Economia

83% diminuíram o uso do carro por causa do aumento no preço da gasolina

Nos últimos 12 meses, a gasolina subiu 32%, o etanol, 36%, e o diesel, 40%. Pesquisa EXAME/IDEIA ouviu brasileiros em todo o país

Posto de gasolina: quase metade da população percebeu nos combustíveis a maior alta de inflação. (Alexandre Battibugli/Exame)

Posto de gasolina: quase metade da população percebeu nos combustíveis a maior alta de inflação. (Alexandre Battibugli/Exame)

GG

Gilson Garrett Jr

Publicado em 18 de março de 2022 às 15h18.

Última atualização em 22 de março de 2022 às 15h48.

O aumento dos combustíveis em função da guerra na Ucrânia já provocou mudanças no comportamento dos consumidores brasileiros. Segundo a mais recente pesquisa EXAME/IDEIA, 83% dos entrevistados dizem que diminuíram o uso do carro ou da moto por causa do aumento da gasolina, do diesel e do etanol.

O último reajuste feito pela Petrobras nos combustíveis, na semana passada, elevou o preço da gasolina em 18,7%, e do diesel em 24,9%. Os valores se referem ao que foi alterado nas refinarias. No acumulado dos últimos 12 meses até fevereiro, o IPCA dos combustíveis, principal indicador de inflação do Brasil, teve uma alta de 33%. A gasolina subiu 32%, o etanol, 36%, e o diesel, 40%. Valores muito acima do índice geral, que está em 10,54%.

O aumento de preços é o maior problema que o país precisa enfrentar ainda em 2022, na opinião de 57% dos entrevistados da pesquisa. Logo depois vem o desemprego (19%), a pobreza (12%), e a violência (6%). “A inflação é um tema de preocupação dos brasileiros. O que vai dominar o debate deste ano de eleição é a economia”, diz Maurício Moura, fundador do IDEIA.

A sondagem ouviu 1.284 pessoas entre os dias 15 a 17 de março. As entrevistas foram feitas por telefone, com ligações tanto para fixos residenciais quanto para celulares. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa EXAME/IDEIA é um projeto que une EXAME e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública. Leia o relatório completo.

(Arte/Exame)

Os dados mostram que quanto menor a renda, maior o ajuste na maneira de se locomover para driblar a alta dos combustíveis. Entre os que ganham até um salário mínimo, 92% dizem que diminuíram o uso do carro ou da moto. Na parcela com poder aquisitivo mais alto, com renda superior a 5 salários mínimos, este número é de 74%.

“Os combustíveis têm efeito direto na vida do brasileiro. 80% dos entrevistados dizem que estão muito insatisfeitos com o preço praticado no país atualmente. Isso nos dá a dimensão da importância do tema. Em algumas regiões, como a Sul, esta insatisfação chega a 84%”, explica Maurício Moura.

A pesquisa ainda quis saber como o aumento dos combustíveis vai mudar a rotina dos brasileiros. Cerca de um terço dos entrevistados (30%) diz que vai usar mais o transporte público. Outra parcela, de 29%, afirma que vai andar mais a pé. “Isso coloca mais pressão sobre o sistema de transporte público nas principais cidades brasileiras. E os números deixam essa informação bastante eloquente”, diz Moura.

(Arte/Exame)

O diesel foi o sétimo item que mais subiu de preço no acumulado dos últimos 12 meses até fevereiro, entre os mais de 400 que compõem o IPCA. A etanol teve a décima quarta maior alta, e a gasolina a décima sétima. Os produtos que mais subiram foram a cenoura (83%), o café moído (61%), e o mamão (57%).

Apesar de os itens alimentícios representarem as maiores altas de inflação, para 46% a percepção é maior nos combustíveis. Os alimentos e bebidas somam 29%, seguido do gás de cozinha, com 15%.

(Arte/Exame)

Se o barril de petróleo diminuir de preço, a gasolina cai no Brasil?

Quando o preço da commodity no mercado internacional sobe, há um aumento na gasolina no posto mais perto de sua casa aqui no Brasil, já que a Petrobras tem uma política de cotação dos combustíveis atrelada ao que é praticado no exterior, em dólar. Seguindo esta lógica, quando há queda no mercado internacional, o preço é reajustado para baixo em solo brasileiro também?

A resposta é: não necessariamente, como explica André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos. “Apesar da forte queda do barril de petróleo nos últimos dias, basta lembrar que não faz pouco tempo este mesmo contrato do tipo brent [o mais comum] era cotado a US$ 139. Não devemos ver recuo de preços no país uma vez que há ainda alguma diferença entre os preços domésticos e externos”, diz.

O professor de economia da FGV Rio de Janeiro, Mauro Rochlin, lembra quem em outros momentos em que o barril do petróleo teve queda no mercado internacional houve uma diminuição no preço ao consumidor. Mas que, neste momento, o cenário é outro porque a Petrobras segurou aumentos que ocorreram depois do último reajuste, em janeiro.

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