empregos e a economia sofreria caso houvesse uma secessão.

Da companhia petrolífera BP ao banco Royal Bank of Scotland, disposto a transferir sua sede desde a Escócia a Londres, o lado do "não" foi sendo reforçado, que finalmente se impôs com uma ampla margem de mais de dez pontos de vantagem.

O ponto de inflexão foi na segunda-feira, dez dias antes do referendo, quando a primeira pesquisa que deu vitória aos independentistas escoceses, provocando a maior queda em dez meses da divisa britânica, que até então tinha registrado altas firmes.

A pesquisa, divulgada no "Sunday Times" de Rupert Murdoch, pareceu despertar ao mundo político e financeiro britânicos que até então esperava com tranquilidade o resultado da consulta, dando por feito que o "não" ganharia por goleada.

A campanha unionista foi sempre percebida como recusa na Escócia frente ao otimismo e a alegria contagiosa dos partidários do "sim", decididos a iniciar um novo Estado com pautas distintas à austeridade imposta pelos "tories" desde Westminster.

Mas sua insistência de que Salmond não tinha "um plano B" se a libra fosse negada, e o conseguinte risco de um abismo de turbulências financeiras a curto prazo, acabaram se refletindo nas urnas quando a crise econômica ainda não ficou totalmente para trás.

As também incertezas sobre o futuro da Escócia em organismos internacionais como a União Europeia (UE) e a Otan, apesar dos nacionalistas escoceses insistirem sempre que um país com o PIB da Escócia estaria entre os 14 mais ricos do mundo e não poderia ser deixado fora das instituições.

"Qualquer que cria que um país com 1% da população da UE, mas com 20% da pesca, 25% da energia renovável e 60% das reservas de petróleo não será bem-vindo na UE não entende o processo pelo qual Europa aceita resultados democráticos", reforçou convencido Salmond na reta final da campanha.

O certo é que a maioria do eleitorado escocês, que votou também em porcentagem recorde de participação, apostou no referendo por seguir pertencendo ao Reino Unido, por isso que possa passar.

Acompanhe tudo sobre:CâmbioEscóciaEuropaLibra esterlinaPaíses ricosReferendoReino Unido

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor